Desde quando a pandemia do novo coronavírus foi decretada, em 11 de março de 2020, a rotina mudou para todos, de quem trabalha nos hospitais aos motoristas de transporte público.
Os funcionários da área da saúde tiveram que enfrentar de perto um inimigo invisível e perigoso para salvar as vidas de quem estava com complicações da nova doença. Até o momento (28/03/21), no Brasil, 312.299 vidas foram perdidas. Em Sergipe 3.432 pessoas faleceram por conta da covid-19, segundo dados do Consórcio de Veículos de Imprensa.
Os motoristas e cobradores de ônibus urbanos também enfrentam o vírus, porém, do lado de fora dos Hospitais. Dentro dos ônibus, se expondo diretamente à infecção, pelas ruas, para garantir o direito de ir e vir dos brasileiros, mesmo quando a Organização Mundial da Saúde pede para ficar em casa.
Médicos, enfermeiros, motoristas e cobradores são alguns dos diversos profissionais que continuam trabalhando para não deixar que o Brasil pare em meio a pandemia.
De acordo com pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), funcionários de empresas de transporte urbano têm 71% de chance de ser contaminados pelo vírus, ficando atrás apenas dos profissionais da saúde, como médicos e enfermeiros.
josé EVERTON, 45 anos
José Everton dos Santos não é motorista ou cobrador de ônibus e nem médico ou enfermeiro, mas utiliza o transporte público, quase que diariamente, para trabalhar na higienização de um Hospital. Todos os dias, Everton acorda pouco depois do nascer do sol para trabalhar no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe e, com exceção de uma pausa de uma hora para descansar e almoçar, só retorna para casa às 21h. Quando chega em casa, no bairro Conjunto Albano Franco, em Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, tenta aproveitar a família ao máximo “porque vou trabalhar e não sei vou voltar, eu não sei se vou ficar entubado numa cama daquela”.
Para Everton, o transporte público em Sergipe nunca foi bom e só piorou durante a pandemia com a redução da frota de ônibus. Antes da pandemia ele passava em média uma hora no ônibus para chegar ao trabalho e vice-versa, mas agora esse tempo aumentou para duas horas.
“Fecha comércio para não ter aglomeração, mas se você for no terminal de ônibus a partir das 5:30h da manhã você vai ver ônibus lotado... terminal superlotado... É um em cima do outro.”
Everton não foi contaminado pelo vírus, mas esse é o seu maior medo no momento. Ele diz que tenta fazer o máximo para não ser infectado pela covid-19 - utilizando os EPIs e “sempre lavando a mão e usando álcool gel”. A pandemia afetou, também a vida financeira da família, “tomo o maior cuidado porque se Deus me guarde, se eu pegar tô ruim… Minha esposa perdeu o emprego por conta da pandemia, se eu perder como vai ser minha vida?”, ressalta.
Dois dias após a entrevista, Everton foi afastado do trabalho por estar sob suspeita de infecção do novo coronavírus.
O que dizem os órgãos
De acordo com a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), estão sendo realizadas medidas protetivas contra a covid-19, como a disponibilização de álcool gel nas catracas de entrada dos terminais, campanhas educativas nos terminais e garagens para motoristas, cobradores, fiscais e usuários sobre o protocolo do transporte público e limpeza e higienização dos ônibus em balaústre, corrimão, assentos e outros itens em que haja contato dos passageiros, nas garagens e no intervalo de repouso quando os veículos estiverem em operação.
Em relação às aglomerações presentes nos terminais rodoviários e nos ônibus, a SMTT reconhece que há dificuldades para que o distanciamento social seja mantido da forma devida no interior dos veículos do transporte público, especialmente em horários de pico. Mas ressalta que esse é um desafio comum a todas as cidades brasileiras de médio e grande porte. E que, desde o início da pandemia, está tomando medidas para evitar aglomerações no serviço e monitorando a situação do transporte público em tempo integral para que as linhas com maior demanda tenham um reforço de veículos.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Aracaju (Setransp) destaca que para evitar as aglomerações, tanto nos terminais quanto nos ônibus, a operação do serviço de transporte em Aracaju e na Região Metropolitana, toda a frota de ônibus está em circulação nos horários de pico, atendendo às orientações dos órgãos gestores.
Ainda segundo o Setransp, o transporte público, como um serviço essencial, continua se somando com os demais serviços no combate à pandemia e contribuindo para com a mobilidade de todos, mesmo diante da dura queda de passageiros que marca 45% a menos e a necessidade de reforçar à população medidas de prevenção individuais para um bem coletivo.