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Investindo em obras e reduzindo perdas, Teresina caminha para universalizar água em 2020 Hérlon Moraes

Teresina é uma cidade que caminha para atingir nos próximos anos a marca de 1 milhão de habitantes. Com a população aumentando, a capital planejada do Piauí se espalha territorialmente forçando o poder público a se readequar no atendimento à população em serviços essenciais, como a coleta de lixo, saúde e iluminação. Em relação especialmente ao saneamento básico, há 2 anos este tipo de serviço deixou de ser uma atribuição pública na zona Urbana da cidade, mas nem por isso os desafios diminuíram, pelo contrário, só aumentaram. O abastecimento de água é um exemplo. Atualmente, são 17 milhões de novos litros de água produzidos por dia para atender uma população estimada em 864 mil habitantes, de acordo com dados do IBGE divulgados no final de agosto deste ano. Segundo a Águas de Teresina, concessionária que administra o abastecimento na capital, entre os anos de 2017 e 2018, as reclamações por falta d’água caíram em até 50% e a universalização já deve acontecer em 2020. Com base nessas estatísticas, o Cidadeverde.com percorreu quatro bairros de Teresina, um em cada região, para saber da população o que mudou nos últimos anos.

Bairros visitados pelo Cidadeverde.com em julho deste ano

Era entardecer de uma terça-feira, 16 de julho, quando a reportagem chegou ao Conjunto Primavera I, na zona Norte de Teresina. Uma equipe da Águas de Teresina trabalhava na correção de um vazamento na rua João Borges do Nascimento. Enquanto o Cidadeverde.com aguardava o senhor Estevam Pires, presidente da Associação de Moradores, lá estava a dona de casa Maria Letícia Rocha observando atentamente a execução do serviço. Moradora do bairro há 50 anos, ninguém mais apropriado do que ela para descrever a evolução do abastecimento de água na sua comunidade.

Moro aqui há 50 anos. Cheguei aqui com 4 anos. É um bairro bom. Do começo, em relação aos serviços, mudou muita coisa. No início era horrível, mas de uns anos pra cá melhorou muito”, conta.

Ter água nas torneiras diariamente, segundo a dona Maria Letícia, foi um dos principais avanços no Conjunto Primavera. “A força da água aumentou. Era fina. Dia de sábado e domingo faltava nem sair água na torneira, mas agora não, a gente usa normal. Na minha casa, por exemplo, nunca mais faltou”, lembra.

Dona Maria Letícia mora no bairro há 50 anos. Na imagem, ela "fiscaliza" a realização de um serviço. Foto: Hérlon Moraes

Torneira vazia mesmo, segundo a dona de casa, só quando o desligamento é geral. “Antes faltava muito. Qualquer defeito que tinha, como ajeitar um cano, por exemplo, a água já ia embora. Hoje eles ajeitam aí, mas água está lá correndo na torneira. Só falta água quando é geral, e mesmo assim ainda tem casa que sai água”, disse sorridente.

Segundo a Prefeitura de Teresina, o bairro Primavera surgiu por causa de uma chácara na região que levava o mesmo nome e pertencia ao então prefeito Dr. João Olímpio de Melo. A região abrange ainda os conjuntos Primavera I e II. O primeiro foi construído em 1966, já o segundo em 1979. Em 2010, de acordo com o IBGE, a população do bairro representava 1,19% da cidade de Teresina e ocupava a 27ª posição.

Colaboradores corrigem vazamento no bairro Primavera. Foto: Hérlon Moraes

Ao longo dos seus 53 anos, o Conjunto Primavera I passou por inúmeras transformações. O calçamento chegou, depois o asfalto, a água. Esta última foi comemorada por todos, já que um dos principais problemas da comunidade era o abastecimento. “A nossa comunidade é a terceira mais antiga de Teresina e sofria muito com a falta de água. Tanto no Morro da Esperança como aqui na Primavera melhorou bastante”, afirma Estevam Pires, presidente da Associação de Moradores e funcionário público federal.

