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Finlândia comemora centenário de independência buscando maior presença no Brasil, diz cônsul Data no Brasil foi comemorada com elevação no status do Consulado em São Paulo

Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo

SÃO PAULO - A Finlândia comemora o centenário de sua independência do império russo neste mês com uma série de ações e eventos em mais de 100 países. O Brasil é um deles e, em razão da importância que o País adquiriu para os finlandeses, o governo local decidiu elevar o status do Consulado Honorário, em São Paulo, para um Consulado Geral, com diplomatas de carreira.

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Na prática, isso significa que diversas atividades consulares como emissão de passaportes, vistos de residências, certificação de documentos e trâmites burocráticos que precisavam ser feitos na embaixada em Brasília podem agora ser realizadas em São Paulo.

Vista de Helsinque no dia da comemoração, 6 de dezembro. Mais de 100 mil pessoas participaram da festa. Foto: Petra Lönnqvist/Finland 100

“O Brasil é cada vez mais importante para a Finlândia e vimos a necessidade de ter uma presença maior aqui”, diz Jan Jarne, cônsul honorário do país desde 2002. Ele mudou-se para o Brasil com 3 anos, em 1949, quando seu pai veio representar uma companhia de papel, um dos setores mais importantes da Finlândia até hoje. Desde então, entre idas e vindas, o engenheiro de produção se estabeleceu, fez carreira em bancos e tornou-se consultor em fusões e aquisições.

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"Esse investimento (mudança de status do consulado) não nasceu de um ano para o outro", explica Jarne. O diplomata comenta que pesaram a favor da mudança o fato de São Paulo ser o o centro financeiro e industrial do País e "um grande mercado global emergente."

Jan Jarne foi cônsul honorário da Finlândia no País de 2012 a 2017. Foto: Paulo Beraldo/De Olho no Campo

Outro ponto de amadurecimento na relação dos países foi a abertura da Câmara de Comércio Brasil-Finlândia, liderada por Jan Jarne em 2012. O comércio bilateral responde por € 1 bilhão (R$ 3,8 bilhões), sendo que o Brasil compra 40% dos produtos finlandeses e exporta outros 60%. Enquanto os finlandeses vendem máquinas, caldeiras, reatores e componentes industriais, o Brasil envia principalmente produtos básicos ou intermediários, como commodities agrícolas ou minérios.

Hoje, há 50 importantes empresas finlandesas atuando no Brasil - várias com destaque em seus setores, como a Nokia, no ramo de redes de comunicação, a Madson, no setor de mineração, a Stora Enso, de papel e celulose e a Valmet, líder mundial em maquinário para fabricação de papel.

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"Por ser um país pequeno, a Finlândia decidiu focar naquilo que é boa e ser líder nos seus nichos", diz Jarne. Os focos são: saúde, energia renovável e educação. A educação tornou-se um produto finlandês. Os métodos de ensino são exportados para diversos países, incluindo o Brasil, para que professores tenham capacitação com finlandeses, explica o diplomata.

Aplicativos e jogos como Angry Birds também ajudam a levar o nome da Finlândia mundo afora, tanto que o país é sede do Slush, o principal evento de start-ups do mundo.

Relações entre os países

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o primeiro contato entre os dois países foi em 1876, com a visita de Dom Pedro II ao país, que ainda era parte do Império Russo. As relações diplomáticas começaram em 1929 e, em 1938, o Brasil abria sua embaixada em Helsinque.

Diversos pontos turísticos do Brasil, como o Cristo Redentor, foram iluminados com as cores da Finlândia. Foto: Sérgio Charmone/Finncham

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Naquela época, o Brasil comercializava café para os finlandeses e adquiria produtos da indústria da celulose e do papel. As relações se fortaleceram no governo Juscelino Kubsticheck (1956-1961), com a instalação da Valmet, conglomerado industrial finlandês, que abriu uma fábrica de tratores no Brasil. "O objetivo era mecanizar o campo e foram realizados grandes investimentos", explica Jarne.

O centenário

O objetivo das comemorações do centenário é relembrar as conquistas do país europeu de 5,5 milhões de habitantes nos últimos 100 anos. "É um marco de patriotismo no sentido de olhar para trás e considerar tudo o que foi feito. Éramos um país rural esparsamente povoado, nos urbanizamos, nos industrializamos e diversificamos a economia", diz ele, que está no Brasil desde 1949.

Nos anos 1990, a Finlândia deu uma guinada na direção da tecnologia e da inovação - é um dos países que mais investem em pesquisa e desenvolvimento do mundo, cerca de 4% do PIB. "Temos um trinômio: universidades, empresas e governo. É uma economia com base no conhecimento", esclarece Jan Jarne. Uma mudança dos últimos anos é que Helsinque tem virado ponto de ligação entre Ocidente e Oriente. Diversos voos que ligam China e Estados Unidos têm escala na capital finlandesa.

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Vista aérea da capital finlandesa iluminada com as cores do país. Cidade tem 600 mil habitantes. Foto: Petra Lönnqvist/Finland 100

Demetrius Costa, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, diz que a Finlândia sempre prezou pela neutralidade. Durante a Guerra Fria, não entrou nem no bloco socialista nem no capitalista. O professor conta que o país teve até um ex-presidente, Martti Ahtisaari, que venceu o Nobel da Paz, em 2008, por seus esforços para resolver conflitos militares. Ele governou a Finlândia entre 1995 e 2000 e contribuiu com o fim do conflito armado de Aceh, na Indonésia, que durou décadas.

"Os finlandeses em geral são considerados muito diplomáticos, uma consequência dessa neutralidade", afirma. Até hoje, a Finlândia não é parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar do Ocidente. E o país só entrou na União Europeia (UE) em 1995, quando o grupo já tinha 12 países. "Hoje, é um membro estável e importante da UE, tem adesão total aos princípios da zona do euro", explica Costa.

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