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Sorrisos de Bombaim

Em um sábado à tarde, em 2015, eu estava tomando um sorvete com uma amiga que eu não via há algum tempo. Como tínhamos o costume de emprestar livros que gostávamos de ler, ela deixou comigo o livro Sorrisos de Bombaim. Ela não tinha lido ainda. Disse que foi indicação de uma amiga.

Eu tinha acabado de comprar alguns livros que me pareciam muito mais interessantes, e a capa do que ela me entregou naquela tarde não me atraía nem um pouco. Eram crianças indianas sorridentes, sentadas numa calçada.

"A capa do que ela me entregou naquela tarde não me atraía nem um pouco."

Logo pensei: “Que coisa, não tenho tempo de ler esse livro, não vou nem abrir quando chegar em casa”. Depois de me despedir da minha amiga, peguei o ônibus e fui pra casa. No caminho eu resolvi abrir o livro. Não me lembro bem quantas páginas li naquele mesmo dia. Mas poucos dias depois eu já estava tão conectada àquela história que não conseguia pensar em outra coisa.

Sorrisos de Bombaim conta a história real de Jaume Sanllorente, um jornalista catalão que abandona Barcelona para se dedicar às crianças carentes de Bombaim, na Índia. É maravilhoso conhecer sua trajetória desde o início, quando, por acaso, ele resolve passar férias na Índia. A princípio, aquele lugar fétido e tumultuado não parecia nada agradável para passar férias, mas, ao final da viagem, a Índia se tornaria o lugar perfeito para passar a vida inteira.

"É maravilhoso conhecer sua trajetória desde o início, quando, por acaso, ele resolve passar férias na Índia."

Jaume conta sobre os encontros que teve com crianças carentes, exploradas e mutiladas, o contato que teve com um dos maiores complexos de favela do mundo, onde as pessoas vivem em meio ao lixo, e a exclusão acentuada por uma sociedade de castas. Mas também conta como os sorrisos das crianças nas calçadas de Bombaim puderam transformar a sua vida e torná-lo o fundador da organização de caridade “Sorrisos de Bombaim”. Aquilo me impressionou muito. Como um jovem bem-sucedido abandona a vida confortável para viver cuidando de crianças pobres?

Esse livro me fez perceber que, quanto mais abrimos os olhos para o ser humano, quanto mais tentamos compreendê-lo, mais perto ficamos do divino. Me fez perceber que felicidade individual é uma grande ilusão, um sonho frustrante do qual a maioria de nós, humanos, ainda não despertamos. Estamos todos interligados. A felicidade legítima só pode ser vivida quando acolhemos todos os seres. Especialmente os socialmente excluídos. Especialmente as crianças, seres tão frágeis que precisam de nós. E nós também precisamos delas.

"Quanto mais abrimos os olhos para o ser humano, quanto mais tentamos compreendê-lo, mais perto ficamos do divino."

Mas, acima de tudo, Jaume deixou uma metáfora que me ajudou a compreender meu anseio sobre as questões problemáticas do mundo. Costumamos nos tornar apáticos quando vemos tanta violência e dizemos “eu não posso mudar o mundo, sou tão pequeno, não posso fazer nada diante de senhores da guerra e da violência”. A metáfora de Jaume é a seguinte: “O mundo é como um grande muro cinza, que precisa ser colorido com belas tintas. Cada um de nós só tem um pequeno pincel e um pouco de tinta. É impossível alguém sozinho (a) pintar todo o muro. Mas se eu pintar o pedacinho do muro que me cabe, e se muitas pessoas fizerem o mesmo, um dia poderemos ver esse muro mais colorido do que cinza”. Eu acredito nisso. Acredito que há muitas pessoas que usam seu pincel e sua tinta. Sorrisos de Bombaim me fez ter a certeza de que, nesta breve existência, eu quero e preciso pintar a parte que me cabe desse grande muro.

Por Maria Luiza Matos, 21 anos.
Created By
Dente-De-Leão Criação de Projetos Literários
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Credits:

Created with images by Larm Rmah - "Happiness" • PDPics - "mumbai bombay india" • MI PHAM - "Cao Lãnh sandbox"

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