Estevam Pires aciona a empresa por Whatsapp

De acordo com o líder comunitário, que está em seu primeiro mandato, um dos principais avanços é o canal de diálogo com a concessionária, o que possibilita a resolução de problemas no mais curto espaço de tempo. “A gente sofria muito. E você no papel de liderança sofre também. A pressão vem pra cima de você. Hoje, além de melhorar a água na nossa comunidade, a atual empresa conseguiu outro feito: aproximar as lideranças dela. Hoje nós temos um grupo no WhatsApp com as principais pessoas da empresa ligadas à falta de água, vazamento. Temos o contato de todas essas pessoas e isso melhorou por demais”, comemora.

Lembra do serviço que a dona Maria Letícia Rocha observava? Segundo o presidente da Associação, em menos de 24 horas, e graças à internet, o problema já estava sendo resolvido.

Funcionário da Águas de Teresina faz correção de vazamento na Primavera. Foto: Hérlon Moraes

“Antes era um chá de cadeira para ser atendido, hoje temos uma grande tranquilidade e aproximação. A empresa nos convida para debate com o objetivo de saber o que precisa melhorar e isso é bom demais. Durante o ano há dois encontros com as lideranças por região para ouvir o que precisa melhorar. A gente interage, conversa e resolve as demandas”, declarou.

“Ou a gente dormia ou tinha água em casa”

Ter uma boa noite de sono não era privilégio de 700 famílias que moram na Vila Meio Norte, zona Leste de Teresina. A água nessa região, ainda abastecida por poços, só chegava à noite há pouco mais de dois anos. A triste realidade obrigava os moradores a ficarem acordados para poder ter água em casa e realizar serviços básicos como lavar louças, cozinhar e tomar banho. “Tinham muitos percalços com a falta d'água. Ou você decidia dormir ou decidia ficar sem água. Se você dormisse à noite, no outro dia não tinha água para o uso normal do dia a dia. Então, ou você fazia uma coisa ou outra”, afirma o presidente da Associação Comunitária da Vila Meio Norte I e II, Aristeu Soares dos Santos.

Poço abastece moradores na Vila Meio Norte

O problema, segundo ele, só foi resolvido com a perfuração de novos poços. “Com essa perfuração de novos poços, isso acabou. Este investimento foi altamente valoroso aqui para nós. Hoje a gente pode dormir tranquilo, se não faltar energia. Quando falta energia todo o sistema seca e pra encher de novo demora um pouco”, relata.

O líder comunitário lembra que um dos períodos mais críticos é quando chegava o tão temido B-r-o-bró, onde as temperaturas na cidade ultrapassam facilmente os 40º graus.

A gente tinha uma falta constante de água e quando chegava o período do B-r-o-bró não tinha água era de jeito nenhum. Hoje em dia a gente não tem mais esse problema. Ainda falta água? Falta, mas quando falta energia. Sem energia as bombas desligam.”

A Vila Meio Norte foi criada há 22 anos. Nasceu da invasão de um terreno que posteriormente foi adquirido pela prefeitura e doado aos moradores. No início, a comunidade chegava a ficar 5 dias sem abastecimento de água. “Por conta do desnível, a água só chegava à noite. Já chegamos a passar de cinco dias sem ter água. A solução era armazenar e quando isso não acontecia, a gente passava um bom tempo sem água”, lembra.

Aristeu Soares, presidente da Associação de Moradores da Vila Meio Norte I e II

Por ser uma região afastada na zona Leste e longe dos principais reservatórios, a solução mais rápida encontrada para suprir a necessidade da população local foram os poços. “A gente fica muito distante do Planalto Ininga, onde é o reservatório mais próximo e tem uma adutora. Moramos em um lugar muito alto e não dá para essa potência da água chegar aqui com força para abastecer as famílias, por isso, a necessidade de perfuração de novos poços. A empresa, quando chegou, ao constatar a falta d'água e ela não conseguia solucionar, abastecia a comunidade com carro-pipa. Isso foi muito importante. Era coisa que a gente não via”, relembra.

Distância da Vila Meio Norte prejudica abastecimento

Outro aliado da comunidade para resolver problemas no abastecimento é a internet. Através de aplicativos de mensagens, por exemplo, a Associação tem diálogo aberto com a concessionária. O Cidadeverde.com esteve na Vila Meio Norte e flagrou o momento que o presidente foi acionado por moradores informando que um dos poços estava sem funcionar. Através do Whatsapp, a Águas de Teresina foi avisada do problema, como mostra abaixo o áudio original enviado à empresa.

