Produção de inimigos naturais
Em 2014, inicialmente com apoio do Proalminas/Fundo Algominas, a Associação Mineira de Produtores de Algodão – AMIPA, começou o projeto de criação de uma Biofábrica, com foco no Trichogramma pretiosum, um parasitoide de lepidópteros.
No ano seguinte, o projeto recebeu o suporte técnico e de recursos do Instituto Brasileiro de Algodão – IBA, para a estruturação e manutenção da Biofábrica, hoje instalada no edifício sede da AMIPA em Uberlândia-MG.
A utilização do Trichogramma nas áreas de plantio conseguiu diminuir consideravelmente o uso de produtos químicos na lavoura, não apenas na cultura do algodão, mas também, por exemplo, na produção de tomate.
O uso de controle biológico traz consigo a palavra sustentabilidade, aqui agregada em diferentes lados, tanto na questão ambiental, devido à substituição dos defensivos químicos e promoção do equilíbrio biológico nas lavouras, como também na permanência dos produtores na atividade da cotonicultura e na geração de empregos nas biofábricas, ou seja, na própria sustentabilidade da cultura.
O controle biológico, neste caso, de uma vespa
O Trichogramma pretiosum é um parasitoide de ovos de lepidópteros, entre eles:
- Helicoperva armigera;
- Spodoptera frugiperda; e
- Heliothis virescen.
A atuação da vespa é resultado da necessidade de perpetuação da espécie, ou seja, de reprodução. Independente da espécie de Trichogramma, a fêmea, após ser fecundada pelo macho, voa pela lavoura a procura de ovos de lepidópteros. Ao encontrá-los, deposita os seus ovos no interior dos ovos das pragas hospedeiras, parasitando-os.
Ou seja, o controle biológico é o uso de um organismo, pode ser um predador, um parasita, um parasitoide ou um patógeno, que ataca uma praga que esteja atingindo a plantação. É a introdução de um inimigo natural do verdadeiro inimigo da cultura.
Além de uma solução ecologicamente correta, essa prática é uma alternativa para o lado econômico. Os gastos com defensivos químicos aumenta a cada ano. Apenas com pesticidas, o consumo nacional subiu 60% na última década.
O diretor executivo da Associação, Lício Pena, conta o caminho traçado, e literalmente voado, desde a ideia de montar a fábrica, até as formas de lançamento na lavoura:
A evolução do lançamento por cartela para o lançamento a granel pode ser vista no vídeo a seguir. No caso a granel, o controle da quantidade de ovos a serem lançados é realizado pela velocidade de giro do dispenser, adaptado no drone.
Primeiros resultados chamam atenção dos associados
O presidente da AMIPA, Inácio Urban, comenta a importância da Biofábrica e a produção de Trichogramma para os produtores mineiros.
A escolha do Trichogramma
A expansão da Helicoverpa armigera na região do cerrado, na safra 2012/2013, provocou prejuízos para todo o agronegócio, chegando na casa de R$ 2,5 bilhões apenas com a cotonicultura.
A escolha da produção de Trichogramma pretiosum aconteceu pela eficiência de controle de lepidópteros e do domínio da tecnologia pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA.
Inicialmente a AMIPA recebeu informações do consultor Drº Eleuzio Curvelo Freire e do entomologista Drº Ivan Cruz, profissional da EMBRAPA Milho e Sorgo, de Sete Lagoas, também em Minas Gerais.
A vasta literatura sobre o tema também facilitou a decisão. O Trichogramma é o parasitoide mais estudado do mundo. Pesquisas comportamentais do inseto, realizadas por entomologistas, comprovam a voracidade de predação de ovos no ambiente natural.
As vespas parasitam os ovos da mariposa antes da eclosão deles e dos nascimentos das lagartas. Desta maneira, a praga é controlada antes que qualquer dano tenha atingido a cultura.
O IBA destaca o planejamento e a inovação
O diretor técnico do IBA, Gustavo Prado, comenta da importância da Biofábrica da AMIPA no contexto geral da cotonicultura brasileira
A Biofábrica da AMIPA foi uma novidade entre os projetos de fitossanidade, como foi recebido pelo IBA?
