À esquerda do Cristo Pescadores artesanais da Baía de Guanabara sofrem com pobreza e doenças

Fotos e texto Dario De Dominicis

A comunidade de pescadores artesanais da Baía de Guanabara teve a última esperança de ver salvo o habitat onde trabalha soterrada junto com a Rio 2016. A promessa feita pelo governo, como contrapartida pela realização dos Jogos Olímpicos, de despoluir 80% das águas da baía, fracassou. Atualmente o estado de degradação e abandono é crítico, e 8 mil pescadores estão pagando o preço. O massivo desenvolvimento industrial, a corrida do ouro negro no Brasil e a predadora urbanização da costa, sem um plano de saneamento, criaram uma pressão ambiental no território.

São despejadas na baía 17 toneladas por segundo de esgoto doméstico não tratado. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estimam que 7 toneladas de óleo são jogadas todos os dias na água, contendo 0,3 toneladas de metais pesados, como chumbo, cromo, zinco e mercúrio.

Muitas restrições foram impostas nas áreas de pesca, deixando os pescadores com apenas 12% do território para atuar. Algumas dessas limitações partem da Marinha e outras são consequência do intenso tráfego náutico. Mas a maioria foi imposta mesmo pela Petrobras e outras companhias de petróleo que se instalaram por lá. Elas colonizaram a baía não somente na superfície, mas também debaixo d’água, criando uma densa rede de tubulações de óleo e gás no fundo do mar.

As associações de pescadores relatam que as atividades caíram 90%, e algumas famílias que vivem da pesca já estão em nível de pobreza. Na mais populosa e industrializada parte interna da baía, o dano ao ecossistema é ainda maior, já que tanto o solo quanto os reservatórios de água submarina estão constantemente contaminados. Muitas das fábricas que operam nesta região já foram multadas e condenadas por crimes ambientais, mas continuam operando ilegalmente. Por fim, há muitos pequenos acidentes ambientais ocorrendo em barcos de pesca e instalações petroquímicas que nem são registrados.

Toda essa situação tem um impacto negativo na saúde dos pescadores. Eles estão expostos não apenas às doenças típicas da falta de higiene, como hepatite A, mas também sofrem com males na pele e nos olhos e infecções no sistema respiratório. E o pior: ninguém está investigando as consequências a longo prazo da exposição a substâncias químicas tóxicas. No futuro, será importante dar visibilidade a esse problema. Em junho de 2014, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) aprovou uma resolução internacional para apoiar a pescaria artesanal, destacando que a atividade representa mais de 90% da pesca extrativista. Proteger as pequenas comunidades pesqueiras também significa preservar a biodiversidade de seus habitats, garantindo o equilíbrio alimentar do planeta.

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Dario De Dominicis

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