Cerca de 30 minutos depois, uma equipe que atende a região chegou ao local e reestabeleceu o serviço. “Á Águas de Teresina abriu as portas para as lideranças. Eles chegaram inovando. Eles têm um canal direto com as lideranças. Temos toda uma liberdade de comunicação”, comemora.

Funcionários da concessionária fazem manutenção em poço profundo na Vila Meio Norte

Morador da Vila há mais de 20 anos, o autônomo Alciomar Pereira disse que já perdeu aula várias vezes por ficar armazenando água durante o período noturno.

ALCIOMAR PEREIRA PERDEU AULA POR PASSAR A MADRUGADA PEGANDO ÁGUA

“Eu já tive que pegar água fora daqui e hoje a gente não tem mais esse problema. A gente tinha que ficar acordado até duas horas da manhã ou dormir e acordar às duas horas para poder pegar água. Nesse período eu estudava e muitas vezes eu me atrasava para pode colocar água em casa. Quando amanhecia eu estava com sono e terminava dormindo e não ia para o colégio por causa da falta de água”, relata.

A Vila Meio Norte vive agora a expectativa de ser atendida em breve pela Estação de Tratamento Norte (ETA), localizada na Santa Maria da Codipi. “A empresa nos chamou para a gente conhecer o projeto de abastecimento de água pela ETA Norte. Ela nos deu o cronograma de que até o mês de dezembro nós seremos atendidos pela ETA Norte. Não só aqui, mas a Cidade Jardim”, afirmou o presidente da Associação Comunitária da Vila Meio Norte I e II, Aristeu Soares dos Santos.

Água aos finais de semana

Oficializado bairro em 1988 devido ao loteamento Parque das Esplanadas, o Esplanada, localizado na zona Sul de Teresina, também vive avanços no abastecimento de água. Lá a situação não é muito diferente da Vila Meio Norte, já que parte da água que chega às torneiras sai de poços. O complemento vem de uma adutora que cruza a região e atende dezenas de outros bairros, como a Vila Irmã Dulce.

“Temos poços que reforçam a distribuição da água na rede. Só a adutora não é suficiente, pois abastece também toda a região da Vila Irmã Dulce e outros bairros”, explica Rainou Soares Silva, presidente da Associação de Moradores.

Rainou Soares, presidente da Associação de Moradores do Esplanada

Segundo ele, como o bairro foi planejado e os imóveis financiados, a região surgiu com um sistema de abastecimento próprio pago pelos moradores. “O sistema (abastecimento de água) do bairro nós pagamos incorporado com a Caixa, junto às prestações. Toda a implantação do sistema e o reservatório foram os moradores que pagaram. Esse sistema era gerenciado pela comunidade, só que devido aos problemas, foi repassado para a Agespisa. Depois da grande Irmã Dulce foram esticando as redes e a parte mais alta do Esplanada terminou sendo penalizada”, lembra.

Com os investimentos feitos nos últimos anos, as reclamações diminuíram e atividades que não eram realizadas antes, passaram a ser rotina entre os moradores.

Antes os moradores não podiam contar com água aos finais de semana para as atividades domésticas. Eram os dias de folga que as pessoas tinham para cuidar da casa e das roupas e não sabiam se ia ter água ou não”, conta.

De acordo com o líder comunitário, por conta da tubulação antiga, a região sofria muito com vazamentos. “Em vista do sistema que a gente tinha, melhorou bastante. Quando a atual empresa entrou eu fui à reunião e até disse que só ia parabenizar com 5 anos de atuação, mas já temos dois anos e presenciamos grandes avanços. Para poder não faltar água muitos poços foram reativados. Todo tempo a qualidade da água é acompanhada para poder chegar na rede”, destaca.

Assim como os outros líderes comunitários, seu Rainou também destaca a comunicação como ponto positivo para solucionar os problemas do bairro. “Quando vai faltar eles avisam nos meios de comunicação, pelas redes sociais. Antes era um apagão. Faltava e ninguém sabia o motivo. Hoje a realidade é outra. Os poços aqui praticamente estão todos funcionando. Quando ocorre um vazamento, a gente ajuda mandando imagens para o Whastapp da empresa”, afirma.

