Encontro de culturas

Texto e fotos de Isabella Lanave

A paisagem tradicional do cerrado acompanha toda a viagem, de Brasília a Vila de São Jorge. Árvores secas e sem folhas, um grande gramado e ao final um paredão de pedras. De vez em quando surgia uma vila ou outra no meio dessa imensidão e São Jorge era uma delas.

A Vila de São Jorge faz parte do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. O destino era a Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, a entidade que realiza o XVI Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que tem sua primeira etapa com a realização da Aldeia Multiétnica, esse ano em sua décima edição.

São sete etnias participantes, Fulni-ô (PE), Krahô (TO), Dessana (AM), Yawalapiti (MT), Kayapó (PA), Guarani Mbya (SC) e Kariri Xocó (CE), formando uma grande aldeia durante uma semana. Além dos indígenas, viventes e voluntários participam da Aldeia, acampados todos num mesmo espaço.

“Não sabendo que era impossível foi lá e fez. Não tem um ditado assim?” É como Fernando Schiavini, indigenista e um dos idealizadores do evento junto com Juliano Jorge Basso, se refere a realização da Aldeia. Foi Fernando quem levou Juliano pela primeira vez em uma tribo e foi a partir dessas experiências que a vontade de trabalhar com povos indígenas começou.

A proposta da Aldeia é a interação entre grupos indígenas e não indígenas, através de rodas de prosa, oficinas, exibições de filmes e exposições. Cada dia é o dia de uma etnia. “Amanhã é o dia do Xingu, me senti orgulhoso”, conta Kamukaiaka Lapa, do Alto Xingu. Os índios demonstram o tempo todo como é importante que existam pessoas interessadas em conhecer e respeitar sua cultura.

O dia lá na Aldeia começa cedo. Perto das 4h da manhã o primeiro canto é ouvido. São os Krahô. “A gente canta na mesma hora que os galos começam a cantar, se eles podem por que a gente não?”, é o que dizem ao serem perguntados sobre os cantos. Quando o sol começa a nascer, todos já estão de pé e de banho – de rio – tomado.

As atividades começam perto das 10h, com rodas de conversa. No período da tarde, é quando a Aldeia, em meio às serras da Chapada dos Veadeiros e ao lado do rio São Miguel, fica aberta ao público em geral. É nessa hora que os artesanatos ficam expostos e as danças são realizadas. Mas quando o sol vai embora é que as relações se estreitam. Com violão e muita prosa em volta das fogueiras.

“É bom ouvir cantiga de outras tribos”, é o que diz Secundo Krahô, uma das lideranças do grupo. Para Towe Verissimo, a liderança dos Fulni-ô, a Aldeia Multiétnica é mais uma forma da cultura indígena nunca acabar, e que ainda traz a possibilidade de o homem branco conhecer realidades que talvez nunca estivessem ao seu alcance. “Você estudou, né? Você acha que na cidade vão dar emprego pra você ou pra minha filha?”, pergunta Towe, olhando bem dentro dos nossos olhos.

“Todos nós temos o mesmo sangue e formamos uma só família”, é o que seu Raimundo, pajé Dessana, diz. E é o sentimento que termina a semana na Aldeia. Uma semana pode ser pouco para entender a realidade que muitos povos indígenas passam todos os dias, mas é o suficiente para criar relações. Inclusive, uma das razões pelas quais os indígenas gostam de participar do evento é por ser uma das poucas oportunidades para conhecer os “parentes” distantes.

“Esse cachimbo a gente fuma pra espantar os espíritos ruins de perto da gente”, comenta um Kariri Xocó com um outro índio do Xingu, que responde, “Lá a gente não tem esse costume não, parente. Só o cacique é quem pode fumar”.

Credits:

Fotos e texto de Isabela Lanave

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