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Mundo das Finanças Seja: “bom servo e água doce”! POR Cónego Roberto Rosmaninho

O Papa Francisco lançou o tema das finanças para a oração e reflexão do Maio de 2021 dada a preocupação que continuamente tem manifestado com esta realidade, sentindo que se trata de um desafio continuo e global para a humanidade. A pobreza e a questão ecológica têm sido pilares para a reflexão sobre a economia e as finanças, interpelando para que se encontro um novo modelo capaz de responder aos desafios da pobreza e do ambiente.

É possível a vida neste mundo sem economia e sem finanças? Sim, na teoria, mas na prática – dada a complexidade da nossa vida material, não. Cabe-nos ter a capacidade e vontade para conseguir utilizar este instrumento de um modo mais sadio.

A cultura popular detém um saber que importa repescá-lo. Há dois ditados populares que ajudam a situar bastante bem o equilíbrio que deve existir nestas realidades económicas: “Um bom servo, mas um mau senhor” e “Matar a sede com água salgada”.

O dinheiro é “um bom servo, mas um mau senhor”. O dinheiro, com tudo que ele implica, é um excelente servo quando está ao serviço do ser humano, do bem comum, do investimento sadio… Contudo, quando o dinheiro se torna senhor do coração do ser humano, torna-se péssimo, porque nos escravizamos a ele… tudo passa a girar em torno dele… fica um deus cioso de tudo resto. Todos valores passam a ser secundarizados em função de ter mais, de conseguir mais… ainda que tenha de passar por cima dos outros, de enganar os outros…

Não é por acaso que Jesus aflora esta questão com termos firmes e duros: “Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração(…).Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 19-22). “«Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no Reino do Céu. Repito-vos: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu.»” (Mt 19, 23-25).

Poderemos ficar estupefactos, mas manifesta com clareza como aquele que se deixa escravizar pelos bens materiais, segue um caminho errado.

Esta escravização é traduzida pelo outro ditado popular: “matar a sede com água salgada”. Ao bebermos água salgada para matar a sede, acontecerá que quanta mais se bebe, mais sede se tem. Aqui e situa toda a ganância feroz que não olha a meios para poder juntar mais e mais, sem olhar a princípios, sem ver quanto faz sofrer os outros. Vejamos o que aconteceu com toda a especulação financeira: enorme crise económica e financeira.

É contra estas situações que o Papa Francisco despoletou uma reflexão global para que outros modelos possam ocorrer perante as enormes e crescentes desigualdades sociais, com um fosso crescente entre ridos e pobres. Desigualdades que a Pandemia da COVID 19 veio agravar, desigualdades que expõe mais os mais pobres às mudanças climatéricas.

Vários são os relatórios que nos falam destas desigualdades. Por exemplo, em 2020, Dois mil bilionários têm mais riqueza do que 60% da população mundial (4,6 mil milhões de pessoas), diz relatório da Oxfam; ou, os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza do que todas as mulheres que vivem em África. Um por cento dos mais ricos do mundo detêm mais do dobro da riqueza de 6,9 mil milhões de pessoas

A iniciativa "Economia de Francisco" lança o desafio aos jovens economistas e empresários para promover um processo de mudança global.

Refere o Papa Francisco: "Enquanto a economia real, a que cria emprego, está em crise, com tanta gente sem trabalho, os mercados financeiros nunca estiveram tão inflacionados como agora". “As finanças, se não estiverem regulamentadas, tornam-se pura especulação reforçada por algumas políticas monetárias. Essa situação é insustentável. É perigosa". Está-se perante "uma nova cultura a serviço dos mais poderosos", na qual "os pobres são os que sempre perdem".

“Para evitar que os pobres voltem a pagar as consequências, a especulação financeira deve ser estritamente regulamentada. Especulação. Quero sublinhar esse termo. Que as finanças sejam instrumentos de serviço, instrumentos para servir as pessoas e cuidar da casa comum!”

Aponta a urgência de se "pôr em andamento um processo de mudança global para praticar uma economia diferente, mais justa, inclusiva, sustentável, que não deixe ninguém para trás". "Uma economia diferente, que faça as pessoas viverem e não mate, inclua e não exclua, humanize e não desumanize, cuide da criação e não a deprede".

A economia tem um princípio estruturante na sua base: “Os bens matérias (e serviços) são escassos”, não chegam para tudo. Impõe-se que sejam geridos com critério e solidariedade para que possam chegar a todos, já que não darão para tudo que se possa ambicionar.

Cónego Roberto Rosmaninho
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Paróquia de Fafe Santa Eulália
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