Segundo dados da Prefeitura de Teresina, em 2010 a população do bairro Esplanada representava 2,4% da capital e ocupava a 8ª posição. Na última década a população aumentou 47,9%.

Lata d'água na cabeça

Afastado do trabalho por problemas de saúde, o auxiliar de serviços gerais, Juarez Fernandes, de 59 anos, sabe bem o que passou para ter água em casa. Ele mora na Vila Monte Horebe, comunidade da zona Sudeste que integra o Grande Dirceu Arcoverde. Por ser uma região bastante alta, a água só chegava nas casas se os moradores fossem pegar com latas nas ruas de baixo.

Monte Horebe, zona Sudeste

"Já tem uns 20 anos que eu moro aqui, desde quando fundaram o Monte Horebe. No começo a gente pegava água lá embaixo (apontando para o final da ladeira da rua onde mora), o povo brigando com a gente, correndo atrás à noite. Não tinha água aqui não", relata o morador, que atualmente passa o tempo vendendo cartelas de bingo.

Seu Juarez tinha dez latas para pegar água. Foto: Hérlon Moraes

Seu Juarez lembra que ficava acordado até duas horas da madrugada esperando a água chegar. Quando ela aparecia no cano, o engarrafamento de latas se formava.

Fazia fila de lata pra gente pegar água do cano que passa lá embaixo. Eu trabalhava no shopping nesse tempo e tinha umas dez latas. Agora entrou essa rede de água e melhorou mais um pouco. Só falta agora dia de domingo e feriado", reclama satisfeito.

Subir ladeira com duas latas grandes nos ombros era motivo de comemoração, mas também tinha suas consequências. "Aqui teve gente que fez foi adoecer nessa época. Com duas latas nas costas não tinha como não adoecer da coluna", conta.

Morador mostra onde pegava água no Monte Horebe

A água, como em qualquer casa, é usada para realizar tarefas domésticas e para o consumo humano. Para o presidente da Associação de Moradores, Ariosvaldo Magalhães Lima, mais conhecido como Teinha, a situação na região era considerada crítica. "A nossa situação no passado era muito crítica. A nossa área é muito alta e tínhamos que esperar até de noite a água chegar na rua de baixo. Fazia fila. Nesses últimos 2 anos melhorou muito”, conta.

Ariosvaldo Magalhães, líder comunitário do Monte Horebe: "Hoje a realidade é outra"

Para o líder comunitário, mesmo ainda com certa deficiência de água aos finais de semana, a realidade da região não é mais a mesma de anos atrás. “Hoje, em comparação ao que era, não tem nem o que dizer. Antes faltava era a semana toda, só chegava à noite. Hoje a dificuldade é apenas aos finais de semana, mas a gente consegue se programar e consegue superar sem estar transportando água em latas e baldes. Antes aqui era uma realidade latas e filas nas ruas de baixo”, lembra.

Por dentro do abastecimento de água

O abastecimento de água faz parte de um conjunto de serviços ligados ao saneamento, como esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana. Tem como objetivo levar água potável a uma comunidade para consumo doméstico e serviços públicos e privados. Em Teresina, a ETA Sul é responsável por abastecer 80% dos lares. Os poços profundos respondem por 12% do total, enquanto a ETA Norte leva água para 8% da população. São 2.450 km de rede levando água de 71 reservatórios com capacidade total de armazenar 90 milhões de litros.

Com o incremento de 17 milhões de litros por dia, a Águas de Teresina tem como meta universalizar o abastecimento na capital até 2020. Segundo o Ranking do Saneamento Básico – 100 Maiores Cidades do Brasil, divulgado pelo Instituto Trata Brasil em 2019, há 45 municípios brasileiros, nenhum deles no Piauí, que possuem 100% de atendimento urbano de água, ou seja, possuem serviços universalizados em atendimento de água. Destes, nove são capitais: Boa Vista, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, João Pessoa, Palmas, Porto Alegre e São Paulo.

