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Diagnóstico precoce aumenta chances de cura do câncer de mama campanha outubro rosa divulga informações sobre a doença e mostra os avanços no tratamento

Aline Guedes, da Secretaria de Comunicação

Publicado em 3 de outubro de 2017

Os avanços na luta contra o câncer de mama e o empoderamento das mulheres são o principal foco da campanha Outubro Rosa em 2017, cujas ações começam nesta terça-feira, 3. O movimento popular representado pelo laço rosa, que simboliza a luta contra a doença, tem o objetivo de estimular a participação da população, de empresas e entidades e alertar as mulheres sobre a prevenção do câncer de mama.

De acordo com o Ministério da Saúde, esse é o câncer que mais afeta as mulheres no Brasil e no mundo, respondendo por cerca de 25% dos casos novos a cada ano. É a segunda causa de morte por câncer nos países desenvolvidos, atrás somente do de pulmão.

Para ressaltar a importância da campanha no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelou que surgem cerca de 60 mil novos casos de câncer de mama por ano, e que 15 mil dessas pacientes não resistem à doença. O Inca estima que, entre 2016 e 2017, sejam diagnosticados 57.960 novos casos no país, com um risco estimado de 56,20 a cada 100 mil mulheres.

Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o tipo mais frequente nas mulheres das regiões Sudeste, com 68,08 a cada 100 mil mulheres, Sul (74,30/100 mil), Centro-Oeste (55,87/100 mil) e Nordeste (38,74/100 mil). Na região Norte, é o segundo tumor mais incidente, com 22,26 casos a cada 100 mil mulheres. Para a Sociedade Brasileira de Mastologia, essas diferenças provavelmente têm origem no fato de que, quanto maior o desenvolvimento da região, maior a incidência de câncer de mama, devido à maior exposição das mulheres a fatores como poluição e estresse.

Atividades

No Congresso Nacional, uma série de atividades alusivas ao Outubro Rosa chama a atenção dos brasileiros para a relevância da prevenção da doença. Além de audiências públicas e oficinas com especialistas, os prédios da Câmara e do Senado permanecem iluminados na cor da campanha durante todo o mês, por ser uma leitura visual compreendida em qualquer lugar do planeta.

Além de enfatizar a importância de a mulher conhecer suas mamas e ficar atenta às alterações suspeitas, as ações de conscientização pretendem disseminar o maior volume possível de informações sobre acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento, contribuindo para a redução da mortalidade.

Congresso tem iluminação especial durante a campanha Outubro Rosa (foto: Jonas Pereira/Agência Senado)

Segundo a procuradora da mulher no Senado, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), é preciso conscientizar todos sobre o valor da prevenção, porque, quando diagnosticado cedo, o câncer apresenta chances de cura muito maiores.

- A Procuradoria da Mulher do Senado une esforços com a bancada feminina e diversas entidades parceiras para colocarmos em pauta a importância do autocuidado, do diagnóstico precoce e do tratamento humanizado – disse a senadora.

Vanessa Grazziotin: esforços para levar à pauta a importância do autocuidado e do tratamento humanizado (foto: Pedro França/Agência Senado)

Diagnóstico

O diagnóstico de câncer somente pode ser estabelecido por meio de biópsia. No caso específico do câncer de mama, os agrupamentos celulares da doença são conhecidos desde meados do século 19, mas somente na década de 1990 foi possível identificar sua causa: duas mutações em genes específicos chamados BRCA1 e BRCA2. A partir daí, foi possível identificar quais famílias são portadoras desse defeito e, dentro dessas famílias, quais são os indivíduos afetados.

As mulheres que herdam mutação desses genes têm até 85% de chance de desenvolver câncer de mama e também alta chance - de até 40% - de desenvolver câncer de ovário. O caso mais conhecido é o da atriz Angelina Jolie, portadora de uma mutação num desses genes e que tem vários casos de câncer de mama e ovário na família. Ela anunciou, em 2013, ter se submetido a uma mastectomia dupla para reduzir suas chances de desenvolver a doença.

Em 2013, a atriz Angelina Jolie anunciou ter feito uma mastectomia dupla preventiva (foto: Foreign and Commonwealth Office - UK)

Embora existam vários tipos de câncer, alguns são bastante raros. Em muitos casos, um único tumor na mama pode ser uma combinação desses tipos raros ou uma mistura de células invasivas, como esclareceu a ginecologista Daniele Carvalho Mendes. Segundo ela, as causas da doença são variadas, resultando de uma série de mutações na célula ao longo da vida ou de heranças genéticas, podendo também estar relacionadas aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural. Alguns exemplos são o uso abusivo do álcool, o excesso de peso e/ou o sedentarismo.

- Além disso, todos os fatores relacionados aos hormônios trazem riscos, a exemplo da menarca precoce, quando a menina começa a menstruar cedo demais, antes dos dez anos de idade, e da menopausa tardia, quando a mulher para de menstruar muito tarde, depois dos 55 anos. Portanto, quanto maior o tempo de exposição da mulher aos hormônios produzidos pelos ovários, maior a chance de ela desenvolver o câncer de mama – explicou a ginecologista.

