Loading

Família cultiva mais de 2.500 espécies de frutas raras e investe na produção de cosméticos Propriedade localizada em Rio Claro, interior de São Paulo, tem a maior coleção de árvores frutíferas da América Latina

Reportagem, fotos e vídeos: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo

02/02/2018 - RIO CLARO - Uvaia, sapoti, pitáia… Essas palavras te dizem alguma coisa? Acredite: são nomes de frutas. Frutas raras. Mas se depender da família Sartori, de Rio Claro, no interior de São Paulo, espécies como essas vão ficar cada vez mais famosas no Brasil e no mundo. Na zona rural da cidade, eles cultivam mais de 2.500 árvores frutíferas diferentes e passaram a investir na produção de cosméticos com a polpa das variedades plantadas.

Os números chamam atenção: são 180 espécies de frutas cítricas, 110 de manga e 90 de bananas. Dos mais variados tipos possíveis. Entre as frutas vindas dos cinco continentes, tem manga de quase um quilo, abacate preto e até banana listrada.

+ Com investimentos em inovação, Brasil tornou-se o principal fornecedor mundial de cafés diferenciados

A pitáia (Hylocereus lemairei), fruta originária do México, é uma das escolhidas pela família Sartori para virar cosmético. A variedade vermelha é rica em vitamina A e possui licopeno e antocianina, poderosos antioxidantes. Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo

Tudo começou há mais de 20 anos, quando um tratorista derrubou sem querer o pé de uma tangerina preferida do médico Sergio Sartori, o dono da Estância das Frutas. Então, Sergio fez uma grande busca por viveiros, institutos, associações e centros de pesquisa do Estado de São Paulo para encontrar aquela variedade derrubada.

+ De Olho no Campo vence Prêmio Café Brasil de Jornalismo

Não deu certo, mas no caminho descobriu algo que o impressionou: a imensa diversidade de frutas raras existentes. Sergio decidiu então cultivar essas frutas diferentes para contribuir com sua preservação, promoção e divulgação. E como médico também passou a estudar os benefícios das frutas para a saúde e hoje é autor do livro “Frutas e Saúde”, além de outros três, voltados para a fruticultura.

“O objetivo é fazer com que as frutas raras se tornem cada vez MAIS fáceis de serem encontradas”, diz SErgio SaRtori, que fundou em 2008 a Associação Brasileira de Frutas Raras (ABFR), instituição que promove eventos ao redor do País para promover as espécies pouco conhecidas.
O médico Sergio Sartori, em sua propriedade, em Rio Claro, segurando uma pitáia. Ele quer que a cidade seja conhecida nacionalmente como a capital das frutas. Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo

Ele atua como médico durante a semana e, quando pode, vai para a Estância das Frutas cuidar das plantas. O colecionador quer que cada vez mais pessoas saibam dos benefícios oferecidos pelas frutas. “Alimentar-se bem aumenta a expectativa de vida. Temos que mostrar o poder preventivo e curativo que as frutas possuem”, comenta.

Como cuidar dessas plantas?

Segundo ele, não há grandes diferenças no trato com as plantas raras. É necessário fazer a adubação, corrigir a acidez do solo e irrigar, como com outras variedades. Mas ressalta que cada uma tem sua particularidade. “Elas têm suas próprias necessidades, então vamos aprendendo com o tempo”, diz.

Desde que começou, no final da década de 1990, Sergio passou a ir adquirindo, plantando e adaptando variedades frutíferas com as quais aumenta sua coleção, localizada a a 170 quilômetros de São Paulo.

Diferentes variedades de manga chamam atenção na Estância das Frutas. Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo

A próxima meta é provar que a Estância das Frutas possui a maior coleção diversificada de frutas raras do mundo. A família está em contato com o Guiness Book (Livro dos Recordes) para conseguir obter o título. "Na América Latina, sabemos que não há nada parecido. Agora queremos o recorde de maior coleção do planeta", diz.

Capital das frutas

Sergio quer também que a cidade de Rio Claro, com cerca de 180 mil habitantes, seja conhecida como a detentora da maior variedade de frutas do País. A Estância fez uma parceria com a prefeitura para realizar o plantio das variedades nas ruas da cidade. Uma escola da cidade vai produzir mudas e ser referência para a região.

