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"Os Maias" Eça de Queiroz

Eça de Queiroz - Biografia

O filho de José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz e de D. Carolina Augusta Pereira de Eça nasceu na Póvoa do Varzim, a 25 de novembro de 1845.

Fez a escolaridade obrigatória no Colégio da Lapa, no Porto, e matriculou-se no primeiro ano da Faculdade de Direito de Coimbra, em 1861. Durante o seu percurso académico, contactou com alguns dos intelectuais que, mais tarde, constituiriam a célebre "Geração de 70", como Teófilo Braga e Antero de Quental.

A 10 de fevereiro de 1886, Eça casou com Emília de Castro Pamplona, em Resende. Teve, com ela, quatro filhos.

Para além de romancista, foi jornalista e cônsul em Havana, Newcastle, Bristol e Paris. Foi o distanciamento crítico que a vida no estrangeiro lhe proporcionou que lhe permitiu conceber a maior parte dos seus romances.

Eça de Queiroz morreu em Paris, a 16 de agosto de 1900. Em setembro desse ano, o seu corpo foi trasladado para Portugal, tendo sido sepultado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa. Em 1989, o seu corpo foi transladado de Lisboa para o cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião.

Da sua bibliografia, destacam-se os seguintes títulos:

O título do romance refere-se à família Maia, oriunda do Norte do País, à volta de cujas gerações gira a ação central da narrativa. O título "Os Maias" é, ainda, pertinente pelo facto de os acontecimentos da intriga principal (a relação incestuosa de Carlos e Maria Eduarda) serem uma consequência dos infortúnios e dos desencontros dos membros da família Maia.

Através desta família, são criticados aspetos da época, como a decadência, o progresso material e o rotativismo político, pelo que a família Maia pode representar, até certo ponto, Portugal e a decadência da nação ao longo do século XIX.

O subtítulo ("Episódios da vida romântica") refere-se ao estudo da sociedade portuguesa do século XIX e à crítica de costumes que Eça de Queiroz faz através deste romance. São, assim, analisados os comportamentos, os hábitos e as práticas dos portugueses, a fim de denunciar e criticar os seus vícios e falhas e de compreender as «causas da decadência» do povo português.

O subtítulo do romance sugere que, no Portugal do fim do século XIX, ainda se vivia uma «vida romântica». Os membros da burguesia retratados neste romance podem ser classificados como românticos, uma vez que extravasam paixão, emoção e espontaneidade e, por outro lado, carecem de seriedade, organização, equilíbrio, trabalho, disciplina e empenho. Deste modo, faltam aos dirigentes da sociedade as qualidades necessárias para favorecer o desenvolvimento do País.

A ação deste livro desenrola-se, principalmente, em Santa Olávia, Coimbra e Lisboa, no século XIX.

No âmbito da crítica de costumes, Eça de Queiroz enquadra a ação em espaços físicos que criam um ambiente favorável à análise dos comportamentos e do caráter das personagens.

Lisboa

A capital portuguesa, movimentada e cosmopolita, é o espelho dos vícios e da decadência da sociedade portuguesa, posta em realce através da comparação com outras capitais europeias, como Paris e Londres.

O Ramalhete

É o lar da família Maia na capital.

Segundo a lenda, as paredes do Ramalhete "eram sempre fatais aos Maias", o que constitui um indício dos acontecimentos trágicos que terão lugar após o regresso de Afonso da Maia a Lisboa, juntamente com o neto.

Também a descrição que o narrador faz do casarão augura a tragédia que se aproxima, dado o recurso a vocabulário conotado com o fechamento e a tristeza e a referência à sua semelhança com um espaço religioso, o que remete para a ideia de clausura e opressão que, metaforicamente, anuncia o fim da linhagem dos Maias.

Santa Olávia

É em Santa Olávia que residem as origens da família Maia. É uma espécie de refúgio para Afonso da Maia, e onde Carlos da Maia cresce.

Esta residência, em Resende, junto ao rio Douro, está intimamente ligada à Natureza, ao campo e àquilo que é genuinamente português e ainda não foi corrompido.

A Toca

O ninho de amor de Carlos e Maria Eduarda, o palco da sua relação incestuosa, reflete um gosto exótico e sensual, apropriado à vivência de uma paixão marginal, que precisa de ser mantida longe do conhecimento da sociedade, afastada do centro da vida social, dos rumores e da maledicência.

Deste modo, o nome "A Toca" adquire um forte valor simbólico, uma vez que remete para a toca de um animal, onde este se esconde das ameaças do exterior, o que pode estar relacionado com o caráter incestuoso da relação amorosa.