“Fizemos um planejamento para a universalização da água em 3 anos. A expectativa é que no máximo até a metade de 2020, a gente já esteja com 100% da universalização. A universalização é atendimento 24 horas por dia com o abastecimento de água. Várias obras já foram realizadas para melhorar a condição geral da cidade. É um reflexo que está bem claro para a população. Foram feitos poços na zona Sul, ampliação de bombeamento no grande Dirceu e novas adutoras para melhorar as condições de abastecimento. De uma forma geral melhorou muito o abastecimento em relação ao início da concessão em 2017”, explica Fernando Lima, coordenador do Centro de Controle e Operações da Águas de Teresina.

Fernando Lima mostra o sistema interligado da Águas de Teresina

Segundo ele, para garantir água o dia inteiro em toda zona Urbana de Teresina, três grandes obras estão em andamento. “A adutora da Codipi, chamada de adutora Meio Norte, é uma delas. Com 10km de extensão e uma tubulação de 400 milímetros, ela vai atender a região do grande Pedra Mole. Estamos fazendo a ampliação da ETA Codipi, que é uma segunda etapa de modernização. Vamos ter novos sistemas de decantação e floculação para melhorar o abastecimento e garantir que essa adutora que estamos construindo seja abastecida com esse incremento do volume de água. A previsão de conclusão das obras é de 6 a 8 meses. Imaginamos que no máximo em fevereiro estas obras estejam concluídas”, informa.

Centro de Operações da Águas de Teresina

A terceira obra considerada vital para a universalização é a adutora Centro-Leste, localizada no bairro Jóquei. “Essa adutora possui 4km e atende o Jóquei, Ininga e o Horto. É uma forma de melhorar a condição geral de abastecimento de água da cidade. Eu começo a disponibilizar mais água para o extremo leste, região com condição de abastecimento mais delicada. Eu amplio a capacidade da ETA Norte, que vai desafogar um pouco a ETA Sul, que hoje abastece 80% da cidade”, destaca o coordenador.

Fernando Lima ressalta ainda que a regulação fundiária é outro passo importante para que a empresa atinja seu objetivo de levar água todo dia às torneiras. “Isso é um tema que ainda gera muita polêmica, pois são áreas que foram invadidas e a gente só pode entrar e executar as obras de ampliação de rede, instalação dos hidrômetros, quando a área de fato for regularizada pela prefeitura. Estamos acompanhando de perto o cronograma da prefeitura para, imediatamente após a liberação, entrar regularizando. É uma obrigação nossa, mas também é uma obrigação social, pois vai trazer mais qualidade de vida das pessoas”, afirma.

Capitais que atingiram a universalização no abastecimento de água urbano. Fonte: Trata Brasil

De acordo com a empresa, nos próximos seis meses devem ser regularizados os residenciais Padre Humberto e Dandara dos Cocais, na Zona Norte. Vila Conquista I e II na zona Leste. Recanto dos Pássaros e Residencial Pedro Balzi na zona Sudeste e Parque Eliana na zona Sul. Com a regularização, o índice de perdas cai de forma satisfatória.

“São quase 6 milhões de reais em redes que estão sendo executados nos próximos 6 meses para garantir abastecimento nas águas que estão sendo liberadas. Tudo tem acontecido conforme o cronograma. Isso vai melhorar a questão das perdas, onde temos uma atuação forte. Começamos o contrato com 64%, hoje estamos com 44.9% e a meta é chegar a 25%”, declara.

Captação e tratamento

A água que sai das torneiras em casa demora pelo menos 4 horas para chegar ao ponto de ser distribuída. O processo é demorado e requer todo um aparato tecnológico e químico em busca de um produto com qualidade e que atenda as normas de saúde. O Cidadeverde.com esteve na ETA Sul, que abastece 80% de Teresina, e acompanhou de perto o trabalho de captação e tratamento da água.

Floculadores da ETA SUL

O primeiro passo é colocar dentro da estação de tratamento, a água do Rio Parnaíba. Para isso são necessárias três bombas que funcionam como uma espécie de nível entre o rio e a estação elevatória. “Na captação eu tenho um conjunto de bombas que vai fazer o transporte dessa água que vem do rio e colocar ela para dentro da estação. Elas fazem o equilíbrio do nível do rio. São três bombas. A partir daí começa o processo de tratamento com etapas químicas e físicas”, explica Alexandre Oliveira, gerente de produção da Águas de Teresina.