Na sequência, ameixa-do-mato (Ximenia americana), achaicharú (Rheedia laterifolia), figo-da-índia (Ficus carica) e mamei (Pouteria sapota). Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo
A Estância das Frutas "muda de cor" conforme as estações do ano. Nesta montagem, destaque para algumas variedades que não estavam com frutas no dia da visita à propriedade. Na sequência, canistel (Pouteria campechiana), ubaia (Eugenia patrisii), dovyalis (Dovyalis hebecarpa) e uvaia (Eugenia pyfiromis). Fotos: Sabrina Sartori/Estância das Frutas

“Se a minha propriedade é referência em plantas frutíferas, por que a minha cidade não pode ser também?”, questiona. Sobre planos para o futuro, Sergio diz que a coleção é viva, cheia de surpresas e prazeres, e que os objetivos vão sendo alcançados e descobertos dia após dia. "Aprendi que quem convive com as frutas e as flores entende melhor os milagres da natureza", reflete.

+ De Olho no Campo vence Prêmio de Jornalismo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas

Pesquisa

A Estância das Frutas faz também parcerias com universidades para desenvolver pesquisas e ampliar o conhecimento sobre as frutas raras. Entre os objetivos está melhorar o sabor das frutas, encontrar melhores técnicas para produzir mudas e identificar os melhores cuidados pós-colheita. “Esses projetos possibilitam o acesso mais rápido às frutas até então pouco conhecidas”, afirma Sergio.

+ Editor do De Olho no Campo é único brasileiro selecionado para cobrir conferência na Itália

O professor Angelo Jacomino, do Departamento de Fruticultura da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), diz que o Brasil tem uma enorme diversidade de frutas que poderiam diversificar a renda dos produtores rurais, mas falta conhecimento sobre essas plantas.

Sapoti (Manilkara zapota), da América Central, foi uma das frutas escolhidas para produzir cosméticos. A fruta tem muita vitamina do complexo B e E. Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo

Jacomino e seu grupo de pesquisa estão conduzindo uma grande investigação sobre frutas nativas da Mata Atlântica como uvaia, cambuci, cereja-do-Rio-Grande e grumixama. Segundo ele, as frutas raras não são exploradas economicamente devido à carência de informação e à falta de conhecimento sobre conservação, multiplicação e processamento.

+ Com leve retomada da economia, transporte aéreo de cargas dá sinais de melhora em 2017

“Apesar de pouco estudadas, essas frutas apresentam grande potencial e poderiam ser lucrativas, principalmente para pequenos produtores”, diz o especialista. O trabalho tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e busca analisar aspectos sensoriais, físicos e químicos das frutas. “Tudo com o intuito de viabilizar a exploração comercial”, explica Jacomino.

De hobby a negócio

Se antes a produção raramente saía da propriedade, em 2013 a filha única de Sergio, Sabrina Sartori, decidiu mudar isso. Ela percebeu que poderia transformar em negócio a enorme variedade de frutas - com seus benefícios e compostos químicos. A solução era produzir cosméticos, aproveitar as frutas, gerar lucro e reduzir desperdícios. Mas a decisão foi difícil: continuar no emprego em uma multinacional ou largar tudo para criar sua própria empresa?

+ Senepol: revolução na pecuária brasileira

Escolheu a segunda opção. “Foi a maneira que encontrei de financiar a preservação das frutas e dar continuidade no trabalho dos meus pais”, explica Sabrina, que especializou-se em cosmetologia, ramo da ciência que pesquisa o desenvolvimento, os processos e a elaboração de cosméticos, do laboratório ao mercado.

Sabrina Sartori abandonou o emprego em uma multinacional para se dedicar à própria companhia, o Empório Sartori. Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo

Para elaborar os cosméticos, o primeiro passo foi analisar quais frutas tinham mais potencial. Sabrina levou em conta o perfume e as propriedades químicas de cada variedade. As escolhidas foram a pitáia, originária do México; o sapoti, da América Latina; e a uvaia, nativa do Brasil. Então, após dezenas de testes e análises, passou a produzir sabonetes, cremes e loções com a polpa e a essência das frutas. Assim surgia o Empório Sartori.

Os produtos foram lançados em abril de 2013 e, no final do ano, já eram vendidos on-line. Passados cinco anos, a empresa decolou e ganhou espaço em importantes pontos de venda em São Paulo, como o mercado St. Marché e o Eataly, ambos voltados para a classe alta.

Para o futuro, pensam em produzir shampoos, condicionadores, perfumes, óleos, maquiagem e usar outras frutas raras. “O trabalho está muito empolgante, principalmente porque estamos ocupando espaços importantes, lado a lado com companhias muito conhecidas”, diz Sabrina, sobre a participação nas lojas paulistanas. O turismo rural também está na mira. "Queremos construir um museu para deixar vivo o legado de todo esse trabalho", explica Sabrina.

Credits:

Paulo Palma Beraldo

Report Abuse

If you feel that this video content violates the Adobe Terms of Use, you may report this content by filling out this quick form.

To report a Copyright Violation, please follow Section 17 in the Terms of Use.