É uma rotina que a leva até à Escola Secundária Sebastião e Silva para recolher um apoio alimentar disponibilizado a quem está envolvido em serviços essenciais ou que, por motivos sanitários, não pode sair de casa.
É a situação de confinamento profilático que se vive na família que apoia, que a leva a fazer este percurso com os alimentos que, por motivos de segurança, terá de deixar na entrada da residência.
Além do telemóvel, o elevador é o único elo que liga Catarina Calado à família de Carlos Ruas.
Da sua janela, Carlos Ruas dá conta de uma experiência de vida familiar em que todos têm de permanecer em casa. Sem sintomas graves reconhece, "esta é uma ajuda que caiu do céu".
Carlos Ruas valoriza o trabalho destes voluntários, até porque ele próprio também já fez trabalho voluntário na paróquia.
"Nós até somos uns privilegiados e podemos despender do nosso tempo para ajudar de uma forma tão simples. Não podia ser de outra forma senão predispor-me a ajudar" diz Catarina Calado.
Pouco depois, é Margarida Frazão que entra no carro porque desta vez a "missão" é prestar auxílio à dona Irene.
Tão simples como ir a casa desta idosa, buscar a guia de levantamento das análises de que necessita para a sua consulta médica.
Margarida Frazão está na sua hora de almoço. Mas consegue gerir o tempo e nesta pausa, fazer voluntariado.
Assume que são gestos insignificantes mas que fazem toda a diferença para quem, pela idade, está limitado na sua mobilidade.
"Considero que a solidariedade faz parte do ser humano, ou devia fazer... ajudarmo-nos uns aos outros, acho que facilita a nossa vida e, como cristã, é um dever que tenho" refere Margarida Frazão.
Neste dia, o pedido de auxílio, levou Sónia Agostinho às compras.
Uma rotina a que está habituada, não fora mãe de adolescentes cheios de apetite porém, hoje as compras não são para a família.
A lista de compras chegou de Madalena Zeferino que há um ano evita sair à rua por precaução sanitária.
Com o pai também a necessitar de auxílio, Sónia Agostinho é muito sensível aos idosos mais vulneráveis.
Nestes gestos solidários, já tem trazido os filhos para que cresçam conscientes da fragilidade e do envolvimento que devemos ter para com os mais vulneráveis.
É claro que também tenho o tempo ocupado... mas considero essencial este cuidar do próximo, e passar para os mais novos esta sensibilidade" diz Sónia Agostinho.
Atualmente já existe um número sólido de voluntários que permite uma distribuição de tarefas sem gerar grande sobrecarga. Margarida Quelhas é coordenadora desta iniciativa e reconhece: "esta é a possibilidade de nós praticarmos a Palavra em si... executarmos ações de bem ao próximo, muito básicas, despojadas e muito imediatas".
Estes três "pequenos" gestos solidários aconteceram todos nas paróquias de Nova Oeiras e S. Julião da Barra, num espaço de tempo em que cada um, não ultrapassou a meia hora. A pausa do almoço, ou a simples organização do tempo, pode fazer toda a diferença para quem está impossibilitado de sair à rua ou a mobilidade física já não lho permita.
O grupo “Bons Vizinhos” nasceu no primeiro confinamento e revelou-se um ativo essencial que desafia a cuidar do próximo.
Credits:
Agência ECCLESIA/HM