Gustavo Prado: Primamos sempre por projetos capazes de gerar transformação no setor cotonicultor, projetos com características inovadoras que possam ser replicadas ou complementadas por outras associações.
A construção e implantação da Biofábrica, com toda a certeza, foi um grande projeto inovador no setor, pois o controle biológico de pragas propicia equilíbrio ambiental, redução de custos ao produtor e emprego direto na produção, que ainda é manual.
Para que os resultados gerem esses benefícios, o investimento na Biofábrica precisa ser bem planejado. A AMIPA teve todo o cuidado necessário, desde o planejamento do projeto, elaborando um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE), planejando bem as atividades, constituindo uma equipe de excelência, até a execução, monitorando permanentemente a distribuição de ovos dos predadores naturais e registrando os seus resultados.
Por isso, as inovações nesse projeto não pararam por aqui. Além do uso de drone para soltura de ovos do Trichogramma pretiosum, a Associada está planejando ampliar os parasitários, o que deverá trazer muito mais benefícios para os produtores de algodão e para o meio ambiente.
É possível visualizar uma parceria com outros estados para o uso do produto da biofábrica em Minas?
Gustavo: Entendemos que, justamente por ser um projeto inovador com grande capacidade de complementariedade e de replicação, reconhecimento e parceria com outras associações estaduais e institutos a elas ligadas é questão de tempo.
Os ganhos ocorrem nos dois lados, pois as associações juntas tornam-se mais competitivas frente às empresas que atuam no mercado, inclusive no mercado de defensivos químicos, e a Biofábrica poderá ampliar escala e escopo de produção.
O IBA busca contribuir para fomentar a disseminação de boas práticas e a união de esforços em um mesmo propósito em projetos, por meio das atividades que estreitam o relacionamento com as associadas e também entre elas, como o monitoramento dos projetos e a realização de workhops para troca de experiências e demonstrações de resultados entre os executores dos projetos do IBA.
Os gargalos, dificuldades e cuidados
Legislação
Para o registro de produção do Trichogramma há um longo caminho, em diferentes esferas governamentais. É preciso a apresentação de relatórios técnicos para:
- ANVISA: faz a avaliação toxicológica, a aprovação de bula e rótulo, além de determinar o Limite Máximo de Resíduos (LMR) e da Ingestão Diária Aceitável (IDA).
- Ministério da Agricultura (MAPA): faz a avaliação de eficiência e a aprovação do uso agrícola.
- IBAMA: verifica a periculosidade ambiental, e também trata da aprovação de bula e rótulo.
Cultural
Aqui a maior dificuldade é o convencimento do produtor em utilizar uma tecnologia inovadora. O método considerado mais eficaz é convencer o gerente ou técnico de campo, principalmente com números ou com o uso em alguma área da fazenda.
A AMIPA aproveita diferentes encontros com os associados para mostrar os primeiros resultados do controle biológico no algodão e em outras culturas. Desde 2014 já foram realizados trabalhos em ervilha, tomate, feijão, milho e soja.
Limitação de atendimento
Este gargalo tem diminuído com as soluções de lançamento a granel, com auxílio de drones. No início, o lançamento era feito por motocicletas, o que dificultava se a abrangência fosse em grandes áreas.
A AMIPA ganhou um prêmio de inovação de uso de drones na agricultura, com a criação, em parceria com a empresa Xfly Brasil, de um dispenser que permite cobrir uma área muito superior ao método convencional.
Mão de Obra
O processo produtivo atual tem uma alta dependência da mão de obra. Já estão sendo analisados os processos que podem ser automatizados.
Olhando o futuro
Como estratégia, a AMIPA irá buscar:
- melhoria na produção e na liberação do Trichogramma;
- inserir novos agentes biológicos na linha de produção da Biofábrica;
- criar um sistema integrado de controle biológico com os associados.
Galeria de fotos
Referências
www.iba-br.com
www.amipa.com.br
www.abrapa.com.br
Apresentação do diretor executivo da AMIPA, Lício Pena, no 11º Congresso Brasileiro de Algodão
www.droneshowla.com
Informativos da AMIPA
Entrevistas em Patos de Minas-MG, Coromandel-MG e Uberlândia-MG