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Serpentes peçonhentas do Brasil

Autor: Prof. Dr. Ricardo Mendonça Neves dos Santos

Resumo: “Serpentes peçonhentas brasileiras” apresenta uma visão geral sobre sistemática e identificação dos principais ofídios brasileiros. Esta oficina não habilita nenhum aluno a manusear serpentes, sejam elas quais forem, mas procura desmistificar diversos mitos com relação a estes animais e indica os principais cuidados que devem ou não ser tomados no caso de envenenamento por veneno de serpentes. A oficina é organizada em dois módulos que contemplarão as características básicas da evolução e diversidade dos ofídios peçonhentos do Brasil, a apresentação das características anatômicas que facilitam a identificação destes animais, bem como discussões sobre as ações do veneno no corpo humano e os mitos e verdades que envolvem este grupo zoológico. A oficina terá monitoria eletrônica, onde as questões serão avaliadas automaticamente fornecendo ao aluno as respostas em tempo real. É necessário que o usuário esteja conectado à internet de forma a acessar conteúdos audiovisuais e materiais em formato PDF. Alguns textos serão oferecidos em língua estrangeira sendo, portanto, requerido um conhecimento básico de inglês e espanhol.

Objetivos da Oficina: Dar suporte às disciplinas de Cordados e Anatomia Humana no estudo das particularidades das serpentes e ações decorrentes de acidentes ofídicos. Proporcionar o maior conhecimento sobre a história natural dos ofídios, bem como ressaltar os diferentes tipos de serpentes peçonhentas brasileiras.

Público Alvo da Oficina: Alunos e docentes de Biologia, Farmácia, Enfermagem, entre outros, além de outros funcionários que queiram conhecer um pouco mais sobre as serpentes peçonhentas brasileiras.

Conteúdo Programático: A oficina se composta de três módulos básicos que abordarão o conhecimento da estrutura morfológica das serpentes, as principais espécies de interesse médico do Brasil, a ação dos venenos e os cuidados necessários para o tratamento que envolvem estes animais.

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I

Morfologia e caracterização de Ophidia

Serpentes fazem parte de um grande grupo zoológico, definido de acordo com a sistemática lineana, como Classe Reptilia, ou popularmente, répteis. De acordo com Martins & Molina (2008) esse grupo inclui diversas linhagens (lagartos, serpentes, anfisbenas, quelônios e jacarés), embora algumas delas sejam pouco aparentadas entre si. Hoje sabemos que jacarés são muito mais aparentados com as aves do que com qualquer outro grupo de reptilianos. Mas isso fica para uma próxima oficina.

As 2900 espécies de serpentes variam em tamanho, desde as espécies escavadoras diminutas, que se alimentam de cupins e crescem apenas até 10 centímetros, até as grandes constritoras, com quase 10 metros de comprimento (Pough et al., 2008). Todas carecem de patas, muito embora os grupos basais ainda apresentem esporões que denotam a presença vestigial da região da cintura pélvica.

Para embasar seus conhecimentos a respeito da morfologia e caracterização de uma serpente, leia o Capítulo 11 – Os Lepidosauria: tuatara, lagartos e serpentes, itens 11.1 – Os Lepidosauria; 11.3 – Irradiação dos Squamata e 11.4 – Ecologia e Comportamento dos Squamata, do livro A Vida dos Vertebrados (Pough et al., 2003) disponível na biblioteca.

Após ler o texto sobre serpentes, veja este vídeo que se transformou em um viral na internet, um pesquisador testa o efeito de uma única gota de “veneno” da espécie Daboia russelii (Viperinae) em um copo com sangue. Esta serpente não ocorre no Brasil, mas o efeito do veneno deste animal é semelhante ao encontrado em serpentes brasileiras como cascavéis e jararacas. A peçonha atua diretamente no fibrinogênio, transformando-o em fibrina, uma proteína que constitui uma porção importante do coágulo sanguíneo.

