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A Lenda dos Cinco Povos A terra de Almar by Raul G. M. Silva

A Lenda dos Cinco Povos é a minha história, meu mundo, meu refugio nos dias escuros e meu lugar favorito nos dias claros. Nesse período de isolamento social devido ao Covid-19, tenho pensado em várias formas de contribuir, de ajudar de alguma forma a todos que estão enfrentando esse desafio. Muitas ideias vieram a minha mente, algumas como professor, outras como produtor de conteúdo, mas a que mais me agradou veio do escritor. Por essa razão, decidi disponibilizar meu livro, o meu universo, inteiramente grátis para todos no site do Mundi Ex-Libri. Toda semana, sempre as segundas-feiras, vocês encontrarão aqui um novo capítulo do primeiro livro dessa trilogia A terra de Almar. Basta acessar o site, clicar e ler. Só isso, mais nada! Espero do fundo do coração, que de alguma forma essa história possa te ajudar a passar pelos momentos difíceis, assim como me ajudou e ainda ajuda. Desejo a todos vocês uma boa leitura.

Raul G. M. Silva

Primeira Parte

Sobre histórias secretas

A sala secreta

Arthur Ghridff é um menino magro e loiro, de olhos castanhos e rosto pálido, que mora com a avó na pequena cidade de Flores, onde nada de especial acontece.

Dona Gigi, a avó de Arthur, é uma senhora muito bondosa, que está sempre pronta para ajudar, mesmo que seja um pouquinho atrapalhada, mas se você fizer algo de errado ela pode ser um tanto severa.

Os pais de Arthur estão sempre viajando pelo mundo, mas, sempre quando têm um tempinho, dão um pulinho no Brasil para visitar o filho. Não que isso fosse assim tão ruim, Arthur era o único de sua escola, que possuía vistos das embaixadas britânica, americana, escocesa, russa, espanhola, irlandesa, portuguesa e alemã o que garante que ele possa andar livremente por todos esses países.

Atualmente seus pais estão em algum lugar da Noruega, estudando os fiordes, pelo menos era isso que dizia o último cartão postal dos dois.

Arthur tem ainda três grandes amigos, na realidade eles são quase da família, Tom Hudson, Gui Williams e Hally McCann.

Tom é moreno, alto e magro, é o medroso da turma do primeiro ano A da Escola de Segundo Grau de Flores, seu nome verdadeiro é Tomas coisa que ele detesta, por isso todos o chamam de Tom.

Gui é alto e loiro, usa óculos quadrados o que lhe dá um ar meio “cê-dê-efe”, é fera em português e em xadrez o melhor da escola, mas em geral é um dos primeiros a tentar fugir das aulas de matemática, por essa razão Hally sempre está implicando com ele.

Hally tem cabelos curtos e pretos, é alta, mas não a mais alta dos quatro. Em outros termos é a garotinha esperta, a melhor em todas as matérias da escola, exceto talvez português, os estudantes a chamam de Srta. Sabe-tudo, o que ela agradece e recebe como um elogio.

O ponto de partida de nossa história é em uma quinta-feira monótona, no início da última aula do dia, na Escola de Segundo Grau de Flores, matemática, Gui, como sempre, acabara de tentar fugir e Hally agora estava ralhando com ele:

– Francamente quer ser expulso, ia ser a terceira vez esta semana, se você continuar assim, vou contar tudo para a tia Ágata.

– Você não faria isso?! – exclamou Gui.

– Ah, faria sim, e…

Um fato não mencionado, Hally e Gui são primos, por parte de pai e em segundo grau (a bisavó de Hally é avó de Gui).

Sem se importar com essa digamos “distração”, rotineira durante as aulas de matemática, Arthur se virou para Tom, que observava a cena dizendo:

– Olha, eu não sei aonde a Hally arruma tanto fôlego assim para gritar, em todo caso, fico feliz de não ser o primo dela.

– É ainda bem – concordou Arthur.

– Mas se ela continuar assim, a professora vai expulsá-la da sala e a última coisa que queremos é ver a Hally raivosa porque perdeu uma aula – disse Tom.

– Não, você vai ver, quando a Juliana entrar, ela para. – disse Arthur.

E foi dito e feito, quando a profª. Juliana Albuquerque entrou na sala, Hally (para o alivio da turma) parou de berrar, voltou a sua pose de estudante comportada e permaneceu assim até o meio da aula.

Foi nessa hora, que a pessoa mais odiada da escola apareceu. A vice-diretora Antônia Morgado.

