Foto e texto de Gustavo Stephan
Mais de um milhão de caminhoneiros perambulam diariamente pelas nossas estradas e cidades. O Brasil fez a opção, errada, é verdade, pelo transporte rodoviário para distribuir suas riquezas. Mas esses trabalhadores não têm culpa, e passam a maior parte do seu dia levando encomendas para todos os cantos do país. Uma vida dura, uma rotina pesada. Muitas vezes passam dias sem conseguir uma carga e correm riscos sérios para transportá-la. Ora pelos assaltos, ora pelos produtos perigosos que carregam, como gases e combustíveis.
As estradas são ruins. A infraestrutura de apoio, precária. A falta de fiscalização é imensa. Os caminhoneiros se comunicam por rádio transmissores, com uma linguagem própria. A cidade do Rio de janeiro, por exemplo, é chamada de “ Capital do Bang Bang”.
A vida familiar geralmente é conturbada. Muitos afirmam se sentir como estranhos quando chegam em casa. Ouvi o relato de um caminhoneiro que chegou a ficar quase 6 meses sem vem a família. Outro, de Minas, confessou que seu médico o proibira de dirigir. Ele corria o risco de ter um acidente vascular cerebral a qualquer momento, por conta da enorme quantidade de medicamentos que tomava para não dormir. A maneira de se sentir acolhido é voltar sempre aos pontos da estrada onde são bem recebidos.
Passei mais de 80 dias na estrada com os caminhoneiros. Primeiro fiz um livro: "Por Onde Andamos". Em comemoração aos 40 anos de uma transportadora. Depois uma série de reportagens para o Jornal O Globo. Cheguei a conclusão de que a paixão pelo caminhão é o que move esses homens. São poucas as mulheres na profissão. As prostitutas que frequentam os postos de gasolinas são mais amigas que amantes, um pouco esposa, um pouco mãe.
Para quem não está acostumado, a sensação é de tédio. Mas para os caminhoneiros é a realização de um sonho. O do menino que empurrava o seu brinquedo de madeira.