“Tudo no mundo tem que ficar sabido, porque se não se acaba”. Foi assim que um antigo caranguejeiro no Delta do Rio Parnaíba me justificou as artimanhas dos caranguejos com o mangue e seus predadores humanos. Esses crustáceos raramente vivem em buracos retilíneos. Fazem voltas, escondem-se em cavernas de terra sob o solo – os rebancos – e até largam as patas quando se vêem terrivelmente ameaçados. Para os catadores, se isso não é prova da inteligência desses bichos, o que seria?
A esperteza dos caranguejos – expressa em suas práticas de habitação nos manguezais – requer dos caranguejeiros habilidades e movimentações específicas para capturá-los. Além disso, o próprio ato de adentrar o mangue envolve-os em relações que considerem a agência de viventes diversos – para além do caranguejo. As andanças e movimentações dos meus anfitriões, portanto, nos apresentam formas corporificadas de conhecer e interagir com outros mais que humanos.
A proposta deste ensaio é seguir diferentes momentos do caminhar de Querido, Luíz, Antônio João, Lelía e Zito, os protagonistas da narrativa visual. As imagens também fazem parte da minha pesquisa de doutoramento, realizada ao longo de doze meses de campo entre os anos de 2018 e 2020 em áreas adjacentes e internas à Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba. A presente investigação integra ainda um projeto de pesquisa mais amplo – “Ecologia política da pesca de crustáceos em manguezais no nordeste brasileiro” – realizado pela Fundação Joaquim Nabuco (MEC).
Ciclo de Ensaios Fotográficos
O ensaio exposto é um dos 13 trabalhos selecionados em 2020 para o Ciclo de Ensaios Fotográficos promovido pelo IRIS - Laboratório de Imagem e Registro de Interações Sociais.
Através de oficinas, ciclos de mostras, apoio a projetos de pesquisas, atividades de ensino e empréstimo de equipamentos a professores, pesquisadores e estudantes vinculados ao Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, o IRIS estimula a capacitação e a produção de conhecimento acerca da relação entre a prática antropológica e o uso da linguagem audiovisual e fotográfica em várias dimensões.
Se você faz parte da comunidade do DAN e deseja empregar os recursos técnicos e a linguagem fotográfica ou audiovisual em sua pesquisa, venha nos conhecer.