Ela bateu na porta, meteu a cabeça dentro da sala e disse com sua voz melosa e arrastada:

– Com licença, profª. Juliana será que eu posso dar uma palavrinha com a Marryane?

Felizmente, Morgado também era detestada por todos, ou quase todos, os professores, pois todo mundo sabia que ela e o professor de português Gilberto, eram secretamente namorados, e como todos detestavam os dois, achavam também que formavam um casal perfeito.

Juliana nem ergueu os olhos do papel em que estava escrevendo ao responder:

– Tudo bem.

Antônia Morgado era a pior funcionária da escola, aparecia nas horas mais impróprias para infernizar a vida dos alunos. Os mesmos que a detestavam, detestavam também a sua filha Marryane, que se levantou com imponência e saiu andando com ar de superioridade para falar com a mãe.

Arthur, Tom, Gui e Hally, odiavam particularmente a turminha que andava com Marryane, Joane, Marco e Diego.

Quando, finalmente, o sinal tocou alguns minutos depois, anunciando o fim das aulas, todos puderam sair. Gui foi o primeiro a deixar a sala. A profª. Juliana se despediu com o lembrete de que estudassem para a prova do dia seguinte.

Arthur, Tom e Hally, tiveram a infelicidade de topar com a Marryane na porta, a garota se virou e disse para Hally:

– E, McCann, se minha mãe souber que você andou berrando durante a aula, ela vai providenciar pessoalmente para que seja expulsa. Sugiro que tome cuidado. – A turminha ficou rindo-se de Hally nas costas de Marryane.

Hally apressou o passo e desceu para o pátio.

É que os quatro haviam combinado de ir estudar na casa de Arthur, como sempre, Hally, porém, nunca fora, até aquele dia, pois ia de ônibus para casa. Hoje para a infelicidade da Gui resolvera ir de última hora.

Quando Arthur e Tom chegaram encontram a amiga muito entretida conversando com a bibliotecária, Érica. A chuva que durara todo aquele dia passara. Arthur e Tom caminharam pelo pátio lavado de chuva e encontraram Gui ao lado do portão.

– Por que “ela” tem que ir também? – perguntou Gui, indicando Hally com a cabeça.

– Você sabe que ela é a melhor em matemática da escola – disse Arthur.

– E vê se pega leve com ela – disse Tom.

– Por que eu deveria? – indagou Gui.

Tom e Arthur, então, contaram a gracinha da Marryane para com Hally.

– Vamos Gui – disse Arthur, quando Gui fez aquela cara de “bem-ela - mereceu”.

Gui não melhorou seu humor nem quando Arthur disse que ele era o melhor de português.

– Ah, está bem, se não tem outro jeito – disse depois de muita insistência.

É que os quatro haviam combinado de ir estudar na casa de Arthur, como sempre, Hally, porém, nunca fora, até aquele dia, pois ia de ônibus para casa. Hoje para a infelicidade da Gui resolvera ir de última hora.

Quando, finalmente, Hally terminou de conversar com a bibliotecária se reuniu a eles dizendo:

– Por que tem gente como a Morgado e a imunda da filha dela no mundo?

– Ah, Hally, não reclama – disse Gui, lançando a garota aquele tipo de olhar, que diz com todas as letras “você-bem-que-mereceu”.

– Não, estou dizendo que não sei disso – retrucou a garota aborrecida. – Só que hoje foi comigo, mas amanhã pode ser com qualquer um que não vá com a cara da mãe daquela sapa-russa.

– Eu não acredito no que eu acabei de ouvir! – exclamou Arthur.

– Nem eu! – disse Tom.

– Hally McCann, xingando alguém, em público! – disseram Arthur e Tom em uníssono.

– E não é só isso a mãe dela é uma…

Mas o que Morgado era, eles nunca souberam, Hally se calou de repente, tinham chegado ao Velho Casarão da Avenida das Rosas, o lugar dava arrepios.

Árvores velhas e secas ladeavam um caminho tortuoso, que subia colina acima, tinha um aspecto agourento, que fez com que os cabelos da nuca de Arthur ficassem em pé.

Todos os dias eles passavam pelo mesmo lugar, mas nunca se acostumavam com ele. Histórias sinistras eram contadas em Flores sobre esse lugar, e realmente muitas coisas estranhas aconteciam ali.

Ouviu-se então a buzina de um carro na rua de cima, que fez todos pularem, todos menos Tom, que deu um tremendo berro e caiu derrubando Arthur na sarjeta.

Foi ao se levantar, limpando a areia da calça jeans, que Arthur viu ao erguer os olhos para a casa em ruínas, um brilho verde intenso que vinha da mais alta e mais imunda janela, então como se percebesse o olhar do garoto o brilho sumiu.