RESPONDA AGORA AS QUESTÕES DO MÓDULO I

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II

Principais serpentes peçonhentas brasileiras

Bem, agora que sabemos o que é uma serpente vamos falar um pouco das serpentes peçonhentas brasileiras. Mas afinal, uma serpente é venenosa ou peçonhenta? Qual a diferença de veneno e peçonha? Normalmente as pessoas utilizam indiscriminadamente estas duas palavras como se fossem sinônimos, porém existem diferenças. A peçonha representa uma substância tóxica de origem exclusivamente animal que é inoculada no interior do corpo de um indivíduo utilizando dentes, espinhos ou outras estruturas. Por outro lado, o veneno, que também é uma substância tóxica, tem sua ação devido a ingestão, absorção cutânea ou inalação. No primeiro caso, há a ruptura do tegumento, causando lesões superficiais. No segundo, não é necessário que ocorra um corte ou perfuração da pele, além do veneno poder ser de origem animal, vegetal ou sintético.

No Brasil existem quatro gêneros de serpentes peçonhentas de grande interesse médico e que são responsáveis por 99% dos acidentes ofídicos: Crotalus (cascavéis), Bothrops (jararacas), Lachesis (surucucu) e Micrurus (corais verdadeiras). Destas, as jararacas são as que mais frequentemente estão envolvidas nos acidentes ofídicos.

Crotalus

As serpentes do gênero Crotalus estão representadas no Brasil por apenas uma espécie, a Crotalus durissus. São popularmente conhecidas por cascavel, boicininga, maracambóia e maracá. São encontradas em campos abertos, áreas secas, arenosas e pedregosas, raramente na faixa litorânea. Não têm hábito de atacar e, quando ameaçadas, denunciam sua presença pelo ruído característico do guizo ou chocalho, presente na cauda (Pinho & Pereira, 2001).

Bothrops

De acordo com Pinho & Pereira (2001), as serpentes do gênero Bothrops compreendem cerca de 30 espécies, distribuídas por todo o território nacional. Possuem cauda lisa, não tem chocalho e as suas cores variam muito, dependendo da espécie e da região onde vivem. São popularmente conhecidas como jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca do rabo branco, malha de sapo, combóia e caiçaca. Habitam zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Tem hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares.

Lachesis

As serpentes do gênero Lachesis pertencem à espécie L. muta com duas subespécies. É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5 m de comprimento e possuem cauda com escamas eriçadas. São popularmente conhecidas por surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga e malha-de-fogo. Habitam áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e alguns enclaves de matas úmidas do Nordeste (Pinho & Pereira, 2001).

Micrurus

As serpentes do gênero Micrurus compreendem 18 espécies distribuídas em todo o território brasileiro. A espécie mais comum é a M. corallinus, encontrada na região sul e litoral da região sudeste. Apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos em qualquer tipo de combinação. Consideradas animais de pequeno a médio porte são conhecidas por coral, coral verdadeira, ibiboboca ou boicorá. Estas serpentes são bem menos agressivas, tem habitat subterrâneo, apresentam presa inoculadora pequena e não tem a mesma possibilidade de abertura da boca que as outras serpentes. Raramente causam acidentes, e quando o fazem, geralmente picam os dedos da mão de indivíduos que as manipulam (Pinho & Pereira, 2001).

RESPONDA AGORA AS QUESTÕES DO MÓDULO II

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III

Acidentes ofídicos

Além da grande importância ecológica das serpentes, estas ganham maior foco quando destacadas aquelas que são causadoras potenciais de acidentes, em especial envenenamento pelos humanos. Abaixo temos um trecho do capítulo sobre répteis (Martins & Molina, 2008) do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção que relata bem este aspecto.

