Entrevista e Fotos: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo
SÃO PAULO - "E aí, essa pizza é boa?" Essas foram as primeiras palavras do violeiro Almir Sater ao me ver no Mercado Municipal de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, quando contei o que tinha comido antes da entrevista. Respondi que era boa demais.
- "Ah, mas pizza é para quando a gente não tá com muita fome, né? Vamos almoçar comigo", propôs Almir. Fomos. O prato era o baião de dois, típico da cozinha nordestina que leva arroz, feijão, bacon, cebola e calabresa, com algumas variações. Enquanto o prato não chegava, a conversa desenrolava.
Almir, que ficou conhecido em todo o País pelos personagens que protagonizou em novelas como Pantanal (1990) e A História de Ana Raio e Zé Trovão (1991), foi à entrevista sem o seu famoso chapéu. "Assim eu fico à paisana, estou fora do horário do trabalho, igual policial sem farda", brinca.
Ele começou a tocar violão quando criança em Campo Grande-MS. Na hora de fazer faculdade, foi para o Rio de Janeiro, mas desistiu da carreira no Direito. Voltou para sua cidade natal, estudou música e, depois de um tempo, foi para São Paulo tentar a carreira solo. Hoje, aos 61 anos, tem mais três décadas de carreira e 10 discos gravados como cantor, compositor, violeiro e instrumentista.
Apesar de ser conhecido no universo da música, o assunto principal da conversa foi o envolvimento de Almir com o agronegócio. Desde 2007, ele cria o gado senepol, um boi originário da Ilha de Saint Croix, no Caribe.
Esse animal, fruto do cruzamento da raça inglesa red poll e da senegalesa n'dama, tem atraído dezenas de criadores ao redor do País por ser um taurino adaptado ao clima tropical. Segundo a associação dos criadores da raça, há 76 mil animais puros registrados no Brasil, que tem o maior rebanho do mundo.
Na conversa, Almir estava orgulhoso porque havia fechado uma venda de 35 touros puros senepol para seu vizinho. "Quando você vê alguém do ramo comprando os seus animais, é porque tá dando certo, né?"
Ele conheceu o senepol em 2007 em uma feira pecuária realizada em São Paulo. Gostou do que viu e comprou os primeiros animais para atender sua própria demanda de touros. Começou ressabiado, devagar, e foi observando os resultados. "Você sabe que o pecuarista espera o vizinho fazer para ele fazer, né? Ele espera ver se funciona em algum lugar, aí vai lá e faz", explica.
Almir sempre gostou do resultado do cruzamento entre nelore e angus porque o animal que nasce dessa mistura adquire as melhores características de cada raça. Ele decidiu ir além e promover um triplo cruzamento, onde entra o senepol, adaptado às condições climáticas da região. "O sonho de todo pecuarista é esse animal que possa cobrir a campo", diz.
Para taurinos como o angus ou hereford funcionarem bem no Pantanal, onde Almir tem três propriedades, é preciso fazer inseminação artificial ou fertilização in vitro. São processos trabalhosos, especialmente em larga escala. O senepol, apesar de ser um taurino, é bem resistente. "Se o animal trabalha bem no Pantanal, trabalha bem em qualquer lugar", afirma ele, que tem 100 animais senepol puros.
Em suas propriedades, produz animais para engorda, frutos do cruzamento triplo, além de touros e vacas senepol para reprodução e melhoramento genético. Ele prefere vender diretamente para criadores ao invés de ofertar os animais em leilões. "É difícil, não tem garantia. Tem que pagar tudo à vista, a leiloeira recebe à vista, mas ninguém garante que o comprador vai pagar. Então, são 36 meses de dúvida', diz.
Com muita humildade, Almir se define como um agropecuarista amador. "A fazenda é um gosto, eu posso ignorar alguns custos. Não é como um pecuarista profissional, que não pode errar muito", explica.
Mas não foi só de pecuária que a conversa tratou. Almir conta que ficou conhecido por ser violeiro, mas diz ser também roqueiro. "Eu adoro Mark Knopler (Dire Straits), Paul Simon, Bob Dylan e Eric Clapton", diz, citando ícones do rock internacional. "Eu gosto mesmo de música que tem a ver com a arte, com composições". Sobre o sertanejo atual, diz que não o emociona.
"Fazer música é muito difícil. É como ser atleta. Você pode ter o dom, mas se não treinar muito, não vai conseguir um bom resultado".
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Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo