Fotos de Cesar Fraga e texto de Paula Autran
Bisneto de uma beneficiária da Lei do Ventre Livre, o designer pós-graduado em Marketing e fotógrafo autodidata Cesar Fraga voltou de um ano sabático na África do Sul com uma ideia fixa na cabeça: queria associar o continente africano à nossa cultura e à nossa história. Assim surgiu o projeto de uma expedição por nove países - Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Togo, Benin, Angola, Moçambique e Nigéria. Os oito primeiros fizeram parte de uma viagem de 50 dias, em 2013. A Nigéria foi uma incursão à parte, por dez dias, em 2014. O foco eram “lugares de memória” da escravidão. Afinal, desses países saiu boa parte dos 11 milhões de homens e mulheres feitos cativos, quase metade deles no Brasil, ao longo de 350 anos.
"Sou afrodescendente. Em 1992, já havia visitado um campo de concentração alemão. Desta vez, fui nos meus campos de concentração", conta ele, que expõe os registros socioculturais ainda intactos daquele que é um dos episódios de deslocamento forçado mais violentos do mundo na mostra ‘Sankofa – Memória da Escravidão na África’, em cartaz até 22 de dezembro, na Caixa Cultural, no Centro do Rio. Sankofa é um mítico pássaro africano de duas cabeças, que simboliza voltar ao passado para dar outro sentido ao presente. "No interior de Gana, conversei com o guardião do Templo dos Axantes, que disse: 'Se você esqueceu alguma coisa no passado, seja o que for, você tem que voltar para buscar. Comecei a chorar, e ele também. Foi isso que eu fui fazer". A foto aí de cima é de um bairro fundado por brasileiros retornados, conhecido como Accra, em Gana.
Credits:
Fotos de Cesar Fraga