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Disponíveis para Amar POR cláudia gonçalves

“A Beleza do Matrimónio” – intenção do Papa Francisco para o mês de Junho – levou-me a viajar até ao fantástico poema do Cântico dos Cânticos. A busca do amado e da amada, que se descobrem e se perdem neste caminho do Amor. E no casamento esta dualidade está sempre presente: há momentos em que nos damos a conhecer, em que nos desnudamos, nos aceitamos com os nossos defeitos e qualidades, e desejamos que o outro nos acolha, tal como somos, para nos podermos encontrar; e, noutras alturas, fechamo-nos no nosso mundo, no silêncio, não somos capazes de comunicar, de pôr em comum o interior do nosso interior e desencontramo-nos.

Este caminho é, de facto, “uma viagem trabalhosa, difícil e até conflituosa”, como descreveu o sumo pontífice, mas “vale a pena.” Quando é verdadeiro “nem as águas caudalosas conseguirão apagar o fogo do amor, nem as torrentes o podem submergir” (Cântico dos Cânticos 8, 7). São Paulo, no chamado hino à caridade (1 Cor 13, 4-7), mostra-nos algumas das características do amor verdadeiro e que são reforçadas na Exortação “A Alegria do Amor”. Ser paciente, ter uma atitude de serviço, não se deixar levar pela inveja, não ser arrogante nem se orgulhar, ser amável, ser desprendido, não se irritar nem guardar ressentimento, saber perdoar, alegrar-se com o outro, saber desculpar, confiar, esperar e suportar.

À primeira vista dá vontade de desistir; o que somos chamadas a ser, como homem e mulher, parece estar reservado, somente, àqueles que têm super-poderes! Mas ninguém disse que ia ser fácil. As palavas que proferimos no dia do casamento colocam a fasquia bem alta. Juramos fidelidade nos bons e nos maus momentos, fazemos uma entrega total ao outro, sem reservas. Não há exclusões, temos de ir com tudo. Disponíveis para dar, mais do que receber; e, ao mesmo tempo, acolher o outro, por inteiro, com as suas fragilidades, fraquezas. Tal e qual como ele é!

O caminho do matrimónio é dinâmico e leva-nos ao crescimento e à realização plena do amor cristão. Eu torno-me mais “eu” quando estou perante o “tu”. Mas, tal como o oleiro, temos de ir alisando as imperfeições; tal como a sentinela, temos de estar alerta.

Acertar os ponteiros

E, por isso, a proposta que posso deixar, aqui, chama-se “O Relógio da Família”. Inspirada nos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, esta ferramenta visa o aprofundamento da relação do casal e está orientada para acertar os ponteiros da relação matrimonial, do casal com a família alargada, com os amigos e com a sociedade.

O Relógio marca sete tempos, cada um com objectivos concretos e dinâmica própria, nos quais são propostas questões desafiadoras para meditar, primeiro individualmente e depois em casal. É um exercício de comunicação profunda e de discernimento, valoriza os anseios e os sonhos individuais e conjugais e aborda temas como: A História de Graça da nossa Família; Matrimónio, onde estás?; Que Família somos?; Decisões e Liberdades; Desgastes, Crises e Danos; Reconciliação; e O Projeto da nossa Família.

O resultado é uma espécie de “Constituição” da vida familiar, que resulta das decisões comuns e da identidade pessoal, e nos ajuda a definir um rumo claro para os modos de viver o matrimónio. Nestes encontros percebemos que não estamos sozinhos, que as nossas dificuldades, medos, dúvidas, são vivenciadas por muitos outros pares.

Não há casais perfeitos. Alguns são saudáveis e outros, por algum motivo, estão doentes. Mas é possível sarar as feridas e recomeçar. É preciso encarar cada crise como um momento de reflexão, de convite à escuta do coração. Cada desencontro é um desafio ao perdão que nos liberta e impulsiona, com esperança, para o futuro.

Nesta construção diária, saibamos quebrar as rotinas, porque “o amor precisa de tempo disponível e gratuito … faz falta tempo para dialogar, abraçar-se sem pressa, partilhar projectos, escutar-se, olhar-se nos olhos, apreciar-se, fortalecer a relação.” (Amoris Laetitia)

A informação sobre “O Relógio da Família” pode ser obtida em www.relogiodafamilia.wordpress.com

Cláudia Gonçalves
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Paróquia de Fafe Santa Eulália
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