– Vamos gente, vamos embora daqui! – disse Arthur de repente.

Os outros imediatamente o encararam, Arthur Ghridff com medo? Afinal ele, Arthur, sempre fora o mais corajoso dos quatro, sempre fora o primeiro a tomar decisões sérias e agora estava ali diante deles com medo.

Arthur logo percebeu que os outros não tinham visto o que ele vira.

Foi quando já estavam longe do casarão, que Hally perguntou:

– O que foi que houve Arthur?

Arthur parou de caminhar, os amigos pararam também, não respondeu imediatamente. O que será que os amigos pensariam se lhes contasse exatamente o que vira. Olhou de um rosto preocupado para outro e disse:

– Nada, não foi nada. Só estou com fome e além do mais temos uma prova amanhã não devíamos está estudando?

Ele não soube se os amigos haviam realmente acreditado. Principalmente por que Hally não parou de lhe lançar olhares de esguelha durante todo o tempo em que estiveram estudando.

Por fim, depois que os amigos tinham ido embora, Arthur, disse boa noite a avó e foi se deitar.

Árvores velhas e secas ladeavam um caminho tortuoso, que subia colina acima, tinha um aspecto agourento, que fez com que os cabelos da nuca de Arthur ficassem em pé.

Muito mais tarde em sua cama ainda sem conseguir dormir, ele pensava na estranha luz que vira. O que era aquela estranha luz verde? Será que os amigos não tinham visto realmente nada? E se viram? Por que não contaram? Será que fora por medo assim como ele?

Perguntas como essas não paravam de navegar por sua mente.

Em consequência disso acabou perdendo a hora embora tivesse acordado muito cedo. Por fim se despediu da avó e foi embora.

Dia de prova é igual em qualquer escola, todo mundo nervoso, uns, como Hally, que destruíra a dentadas duas canetas que Arthur lhe emprestara, alguns tentando se lembrar do que haviam estudado e outros tantos tentando enfiar alguma matéria de última hora na cabeça.

Chovia muito forte naquele dia, o vento açoitava as janelas, os relâmpagos riscavam o céu e os sucessivos trovões sacudiam a escola toda.

Os alunos do primeiro ano A aguardavam inquietos a chegada da professora.

Inquietos talvez fosse pouco para descrever, Hally, agora roía as unhas e mendigava uma caneta pela sala, Gui estava estudando para matemática, o que acontecia raramente, Tom parecia indiferente olhava vidrado a chuva cair lá fora através do vidro da janela, Arthur, por sua vez, ainda pensava na velha casa.

Juliana entrou na classe, carregada de livros e envelopes cinzentos e lacrados.

– Desculpem o atraso. – disse ela depositando os livros sobre a escrivaninha.

A classe parou o que estava fazendo, para prestar atenção.

– A prova começará dentro de cinco minutos – continuou a professora –, antes disso preciso fazer algumas mudanças. Vejamos! Ah, Marryane troque de lugar com o Tom.

Marryane, que estava conversando com seu grupinho, levantou a tampa da carteira para pegar seu material, se levantou com uma piscadela e veio se sentar, de mala e cuia, na carteira de Tom.

Arthur trocou de lugar com Laís na primeira fila e Gui com Pedro na terceira.

Enquanto se sentava, Arthur viu Marco levantar a tampa da carteira aonde Tom ia se sentar isso só podia dar em confusão.

E foi exatamente o que se sucedeu. Quando Tom se sentou e levantou a tampa do móvel para guardar a mochila, deu um tremendo pulo e derrubou a cadeira fazendo enorme estardalhaço.

Enfurecida, a professora foi até a carteira de Tom e de dentro dela retirou uma enorme aranha negra de borracha.

– Francamente, essa foi à brincadeira mais sem graça que já vi na vida. Quem foi o autor ou autora de tal criancice?

– Foi o Marco, professora! – disse Arthur se pondo de pé.

– Prove Arthur! – exclamou Marco.

– Silêncio! Um de cada vez! Como sabe que foi ele Arthur? – disse a professora.

– Eu o vi colocar alguma coisa na carteira – disse Arthur –, com certeza à aranha.

– Alguém mais viu isso? – tornou a professora.

O restante da sala ficou em silêncio, Hally e Gui se entreolharam e depois encontraram o olhar de Arthur.

Sabiam muito bem a razão daquele silêncio repentino, todo mundo sabia que a família de Marco conhecia muito bem a família de Marryane e tinham medo de Antônia Morgado. Todos menos Daiane, que se levantou e disse:

– Foi o Marco, eu também vi professora!