Superação

Exemplo de superação, a jornalista Cristina Sudbrack Vidigal, de 56 anos, descobriu que tinha câncer de mama durante o banho, em dezembro de 2016. Ela percebeu um nódulo no seio esquerdo no autoexame, mas disse que tentou fugir da realidade e que somente procurou auxílio médico depois de quatro meses, após ter sido pressionada por uma sobrinha.

- Eu acho que a palavra câncer assusta, mesmo com todas as informações que temos nos dias de hoje. A gente pensa que pode acontecer com o vizinho, mas não com a gente. Foi a minha sobrinha, enquanto eu passava férias no Rio de Janeiro, quem me deu uma sacudida e me convenceu a buscar os médicos e informações mais precisas – relatou.

Cristina passou por uma série de exames complementares, até se submeter à mastectomia, em abril de 2017. A primeira parte da reconstrução da mama esquerda da jornalista ocorreu em julho e, a terceira, para finalização da reconstrução, está prevista para março de 2018, quando se completam oito meses da segunda intervenção, conforme as recomendações médicas. Apesar do apoio da família e das pessoas mais próximas, Cristina reclamou da falta de acompanhamento psicológico, nas clínicas e hospitais, para as mulheres passíveis ao diagnóstico.

- Para mim, houve vários momentos de espera de um exame para o outro, com intervalos de até 20 dias. E a gente sai do atendimento com o prognóstico, mas sem antes ter um bate-papo com um especialista que procure saber como a mulher está se sentindo, o que faz muita falta num momento difícil como esse – contou.

Professora Nelsimeire Cavalcante: apoio da família foi fundamental na superação da doença (foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Outro exemplo de vitória sobre o câncer de mama vem de Taguatinga, cidade satélite de Brasília (DF). A professora Nelsimeire Silva Cavalcante, de 41 anos, descobriu o tumor no seio direito em 2009, durante um banho. Ela percebeu a presença do que parecia uma pedrinha de cerca de dois centímetros de diâmetro, mas, por desconsiderar a possibilidade de estar doente, somente procurou ajuda profissional quatro meses depois, quando o caroço começou a crescer.

Nelsimeire descreveu os momentos de incertezas e questionamentos pelos quais passou após a confirmação do diagnóstico, mas também destacou a confiança transmitida pelos médicos que a atenderam, e a importância do apoio do marido, dos familiares e dos amigos. Ela contou que, durante seu tratamento, conheceu histórias e conviveu com mulheres que foram abandonadas pelos companheiros, após o diagnóstico do câncer de mama.

- Quando a gente chega diante do altar e faz promessas, a gente só sabe se vai cumpri-las num momento difícil como esse. Nenhuma pessoa pode passar por uma situação dessas sozinha, mas muitas são abandonadas no seu momento de maior dor. Foi assim que eu percebi como o meu esposo me ama e foi cuidadoso comigo o tempo todo. O que me deu forças foram: Deus, a família, os amigos e os conhecidos queridos – relembrou.

Depois de um ano e meio de tratamentos, que foram desde a quimioterapia, radioterapia, passando pela mastectomia até à reconstrução de sua mama, Nelsimeire finalmente recebeu a notícia que tanto esperava: a de que estava curada. A professora aconselha as mulheres que estão passando pela mesma situação a persistirem e acreditarem que, assim como ela, também terão sua saúde restaurada.

- Creio que, se eu tivesse recorrido ao médico mais cedo, poderia ter evitado até a retirada do meu seio. Por isto, eu digo às mulheres que procurem conhecer seu próprio corpo e que, se porventura encontrarem algo anormal, busquem aos médicos e não tenham medo do diagnóstico. Quanto mais cedo se descobre, maiores são as chances de cura, assim como aconteceu comigo – aconselhou.

Autocuidado

A ginecologista Daniele Carvalho reforça que o autoconhecimento é uma ferramenta de autocuidado da mulher. Ou seja, segundo a médica, é importante que cada uma conheça e observe seu próprio corpo e, caso identifique alguma anomalia, procure imediatamente auxílio médico.

- Saber quais pintinhas se tem no corpo, pedir que alguém observe seu couro cabeludo, que o parceiro analise a sua região genital em busca de alterações de coloração e, além disto, a gente agrega a relevância do autoexame das mamas, feito enquanto a mulher desliza as mãos com o sabonete sobre os seios à procura de nódulos, durante o banho – informou.

Daniele Carvalho lembra que o exame clínico das mamas deve ser realizado anualmente, por um ginecologista, em mulheres a partir dos 25 anos de idade. Já a mamografia deve ser feita periodicamente, após a mulher completar 40 anos. Quando necessário, o próprio médico encaminha a paciente ao mastologista, para exames mais detalhados.