Local exato onde a água é captada no rio Parnaíba

Com a água do Velho Monge (apelido dado ao Rio Parnaíba pelo poeta Da Costa e Silva) captada, tem início os processos físicos e químicos na estação de tratamento.

Após entrar na estação, este é o primeiro local onde a água recebe produtos químicos

“Até chegar na torneira são algumas etapas clássicas. Na captação a gente vai fazer o tratamento a partir de um conjunto de estruturas e de um conjunto de processos físicos e químicos. O primeiro ponto é a adição de produto químico, que funciona como um catalisador de processos. O processo de tratamento nada mais é do que eu pegar essa água inatura do rio e separar o que ela tem de impureza, deixando a água em condições de potabilidade, em condições de ser consumida pelo ser humano sem risco à saúde”, afirma o gerente.

Alexandre Oliveira, gerente de produção da Águas de Teresina

Segundo ele, o produto químico vai forçar uma junção das impurezas que estão dissolvidas na água. “As impurezas vão se agrupar para formar uma molécula um pouco maior, que é o que a gente chama de floco, que é a reunião das impurezas que estavam dissolvidas na água. Com isso ela ganha peso e tamanho. A partir do momento que ela ganha peso, ela vai cair (afundar) por processos físicos de separação. Aí eu tenho o floculador que vai ajudar o floco a ganhar tamanho para depois passar pelos decantadores. Esse floco ganhando peso vai afundar na estrutura dos decantadores, detalha.

Floculador torna as impurezas pesadas para que fiquem submersas

O gerente explica que graças ao floculador, os decantadores recebem uma água já com quase zero de impurezas.

Decantador da ETA SUL tira impurezas da água

“Depois que sai do floculador, 90% das impurezas da água do rio têm que ficar retidas até o decantador. Os últimos 10% vão sair no filtro. Depois do filtro já vai pro tanque de contato. Seria o polimento do tratamento, onde é aplicado o flúor e cloro pra promover a desinfecção. Depois disso, a água fica retida por 40 minutos para eliminar microrganismos que, por ventura, tenham passado pelo filtro. Após isso, de fato, ela está pronta para ir pra rua”, afirma.

Máquinas trabalham 24 horas por dia na ETA SUL

Finalizado o processo de tratamento, o primeiro reservatório que recebe água é o do Parque Piauí. A capacidade de armazenamento é de 25 milhões de litros. De lá, a água segue para toda a cidade de Teresina. Segundo o gerente, a ETA Sul produz 3.100 litros por segundo, totalizando 267 milhões de litros por dia.

capacidade de alguns reservatórios

Clique na imagem para ver em alta resolução. Fonte: Águas de Teresina

“Da entrada da água até a chegada no tanque são três horas. No tanque de contato ela fica 40 minutos para que o cloro faça a função de bactericida. O processo todo dura umas quatro horas antes de cair na rede de distribuição”, explica o gerente.

Reservatórios do bairro Morro da Esperança. Foto: Roberta Aline

Tratamento e qualidade da água

Enquanto a água passa por tratamento, outra equipe se debruça em laboratório para garantir a qualidade do produto. São analisadas cerca de duas mil amostras por mês. “A gente tem dois tipos de monitoramento: primeiro é o operacional, que acompanha todo o processo de tratamento. O setor de operação faz controle de hora em hora de alguns parâmetros que são importantes para ver como está o andamento do processo. A qualidade funciona como um segundo estágio”, explica Kenya Martins, supervisora de laboratório da Águas de Teresina.

Laboratório da Águas de Teresina analisa mais de duas mil amostras. Foto: Hérlon Moraes

Segundo a supervisora, além da água que é produzida e tratada, a água que é distribuída também passa por controle de qualidade. “Diariamente são realizadas coletas nas saídas de tratamento em todos os bairros da cidade. Nossos colaboradores de qualidade vão até os pontos que consideramos mais críticos para fazer esse controle. A gente tem que garantir que lá numa ponta de rede, como por exemplo no bairro Socopo, ela tenha a mesma qualidade da que é produzida na ETA Sul. Como a rede de distribuição é muito longa, pode existir vazamentos que interferiram na qualidade, por isso, a gente faz esse controle sistemático”, afirma.

abastecimento de água em números

Clique na imagem para ampliar os dados

As coletas são levadas para o laboratório diariamente onde são feitos controle de parâmetros físico-químicos e microbiológicos. “São duas mil amostras microbiológicas e duas mil físico-químicas. Observamos o cloro, cor, PH, turbidez, dureza, ferro, alumínio, amônia, nitrito, nitrato, flúor”, explica.