Na descrição da Toca, são referidos vários elementos simbólicos que indiciam o caráter proibido e o fim trágico deste amor: a tapeçaria onde estavam representados os amores de Vénus e Marte, a predominância do amarelo, cor associada à sensualidade, mas também ao declínio e à velhice, e o painel antigo onde se distinguia a cabeça degolada de São João Batista, por exemplo.

Coimbra

Para além de ser o epicentro da formação da futura classe dirigente do País, a cidade universitária constitui também um antro da vida boémia estudantil. É neste ambiente que Carlos e Ega se introduzem na vida diletante e estéril que sempre os caracterizará.

Hotel Central

Durante o jantar no Hotel Central, testemunhamos uma acesa discussão literária, que evolui para uma reflexão trocista sobre a situação política e económica portuguesas.

Neste episódio, são postas em evidência a indiferença e a insensibilidade da elite perante a decadência do País, assim como a sua falta de civismo e de dignidade.

Hipódromo

Encontramos, no episódio das corridas de cavalos, um reflexo do culto da aparência e da aspiração ao requinte da classe burguesa, presente no hipódromo. No entanto, o ambiente revela-se monótono e entediante, e os comportamentos dos espectadores artificiais.

O autor procura criticar a tendência dos portugueses para sobrevalorizar tudo o que é estrangeiro, introduzindo-o, depois, nos costumes nacionais, sem que existam as condições necessárias para o seu êxito. A falta de civismo da sociedade portuguesa é posta em destaque pelas cenas de discussão e pugilato que marcam este episódio.

Casa dos Condes de Gouvarinho

É no jantar na casa dos Condes de Gouvarinho que são postas em evidência a falta de cultura e de ideias ou propostas para o futuro do país, criticando a mediocridade mental dos representantes da classe dirigente do País.

Redações dos jornais

As redações dos jornais A Corneta do Diabo e A Tarde são o reflexo da decadência, da parcialidade, dos vícios e da corrupção no jornalismo português.

Teatro da Trindade

No episódio do sarau no Teatro da Trindade, evidencia-se a futilidade da sociedade burguesa, assim como a sua falta de cultura, de gosto e de sensibilidade para a arte.

A crónica de costumes

A crónica de costumes constitui um segundo nível da ação, que engloba os comportamentos das personagens figurantes, a representação de cenários sociais e a relação da personagem central com eles. Os episódios de representação social encaixam harmoniosamente no desenrolar da intriga, desenvolvendo-se, no entanto, paralelamente a ela e de forma autónoma.

Episódios representativos:

O Jantar no Hotel Central, uma espécie de homenagem de Ega ao banqueiro Cohen, marido da sua amante, proporciona o primeiro encontro de Maria Eduarda e Carlos da Maia. As conversas focam vários aspetos das esferas políticas, culturais, sociais e económicas do País, como o estado deplorável das finanças públicas, o endividamento crónico português e a necessidade de reformas extremas e radicais.
No episódio das corridas de cavalos, faz-se um retrato caricatural da sociedade lisboeta no seu esforço de cosmopolitização, promovendo um espetáculo que não se adequa aos hábitos culturais portugueses. Os resultados das corridas são, por isso, desastrosos, o que se verifica ao nível do desinteresse generalizado do público, do espaço inadequado, dos comportamentos desajustados, das roupas impróprias para a ocasião, da falta de desportivismo dos participantes e da apatia nas apostas. Eça critica, assim, o falso cosmopolitismo, o provincianismo e a falta de civismo dos portugueses.
No episódio do jantar na casa dos Gouvarinhos, são postos em destaque a "estreiteza" de pontos de vista do Conde de Gouvarinho, a ignorância de Sousa Neto e a incompetência e mediocridade mental da aristocracia e da classe dirigente portuguesas.
O episódio das redações dos jornais "A Tarde" e "A Corneta do Diabo" evidenciam a corrupção e a falta de ética no jornalismo, assim como o seu sensacionalismo e parcialidade.
O episódio do Sarau literário da Trindade encerra uma crítica à sociedade lisboeta, retratando o atraso cultural português, o convencionalismo sentimentalista e o provincianismo, cujo reflexo se encontra no apreço e admiração do público pelo discurso oco de Rufino e na falta de sensibilidade para apreciar o verdadeiro talento, neste caso o de Cruges.
O passeio final de Carlos e Ega por Lisboa, dez anos após a partida de Carlos para a sua viagem pelo mundo, encerra uma crítica ao imobilismo da sociedade portuguesa, que se mantinha exatamente igual, ao provincianismo da sociedade lisboeta, à falta de competência e fôlego nacionais para concluir os grandes empreendimentos, à imitação do estrangeiro, à decadência dos valores genuínos e ao vencidismo presente no discurso dos dois amigos.

Personagens-tipo em "Os Maias"

A minha opinião

Helena Rodrigues, 11ºB, nº7

Trabalho de Português, maio de 2020