“O veneno da jararaca comum (Bothrops jararaca), que ocorre ao longo de grande parte da porção leste do Brasil, do Rio Grande do Sul à Bahia, deu origem a medicamentos como os anti-hipertensivos captopril (que garantem um faturamento anual de cinco bilhões de dólares à multinacional Squibb) e evasin (sigla para endogenous vasopeptidase inhibitor), este último patenteado recentemente por pesquisadores do Instituto Butantan, de São Paulo. Outro novo produto é o enpak (sigla para endogenous pain killer), uma proteína com poder analgésico obtida do veneno da cascavel (Crotalus terrificus), cujo efeito pode vir a ser 600 vezes mais poderoso que o da morfina (Bellinghini, 2004). Portanto, a conservação das serpentes venenosas brasileiras preservará também o potencial farmacêutico e socioeconômico de seus venenos. Vale atentar para o fato de que na lista brasileira estão incluídas como ameaçadas três espécies de jararacas (Bothrops pirajaicomo Em Perigo, e B. alcatraz e B. insularis como Criticamente em Perigo), além de uma espécie incluída como Quase Ameaçada (B. fonsecai) e três outras como Deficiente em Dados (as jararacas B. cotiara e B. muriciensis, e a surucucu da Mata Atlântica Lachesis muta rhombeata). Corroborando essas classificações, em uma revisão não oficial do estado de conservação das jararacas brasileiras, B. muriciensis foi classificada como Criticamente em Perigo, B. fonsecai como Vulnerável e B. cotiara como Próximo a Ameaçada (Martins, 2005). Na lista de espécies ameaçadas da IUCN (2006) encontram-se as mesmas três espécies consideradas ameaçadas na lista brasileira (B. pirajai, B. alcatraz e B. insularis). Além disso, seis outras espécies de jararacas (Bothrops spp.) e a surucucu da Mata Atlântica (L. m. rhombeata) aparecem como ameaçadas em várias listas estaduais.”

De acordo com a Secretaria de Saúde do governo do Paraná, em seu site, “as serpentes do gênero Crotalus (cascavéis) distribuem-se de maneira irregular pelo país, determinando as variações com que a frequência de acidentes é registrada. Responsáveis por cerca de 7,7 % dos acidentes ofídicos registrados no Brasil, podendo representar até 30% dos acidentes em algumas regiões. Não são encontradas em regiões litorâneas. Apresentam o maior coeficiente de letalidade dentre todos os acidentes ofídicos (1,87%), pela frequência com que evoluem para insuficiência renal aguda.”

Fonte: http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=395

No próximo vídeo, parte do programa Mordidas Mortais, você verá um documentário sobre a picada de uma cascavel. Muito embora esta espécie não seja brasileira, ela pertence ao mesmo gênero Crotalus das nossas cascavéis.

Leitura dos artigos de Azevedo-Marques et al. (2003) sobre acidentes com serpentes peçonhentas.

Nesta segunda parte da discussão sobre a ação da peçonha de serpentes no organismo, tratamos especificamente de uma intervenção cirúrgica utilizada em casos mais extremos. O estudo de caso refere-se a um acidente botrópico. Leia o texto a seguir de Oporta (2010) e se desejar, assista o vídeo para complementação da discussão.

Vídeo complementar: Fasciotomia ampla devido à ação do veneno botrópico. Nesta sequência de vídeos é possível observar o processo de fasciotomia, intervenção médica na qual o tegumento é cortado para aliviar a pressão causada por uma determinada síndrome compartimental, neste caso, a ação da peçonha já havia causado danos irreversíveis ao membro do paciente.

RESPONDA AGORA AS QUESTÕES DO MÓDULO III

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Bibliografia

Bellinghini, R.H. 2004. Brasil: Laboratórios redescobrem a pesquisa. O Estado de S. Paulo. São Paulo. 15 de fev. de 2004

Martins, M. & Molina, F.B. 2008. Panorama geral dos répteis ameaçados do Brasil. In: Livro vermelho da Fauna Brasileira ameaçada de extinção (A.B.M. Machado, G.M. Drummond, A.P. Paglia, ed.). MMA, Brasília, Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, p.327-334.

Martins, M. 2005. Conservation status of Brazilian Lanceheads Bothrops spp. Brasília, Book of Abstracts, XIX Annual Meeting of the Society of Conservation Biology, Universidade de Brasília. p.128.

Pinho, F. M. O. & Pereira, I. D. 2001. Ofidismo. Rev. Ass. Med. Brasil, 47(1): 24-924

Pough, F.H.; Janis, C.M.; Heiser, J.B. A vida dos vertebrados. São Paulo: Atheneu. 3ª ed., 2003.

The World Conservation Union – IUCN. 2006. 2006 IUCN Red List of Threatened Species. Disponível em: http://www. iucnredlist.org. Acesso em: mai. 2006.

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Ricardo Santos
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