Potabilidade

A água produzida em Teresina atende ao que recomenda a portaria de consolidação número 5, do Ministério da Saúde, publicada em outubro de 2017. O índice de turbidez aceitável, por exemplo, é 5. “Aqui no tratamento a gente trabalha para que a turbidez do rio, que chega às vezes com pico de 800, seja reduzida aos níveis estabelecidos. A população tem que receber uma água com no máximo 5 NTU de turbidez”, afirma. NTU significa em português Unidade Nefelométrica de Turbidez (Nephelometric Turbidity Unity).

Quem já parou para observar, a conta de água que o consumidor recebe em casa traz os principais parâmetros de qualidade. Os números são encaminhados também para o Sistema de Vigilância Ambiental.

Kenya Martins, supervisora de laboratório

“A divulgação dos cinco parâmetros é obrigatória na conta. Esses números também são informados para o sistema de Vigilância Ambiental. Como a cidade abastecida é muito grande, a gente trabalha com plano de amostragem. Esse plano é todo delimitado na portaria do Ministério da Saúde. Fazemos isso pelo número da população abastecida”, informa a supervisora.

Conta de água traz parâmetros de qualidade

Água dos poços também é monitorada

Respondendo por 12% do abastecimento da capital, a água dos poços profundos também passa pelo controle de qualidade. “Da mesma forma que a gente trata o sistema convencional, tratamos os sistemas que são alimentados por poços. Hoje em Teresina nós temos nove sistemas de tratamento. Todos eles têm uma quantidade mínima de amostras a serem coletadas e analisadas e informadas para o sistema de vigilância”, ressalta Kenya.

Poço localizado na Vila Meio Norte

Segundo ela, o sistema alimentado por poços tende a ter uma maior qualidade do que uma água suprida pelo manancial. “Os rios ficam expostos a contaminação, dejetos. A água superficial está mais exposta do que a do poço, que é filtrada naturalmente pelo solo. Os controles são os mesmos”, garante.

Programa aproxima a comunidade

As demandas nos bairros Primavera, Vila Meio Norte, Monte Horebe, Esplanada e em tantos outros de Teresina foram atendidas com mais rapidez graças a um programa que aproxima os moradores da concessionária. O Afluentes conhece as necessidades, ouve sugestões e opiniões sobre os serviços prestados. Tudo dentro da comunidade durante reuniões programadas. Foi o que aconteceu na quarta-feira, 23 de outubro, na Vila Leonel Brizola, zona Norte de Teresina. A região surgiu de uma invasão há 8 anos e só agora ganha uma rede de água padronizada. Por conta da novidade, a empresa chamou os moradores para explicar como vai funcionar o serviço de abastecimento. Em um comércio localizado na rua 29, cerca de 50 pessoas acompanhavam atentamente as orientações dos diretores da empresa.

Reunião do Programa Afluentes na Vila Leonel Brizola. Foto: Yasmim Cunha

“A empresa percebeu desde o início de suas atividades que esse relacionamento era fundamental. O Afluentes é um programa que a gente estende desde 2006 em outras concessões e nos últimos anos estamos aprimorando. Teresina, inclusive, é um grande desafio para nós nesse aspecto, já que os problemas são diversos. Vão desde áreas irregulares que precisaram passar por regularização fundiária, como o abastecimento, a precariedade das tubulações, enfim, de inúmeros problemas que só têm como ser resolvidos com o envolvimento das comunidades. Esse programa vem para isso”, explica Pedro Alves, gerente de sustentabilidade da Águas de Teresina.