Marco lançou a Daiane um olhar mortífero, que a garota retribuiu com a mesma intensidade.

Arthur teve de admitir que Daiane era mesmo muito corajosa e muito bonita também, pensou de repente.

– Marco, por obséquio se retire e me aguarde na direção, preciso ter mesmo uma conversa muito séria com você! – disse a professora.

Marco saiu pisando forte.

A professora entregou as provas e se sentou em sua escrivaninha.

Quando o sinal tocou no fim da tarde, finalizando mais um dia de aula, ainda chovia forte. Arthur, Tom, Gui e Hally se sentaram em um banquinho no pátio coberto, para esperar a multidão de alunos que iam para a saída.

Marco passou com sua turminha de cara fechada, tinha pegado uma suspensão da diretora por sua brincadeirinha. Daiane passou logo em seguida, cumprimentou a todos e ainda acenou um tchauzinho para Arthur, que sorriu sem jeito.

– Parece que tem alguém apaixonado por aqui, não é Arthur? – riu Gui.

Arthur não respondeu ainda observava Daiane se afastar.

Gui deu-lhe um empurrão.

– Que… Ah, certo vamos! – disse Arthur atrapalhado.

– Ih, acorda! – disse Gui estalando os dedos diante de Arthur. – Vamos, acho que a maioria do pessoal já foi.

Os quatro pegaram um ônibus e durante quase todo o percurso para casa, Arthur só pensou em Daiane. Mas ao chegar ao semáforo, na Avenida das Rosas, seus pensamentos foram invadidos por outra coisa.

Ao olhar para a casa em ruínas, se lembrou da luz verde e teve uma repentina ideia para tirar essa história toda a limpo. E se virando para Tom, Hally e Gui, perguntou:

– Vocês podem passar a noite lá em casa hoje?

– Quê??? – indagaram os três ao mesmo tempo.

Depois de três ligações muito demoradas para os seus pais, da casa de Arthur, os três amigos foram liberados.

Depois de três ligações muito demoradas para os seus pais, da casa de Arthur, os três amigos foram liberados.

Dona Gigi, preparou duas camas de armar no quarto de Arthur, para Gui e Tom e colocou um colchão em seu quarto para Hally.

Depois do jantar Arthur levou os três para o quarto e disse:

– Lembram-se daquele dia em que vínhamos a pé e paramos em frente ao…

– Você também viu? – interrompeu-o Hally.

Arthur encarou os três.

– Então… então... Vocês viram a luz verde?

Nesse instante a chuva lá fora parou de cair e um vento forte abriu a janela do quarto.

– O que está havendo? – perguntou Tom.

– É isso que me pergunto – disse Arthur se levantando e indo fechar a janela. – Porque não me contaram nada?

– Ora, pela mesma razão, ué! – explodiu Gui. – Pensei que iam achar que eu tinha ficado maluco ou coisa parecida.

Os quatro se entreolharam, e então, Arthur disse:

– Tive uma ideia.

– Qual? – perguntou Hally.

– E se a gente fosse até a velha casa investigar?

– Boa! – disseram Gui e Hally.

– Tom – disse Arthur em tom se quem suplica.

– Ah, tá bem, sou minoria, seu chantagista. Mas como vamos chegar lá?

– Metade do plano já está armado, vocês já estão aqui? – disse Arthur – E nós três, podemos sair daqui com facilidade, mas o verdadeiro problema é como vamos tirar a Hally do quarto da vovó?

– Quanto a isso não se preocupem eu tenho um plano! – disse a garota em tom de superioridade.

Alguém bateu na porta, sobressaltando a todos e dona Gigi entrou no quarto.

– Boa noite, mas não acham que já estudaram demais? – perguntou.

– Apoiado, apoiado! – disse Tom.

– Bem Hally, estou lhe esperando.

Ela saiu fechando a porta ao passar.

– Não precisam se preocupar eu vou estar aqui. – cochichou a garota.

– As onze. – disse Arthur, no mesmo tom.

– Ok! – respondeu ela e saiu.

Ainda estava nublado às onze horas, Arthur, Tom e Gui aguardavam inquietos a chegada de Hally. As onze e meia ela chegou.

– Foi difícil, hein! – disse ela. – Só pude sair quando tive certeza de que sua avó estava dormindo, Arthur.

– Mas, ela viu você? – perguntou Arthur.

– Não… bem, acho que não.

– Acho melhor a gente ir – disse Gui consultando o relógio.

Os três garotos vestiram os casacos e calçaram os tênis, depois Arthur distribuiu lanternas e apanhou o celular na mesa de cabeceira.

– Venham, vamos!

Os quatro saíram andando em silêncio pelo corredor às escuras, viraram a esquerda e desceram as escadas. Já na sala de visitas, Arthur, destrancou a porta e os quatro saíram rua afora.

O vento gélido da noite agitou seus cabelos e roupas enquanto os quatro corriam pela rua abaixo e atravessavam a próxima para cruzar a praça. A grama estava orvalhada devido à forte chuva das últimas horas e vários postes de luz estavam apagados.

– Eu odeio essa escuridão – resmungava Tom baixinho, enquanto caminhava encolhido sob casaco.

A pequena cidade de Flores dormia serena sob o céu encoberto de nuvens que ocultavam a lua e as estrelas e um mendigo deitado em uma calçada da Avenida das Rosas também.

Arthur, Gui, Hally e Tom, pararam em frente ao casarão. Arthur abriu a boca engoliu em seco e tornou a fechá-la, depois encontrando a voz disse:

– Bem vamos!

Eles atravessaram um pequeno portão que rangia e entraram.

O vento agitava as copas agourentas das árvores, uma coruja piou ao longe, a lua estava encoberta pelas densas nuvens de chuva e, ao ver essa cena, Tom tremeu ainda mais. Mas não era o único a sentir medo, quando Arthur se lembrou do estranho brilho verde sentiu um arrepio percorrer seu corpo.

Os quatro se entreolharam mais uma vez e começaram a andar, ou melhor, Hally, Gui e Arthur começaram a arrastar Tom. Quando eles finalmente, pararam diante da casa, viram que o brilho verde retornara.

– Vocês viram? – perguntou Arthur.

Hally, Tom e Gui confirmaram. Sem aviso, Arthur correu e entrou na casa.

– Arthur, não deixa a gente aqui – berrou Hally, mas Arthur não ouviu.

Então Hally correu atrás de Arthur.

– Hally! – Gui a seguiu.

Tom se viu de repente sozinho, no escuro.

– Ah, não me deixem aqui. – E entrou também.

O lugar não precisava só de uma faxina e sim de um mutirão. Eles imediatamente foram obrigados a ligar as lanternas.

O lugar não precisava só de uma faxina e sim de um mutirão. Eles imediatamente foram obrigados a ligar as lanternas.

O tapete estava coberto por uma grande camada de poeira, o velho lustre, coberto de teias de aranha, estava prestes a cair e balançava precariamente no teto de madeira apodrecida pelo tempo. As cortinas pendiam sujas encobrindo a janela de caixilhos coberta de lama, os móveis estavam cobertos por panos encardidos, que com certeza (num passado muito distante), haviam sido brancos. Do outro lado, da sala havia uma escada que subia em caracol a perder de vista, e lá no alto, podiam ver o brilho verde.

Como se fossem uma só pessoa, os quatro começaram andar em direção à escada. A cada passo uma nuvenzinha de poeira se erguia do tapete. Subiram a escada sem ouvir o som dos próprios passos, devido à grossa camada de terra que caíra através dos tempos do teto imundo. Chegaram a um patamar onde a luz verde brilhava mais intensamente.

Com cuidado, Arthur, Tom, Gui e Hally se embrenharam pelo corredor cujo assoalho rangia a cada passo. A lua apareceu por um breve instante e iluminou através de uma janela na extremidade oposta à que estavam um grande vaso de porcelana cheio de teias de aranha.

Havia outra escada, à direita, no fim do corredor, eles subiram por ela. Arthur na frente, seguido por Tom, depois Hally e por fim Gui. Agora com as lanternas apagadas, pois a luz brilhava tanto, por entre as fendas em volta da porta de madeira podre, produzindo uma visão fantasmagórica, que não mais havia necessidade de usá-las.

Arthur respirou fundo, e reunindo toda a sua coragem segurou na maçaneta enferrujada, um relógio bateu meia noite em algum lugar lá embaixo, na mesma hora em que ele girou a maçaneta.

A luz imediatamente os cegou e foi tão forte, que acordou o mendigo que dormia na calçada. Tão forte, que todos os que estavam na rua naquele instante puderam vê-la brilhar imponente sobre toda Flores e durante muito tempo só se falava em um assunto na pequena cidade, o desaparecimento dos quatro amigos.

Arthur, Tom, Gui e Hally, porém, se viram caindo em um redemoinho de luzes até baterem em algo fofo e tudo escurecer.

Copyright © 2020 Raul G. M. Silva - Todos os direitos reservados.

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Raul Silva
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