- A mulher deve ficar atenta a sinais como nodulação, secreções no bico do seio, lesões na auréola, como descamação ou pequenos machucados que não cicatrizam, além de caroços nas axilas detectados fora da rotina anual de check-up dela – detalhou.

Informação

Segundo a ginecologista, a possibilidade de ter câncer não é motivo para pânico, uma vez que o tratamento evoluiu para ser cada vez mais individualizado e baseado no perfil genético do tumor. Trata-se de uma doença que requer, idealmente, equipe médica multidisciplinar, constituída por psicólogos, nutricionistas, cirurgiões plásticos, oncologistas clínicos, além de radioterapeutas e fisioterapeutas.

- Todas as pessoas têm, ao lado, uma mulher amada, uma irmã, esposa, amiga, colega de trabalho. Então, a principal mensagem é enfrentar a doença, sabendo que a medicina atual oferece uma ampla gama de tratamentos eficazes, especialmente sobre o câncer de mama. Então, vale a pena investir e insistir na busca do diagnóstico precoce – enfatizou.

Para a ginecologista, campanhas como o Outubro Rosa são importantes porque, quanto mais informação sobre a doença, menos medo as mulheres sentirão ao enfrentar o possível diagnóstico.

- Conhecimento é uma ferramenta poderosa, inclusive, porque diminui o estigma de que o câncer de mama é incurável. A mulher bem informada fica atenta ao seu corpo e tem mais chances de descobrir um nódulo em fase inicial, com plenas possibilidades de cura – declarou.

Cirurgia reparadora

Aguarda deliberação do Plenário do Senado substitutivo a projeto de lei da Câmara dos Deputados (PLC 5/2016) que altera a legislação que obriga a reconstrução mamária gratuita nos casos de mutilação decorrente de tratamento de câncer. O texto inova ao assegurar que a plástica seja feita nas duas mamas, mesmo se o tumor estiver restrito a apenas uma, para que se garanta a simetria entre os dois seios. O substitutivo foi proposto pela senadora Marta Suplicy (PMDB-SP).

Ao destacar a importância do projeto, Marta observou que a mama reconstruída nunca será igual à mama removida. Por isso, procedimentos de redução, elevação ou aumento podem ser indicados para a mama oposta, de forma a manter a simetria entre elas.

Quando apenas uma mama é afetada pelo câncer, somente ela pode ser reconstruída, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Por isso, no substitutivo, Marta optou por seguir a terminologia técnica para denominar o procedimento na mama oposta de “simetrização”, no lugar de “reconstrução”, deixando claro o conteúdo e alcance da norma.

Marta Suplicy: projeto para garantir que cirurgia plástica seja feita nas duas mamas (foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O substitutivo também corrige uma omissão observada no projeto da Câmara, que tratou apenas da oferta de cirurgia gratuita nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), estendendo o mesmo direito às mulheres que contam com cobertura dos planos e seguros privados de saúde.

Marta Suplicy também explicitou que os procedimentos na mama contralateral e as reconstruções do mamilo fazem parte do tratamento para a reconstrução mamária. Assim, fica eliminada qualquer discussão sobre o efetivo direito das pacientes, como observou a relatora.

Se aprovado sem mudanças, o texto seguirá para sanção presidencial.

Exames preventivos

Também aguarda votação, no Plenário do Senado, um projeto em favor de mulheres que enfrentam dificuldades para fazer exames e tratamentos relacionados aos cânceres de mama e útero. Segundo a proposta (PLC 20/2017), equipes intersetoriais formadas por membros das redes de proteção social e atenção básica à saúde vão buscar, no conjunto de mulheres de determinada comunidade, as que não fizeram os exames preventivos e de rastreamento da doença, garantidos pela Lei 11.664/2008. A estratégia específica para essas ações será definida em regulamento.

A relatora da proposta também é a senadora Marta Suplicy. Ela explicou que a ideia é auxiliar as mulheres que enfrentam dificuldades sociais, geográficas ou culturais para manter os exames em dia. Marta lembra que o carcinoma do colo uterino acomete mais de 16 mil mulheres por ano no Brasil, e que um terço evolui para óbito. A maior parte dessas mortes, segundo a senadora, decorre da demora em diagnosticar e tratar a neoplasia e suas lesões precursoras.

Exames clínicos periódicos previnem o aparecimento de doenças e aumentam as chances de cura (foto: Prefeitura de João Pessoa)

O projeto, originalmente, queria condicionar o recebimento da Bolsa Família à realização do exame ginecológico. Em sua tramitação pelas comissões da Câmara, o texto foi alterado para perder o caráter punitivo e melhorar a promoção da saúde das mulheres.

- O Papanicolau e os exames dos seios são muito importantes porque eles previnem e podem evitar o mais importante de tudo, que é a possibilidade da morte – afirmou Marta Suplicy.

Programa Cidadania, da TV Senado, entrevista o oncologista Anderson Silvestrini e o advogado Thiago Turbay sobre a efetividade das políticas públicas para o tratamento do câncer de mama

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