“Não vos esqueceis das obras do Senhor (Sl 77,7)”
Conhecer o passado é fundamental para compreender o presente e projetar o futuro. O Papa Francisco, na Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho, afirma que “a memória é uma dimensão da nossa fé” (nº 13): dá o exemplo da Eucaristia, em que a Igreja relembra diariamente o Evangelho e o sentido da Páscoa. O Santo Padre convida-nos a fazer "memória deuteronómica", um apelo recorrente na Sagrada Escritura, como na Carta aos Hebreus onde se lê «Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a Palavra de Deus (Heb 13,7)».
A memória que a cristandade é interpelada a fazer é uma memória agradecida, não só porque damos graças a Deus por todos os homens e mulheres que contribuiram para a construção da comunidade cristã, mas também para que possamos abraçar o futuro com esperança e contar à nova geração “as grandezas do Senhor e o Seu poder” (Sl 77,4).
Procuramos relembrar o trabalho, a perseverança, a fé, as angústias e as conquistas de todos quanto contribuiram para a formação da nossa paróquia, a construção das nossas igrejas, a criação dos nossos grupos e movimentos. Fazer-se-à memória particular de todos os sacerdotes que, ao longo das últimas décadas, foram nomeados pelos Senhores Bispos de Setúbal para acompanhar a nossa comunidade.
“O Senhor ordenou que nos fossem dadas cidades para habitarmos (Js 21, 2)” – A Quinta do Conde
Para conhecermos a comunidade cristã precisamos compreender o meio que nos acolhe. Segundo a obra “Quinta do Conde – Origens e Progresso” de Vítor Antunes, a História aponta sucessivos proprietários à Herdade da Ribeira de Coina, local onde hoje se encontra a Quinta do Conde. O registo mais antigo, de 1224, refere a doação dos terrenos ao Mosteiro de S. Vicente de Fora. Seguem-se como titulares os Condes de Atouguia (que deram origem ao topónimo da localidade), José Maria da Fonseca (renomado produtor vinícola da região) e descendentes.
No início dos anos 70, a Quinta do Conde é adquirida por António Xavier de Lima, empresário da margem sul do Tejo, pela quantia de 31.500 contos. É neste momento de grande turbulência política e social que o proprietário desencadeia um processo de loteamento clandestino, provocando um enorme fluxo populacional, atraído pelo baixo preço dos terrenos, pela proximidade das grandes indústrias da região sul do Tejo e pela oferta de um local para viver com qualidade, próximo dos centros urbanos mas longe o suficiente do caos da cidade.
Portanto, existe na Quinta do Conde uma grande diversidade de proveniências: portugueses do interior do país, lisboetas que vieram para as regiões suburbanas e emigrantes de regresso a Portugal. Apesar da sua história recente, a Quinta do Conde alcançou um grande desenvolvimento urbano e económico. Segundo os Censos de 2011, habitam na Quinta do Conde cerca de 25 660 pessoas. Os serviços e infraestruturas básicas à existência de um aglomerado populacional foram chegando com os anos, em virtude de um plano de urbanização. Em 1985 foi elevada a freguesia e dez anos depois foi reconhecida pela Assembleia da República como vila.
"Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. (Mt 18, 20)” - A Origem da Comunidade Cristã
Os primeiros habitantes da Quinta do Conde rapidamente sentiram a necessidade de viver a sua fé neste novo local de residência. A primeira preocupação foi a realização, pelo menos, de uma eucaristia dominical. Surgem neste momento dois cristãos a quem a Quinta do Conde muito deve: José Maria da Costa e João Gorjão, que procuraram desde cedo arranjar um sacerdote.
António Fernando Pereira, na obra “Quinta do Conde: Povo de Fé e Coragem”, conta os primeiros passos da comunidade: «Dos vários contactos feitos, era aconselhável que o sacerdote estivesse em serviço, próximo da Quinta do Conde, para assim ser mais fácil a sua assistência e deslocação. Acontece que estava na Casa do Gaiato, em Setúbal, o senhor padre José Fatela, que anteriormente dava assistência como capelão na antiga Marinha Mercante, e possivelmente poderia aceitar o nosso pedido.»
Os senhores Costa e Gorjão dirigem-se assim à Casa do Gaiato com o intuito de falar com o padre José Fatela. Este aceita a responsabilidade de vir à Quinta do Conde celebrar Eucaristia aos domingos, desde que pudessem assegurar a sua deslocação. Passam-se dois anos com a assistência deste sacerdote em que as Eucaristias eram celebradas na garagem do senhor Costa, situada na Rua Soares dos Reis, lote 671, e posteriormente também na mercearia do senhor José Carvalho na Boa Água, na Rua de Santo António, lote 840. O número de fiéis foi aumentando consideravelmente, o que levou o Padre José Fatela a sugerir que seria bom abordar o Senhor Bispo D. Manuel Martins no sentido de lhe pedirem um sacerdote efetivo que pudesse dar uma assistência permanente à comunidade.
Foram os dois senhores e o Padre José Fatela a Setúbal, apresentar estas preocupações ao Senhor Bispo que lhes confessou não ser fácil a nomeação de um padre: «era uma zona considerada clandestina e sem recurso de vida para assegurar a estadia de um sacerdote». Contudo, D. Manuel Martins considerou que «era uma pena deixar aquelas almas de boa-fé sem assistência sacerdotal» e garantiu que iria pensar sobre o assunto.
Meses depois, são convocados à presença do senhor Bispo que os informa da nomeação do padre jesuíta José Afonso Camacho Rodrigues Marques Pinto. O novo sacerdote chega à Quinta do Conde na Solenidade da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro de 1977.
No dia 20 de agosto de 1978, o Senhor Bispo D. Manuel Martins criou o “Vicariato da Quinta do Conde” e nomeou o Padre José Marques Pinto como Vigário - Adjunto (designação atribuída ao responsável do Vicariato). Passados quase vinte anos, a 31 de maio de 1997, a Quinta do Conde é elevada a Paróquia.
“Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (Mt 16,18)”
Leia sobre a construção das Igrejas e a dinamização das comunidades. Escolha uma comunidade:
Grupos e movimentos
«Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a Palavra de Deus.» (Heb 13, 7)
Jesus disse certa vez aos seus discípulos «Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível.» (Mt 17, 20). Na Quinta do Conde, a Fé moveu montanhas e permitiu a construção de duas igrejas (e uma terceira a caminho) numa terra de ninguém, envolta em urbanizações clandestinas, questões políticas adversas e fracas possibilidades económicas dos primeiros habitantes. Valeu aos pioneiros a fé, a coragem e a perseverança de trazer a família de Deus para o aglomerado populacional que emergia no centro da Península de Setúbal.
O progresso da comunidade cristã tem sido notável, com a criação de serviços, grupos e movimentos que dinamizam e enriquecem a Igreja, tornando-a um elemento essencial da sociedade em que nos inserimos. Para tal, não só têm contribuído os esforços dos nossos párocos, mas também de muitos homens e mulheres, das mais diversas proveniências, e que devido à sua imensidão se tornam impossíveis de referir, a todos, neste trabalho.
Nos dias de hoje, a Igreja vê-se confrontada com uma série de desafios como o afastamento da sociedade em relação aos valores cristãos, os problemas sociais e económicos e a crise das mentalidades. A Paróquia da Quinta do Conde não é exceção, e procura projetar no futuro a continuação do trabalho dos seus antecessores, com inabalável confiança no Senhor e acolhimento do Evangelho. Para essa importante missão, contemos com a força do Espírito Santo e a intercessão dos nossos padroeiros Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora da Boa Água e São Francisco Xavier.