No início do séc. XX, Albufeira era uma vila pitoresca localizada no centro litoral Algarvio. Banhada pelo oceano com uma praia protegida dos ventos, clima ameno, sossegada e mar calmo. As excelentes condições tornaram-na na praia balnear de banhos da vila. Nos arredores haviam vários locais para passear como as furnas e os passeios pelas falésias que podiam ser feitos tanto por terra como por mar. As noites eram quentes e prestavam-se a reuniões e encontros dos banhistas na esplanada Frutuoso da Silva. A época balnear decorria entre o período de 15 de agosto a outubro.
Durante a época balnear o Grémio de Albufeira, tinha um salão com palco onde realizavam bailes, concertos, saraus e um pianista permanente. A comissão das festas e propaganda tinha sede no Grémio de Albufeira que organizavam as festas na Praia do Peneco, Praia dos Pescadores e na Esplanada Frutuoso da Silva como: regatas, jogos, música, quermesses entre outras diversões.
A Vila de Albufeira passou a ser muito procurada, na época balnear, por muitas famílias não só de diversos sítios do Algarve como do país, com o intuito de disfrutar da praia, festas e convívio.
Na década de 30 sentia-se uma crise económica devido à falta de trabalho. Para ultrapassar esta crise a Comissão de Iniciativa e Turismo de Albufeira, fundada em 1929, criou e promoveu o programa “Às festas da Vila” com o objetivo de criar mais iniciativas que atraísse mais visitantes à vila. A esta iniciativa tinha o apoio da câmara que contribuía com um subsídio de 250 escudos por época.
A iniciativa foi divulgada em vários jornais regionais como no Correio do Sul, de 3 de setembro:
”Havia anos que não víamos a praia de Albufeira cuja beleza é, sem contestação, a que mais admiro no Algarve.
Vim ao acaso saciar aquelas saudades de tempos idos em que esta linda praia foi a rainha das praias algarvias. Não tinha, confesso esperanças de a ver ressurgir da letargia em que há poucos anos a encontrei, e talvez por isso, o meu espanto foi indescritível.
Como se metamorfoseou assim Albufeira?! Como de um momento para o outro o panorama da praia se alterou. Solicitamente um membro da Comissão de Iniciativa e Turismo se pôs a minha disposição, números especiais de propaganda, uma planta em que melhoramentos realizados e a realizar nos foram apontados, lista das casas de aluguer aos banhistas, condições económicas e toda a espécie de indicações uteis passaram entre os meus olhos.
(…) Todas às quintas-feiras e domingos a Filarmónica da Terra dá os seus concertos na praia e nunca vimos tanta gente na praia.
Nos dias 9,10 e 11 do corrente, festas deslumbrantes se efetuarão com gincana de automóveis, tiro aos pratos, “basquete-bal”, natação e um vistoso fogo-de-artifício no último dia das festas que a comissão deseja surpreender os visitantes.
Ficamos encantados com o entusiasmo que em todos vimos bem patente e estamos convencidos que a Praia de Albufeira marcará sem rival na presente época”.
O programa do último dia começava às 15h00 com tiro aos pratos, seguido de provas de natação estilo livre, regatas com equipas femininas, corridas de agulhas, corridas de ovos, e outros jogos.
No programa das festas à noite havia o arraial minhoto, o concerto da banda Filarmónica de Albufeira e a Banda de Minerva de Loulé, encerrando o programa com fogo-de-artifício.
A primeira edição de Festas da Vila, organizadas pela comissão de iniciativa criativa, foi um sucesso o que permitiu repetir-se nos anos seguintes com o mesmo formato de programa.
As festas da vila passaram a ser o melhor cartaz de propaganda turística da época balnear da vila.
Até 1936 as festas foram organizadas pela Comissão de Iniciativa e Turismo tendo sempre um aumento de visitantes, de ano para ano, na época de verão. Em 1938 às festas passaram a ser organizadas pela Comissão Municipal de Turismo.
As festas passaram a realizar-se no primeiro fim de semana de setembro, sem datas certas, mas sempre marcadas para sábado, domingo e segunda. Estas festas atraíam pessoas de vários sítios do país.
As festas ocorriam na praia por isso as entradas para as praias eram feitas através do túnel. A cerca do Rossio, praia dos pescadores e esplanada Frutuoso da Silva eram fechadas. O custo da entrada para passar o dia na praia e assistir ou participar na festa tinha o custo de 10 tostões.
O programa começava ao início da tarde com jogos variados, natação, corrida do saco, competições de barco e acabava a noite com o fogo-de-artifício.
O percurso da prova de natação e de barcos realizava-se desde o Passeio Marginal da praia do Peneco até a praia do Inatel, paralelamente ocorria a prova dos barcos à vela. A prova do pau ensebado realizava-se no mar e em terra, o vencedor da prova tinha um prémio de 50 escudos e o da terra recebia um bacalhau. Também havia o jogo do porco e do pato ensebado, onde os animais eram untados de sebo. O prémio para o vencedor era o próprio animal.
A partir dos anos 40 introduziram novos jogos ao programa, como o boxe e no último dia das festas, ao entardecer à beira-mar, ultimava-se o preparativo para o espetáculo pirotécnico.
Durante os três dias das festas da vila, toda a zona que circundava a praia era iluminada. Na Esplanada Frutuosa da Silva, Passeio Marginal e Esplanada do Túnel eram colocadas as barracas do chá, a quermesse e tocavam as bandas de música.
No domingo realizavam-se a Festas Religiosas dedicadas a S. Luís e à Nossa Senhora das Dores. A missa decorria na parte da manhã na Igreja Matriz e à tarde a procissão percorria as principais ruas da vila.