Diretores da empresa tiram dúvidas de moradores. Foto: Yasmim Cunha

Segundo o gerente, uma equipe da empresa monitora as comunidades diariamente para atender as demandas. “A gente tem uma equipe que circula todas as comunidades. Qualquer necessidade, nós temos hoje aproximadamente 300 líderes cadastrados dentro do nosso programa. Eles têm um canal de WhatsApp direto com a gente. O atendimento desses líderes não entra na fila do 0800, eles passam direto pro atendente. A gente sabe que quando eles nos procuram é uma coisa muito urgente, que tem que ser priorizado. Então, a gente cria todos os mecanismos possíveis para ter uma relação muito estreita com eles”, destaca.

Além das redes sociais, o gerente afirma ainda que os líderes têm acesso aos telefones de diretores da empresa para agilizar as demandas. “A gente disponibiliza telefones de todo o estafe da organização para buscar a solução melhor. Eles são o para-choque da situação. Todos os problemas começam ali (comunidade). Eles passando isso pra gente, ganhamos um enorme tempo. Ainda não temos uma automação para saber de todos os problemas e em todos os momentos. Isso é muito importante”, ressalta.

A Vila Leonel Brizola ganhou sete quilômetros de rede de abastecimento. A obra custou cerca de R$ 800 mil e já beneficia mais de 680 famílias. “O que nós fizemos aqui foi uma implantação de rede de água padronizada com novas ligações de água também. Aqui foram implantados mais de sete quilômetros de redes e mais de 600 novas ligações no sistema Vila Leonel Brizola, que é separado do conjunto já existente”, explica Diogo Freitas, coordenador de serviços comerciais da Águas de Teresina.

A Vila Leonel Brizola ganhou 7km de rede de abastecimento

Segundo ele, a região era abastecida por gambiarras e aguardava liberação do município para que a obra fosse feita. “Há um ano nós fizemos umas ligações provisórias com total autonomia e proatividade. O objetivo era não deixar as famílias sem água, até que nós tivéssemos autorização do município para poder atuar. Por mais que essas áreas estejam no perímetro urbano, se não tem uma regularização fundiária, não podemos implantar a nossa rede de abastecimento. Só após a autorização da prefeitura nós podemos implantar toda a nossa rede de abastecimento para poder, realmente, levar água tratada para a população da Vila Leonel Brizola”, destaca.

Sonho que virou realidade

Durante a reunião com a concessionária para informar que a obra no bairro estava chegando ao fim, muitos moradores não seguraram a emoção. Alguns deles estavam tendo água em suas torneiras pela primeira vez desde a ocupação do lugar. Sandra Carvalho, presidente da Associação de Moradores, foi uma das pessoas que não escondeu a satisfação de nunca mais ter que pegar água na rua para ter em casa.

“É um sonho. Foi muito sofrimento. A situação antigamente era muito complicada. Era pegando água com balde na cabeça. Era gente com carrinho levando água, crianças, idosos. Era um sofrimento muito grande. Hoje é a realização de um sonho. É maravilhoso. Hoje eu só agradeço a Deus, em primeiro lugar, e a empresa por ter colocado água nas torneiras”, comemora.

Sandra Carvalho comemora a chegada da água na comunidade. Foto: Yasmim Cunha

Moradora da vila há 7 anos, Sandra relembra relatos de moradores antes da água chegar. “Uma senhora carregava água e sempre quando eu a encontrava, eu dizia que ia mudar essa realidade. E ela dizia que confiava. Outra moradora chegou pra mim e disse que ia embora daqui, já que não aguentava mais ter que carregar água 7 horas da noite. Aí eu perguntei se ela confiava em mim e pedi pra ela ficar, pois a gente ia mudar essa realidade. Hoje ela me abraçou, chorou”, diz emocionada.

A realidade agora, segundo a presidente da Associação, é de água 24 horas nas torneiras. “Moro há 7 anos, mas a invasão já tem 8 anos. Antes aqui não tinha nada. A gente pegava água do conjunto e quem teve oportunidade puxou canos de lá e do Jacinta Andrade, mas mesmo assim a água não subia para as casas e as pessoas precisavam carregar água. Eles (a empresa) me prometeram água 24 horas e estão cumprindo. Daqui pra frente é só alegria e que venham mais realizações, pois aqui ainda falta muito. O primeiro passo que conseguimos foi água, essencial para a vida", afirmou.

Em 3 anos, a concessionária já investiu algo em torno de 600 milhões de reais em melhorias que vão se refletir nos próximos 30 anos.

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Hérlon Moraes
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