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nbd novo basquete delom

"No começo sempre os seguranças embaçavam com a gente, como assim pô entra um tanto de gente nessa UFS porque tem que barrar logo 'nóis'?"

Reclamava Mago, morador do bairro Eduardo Gomes, região metropolitana de Aracaju e que está quase terminando o ensino médio na escola do bairro. A gente se conheceu jogando basquete em uma das quadras da Universidade Federal de Sergipe, na verdade é a última quadra, aquela lá do fundo, onde só existem duas velhas armações com uma tabela de madeira empenada cada uma e um aro enferrujado sem redinha. Durante dois meses eu comecei a assistir, toda segunda, quarta e sexta o 'baska' do Novo Basquete Delom(bra); sempre na beira da quadra de concreto cercada de mato, nunca me chamavam pra jogar junto, não sei se era porque eu saia direto do trabalho e passava lá quase sempre de calça jeans e camisa de botão, até que um dia parecia faltar alguém no time.

Basquete de rua

Street fazendo uma bandeja na tabela de madeira empenada com o aro sem redinha.
Na foto nós temos o Batata, Clay e o Mago que faz o sinal com as mãos. Todo fim de tarde a partir das 16:20 rola o 'baska' três contra três que os meninos chamam de X-3.
" E aí mano, cê joga?"

Eu não pensei duas vezes, de calça jeans e camisa de botão mesmo, havia muito tempo que não jogava. Empolgado, voltei na sexta, depois na segunda e depois na quarta de novo, depois de conseguir acertar alguns pontos logo eu já me senti bem à vontade. "Ei mano, me passe seu What'sApp, vamo colocar você no grupo" a partir daí eu comecei a frequentar o NBD constantemente, e não só a jogar basquete, mas conhecer as histórias de Mago, Clay, Tidi, Smurf, Batata, Beiço, Street, Mulsumano e outros garotos que saem do Rosa Elze, Eduardo Gomes e Tijuquinha, todos bairros periféricos que ficam aos redores da UFS e entram na universidade para jogar basquete por ser a única quadra em condições de uso na região.

Cenas no X-3 onde os jogadores jogam em uma tabela só.

Falas sobre abusos sempre eram constantes nos diálogos após os jogos, o que me motivou à construir essa narrativa fotográfica, além de conseguir viajar pelo cotidiano periférico da zona oeste de Aracaju, foi ter presenciado situações como a de 'Smurf' que em desespero não entendia porque sua foto, sem autorização, havia parado em mais um desses blogs policiais, a notícia dizia que ele estava fazendo arrastões com uma moto em seu bairro, a notícia era falsa. A partir desse momento eu senti uma grande necessidade de construir um imaginário fotográfico que aproximasse as pessoas das vidas desses garotos e sobre tudo os estudantes da universidade federal de Sergipe.

Lance livre, momento clássico do basquete, durante a disputa do x-3.

RAP

"Sem bola pros playboy da saneamento, que só pregam ego esquecendo de nossos talentos

De periferia molecada de quebrada vai crescendo e pelo rap tá

Não tá entendendo que nós devemos resgata-los e mostrar o caminho do conhecimento."

Essa foi uma das rimas que ouvi quando decidi entrar um pouco mais na vida dos meninos, eu estava lá, no estúdio improvisado nos fundos da casa de Clay, onde a galera se reúne pra criar as letras, bolar não só os beats e brincar de rima improvisada durante toda à tarde antes do 'baska'; foi muito doido perceber como eu era invasor, a todo momento eu tinha isso no subconsciente. Eu tomava dois ônibus pra chegar no estúdio, o 035 centro para terminal zona oeste via Saneamento, e depois o Tijuqiunha 032-2 terminal zona oeste até o fim de linha do Eduardo Gomes, descia no ponto da faixa de gás, onde Clay havia me orientado; sim, eu era o playboy da Saneamento que havia sido citado na primeira faixa da mixtape que eles haviam composto meses antes de me conhecer, isso trouxe a tona o que agora não estava só no meu subconsciente, eu sabia que era estranho ali, e que eu estava ali pra reconhecer o talento de cada um para que eles pudessem me mostrar o caminho do conhecimento, como diz a letra do rap.

O estúdio também é o quarto do Clay, de boné vermelho.
Detalhes do processo de criação no estúdio.

O estúdio improvisado é do conjunto de Rap Nine Senses que é composto por Clay, Vito, Batata e Mago alguns dos garotos que conheci no basquete, mas também é um espaço de encontro da galera. Jogar basquete por várias semanas até chegar ao estúdio e conhecer o som dos caras abriu portas para que eu pudesse conhecer mais da comunidade do Rosa Elze.

O estúdio tem apenas algumas caixas de som e um computador para criação dos beats. Ainda falta a grana do microfone que está sendo arrecadada.
Enquanto os beats são produzidos a galera brinca de batalha de rimas.

PERIFERIA

Marcamos um dia para dar um rolê na comunidade, vito sugeriu que fossemos pra um pico chamado 'Nova Iorque', disse que não sabia o porque do nome, mas que lá dava pra ter uma vista previlegiada de toda a cidade.

Logo que chegamos Vito posou pra foto no pico 'Nova Iorque'.

A este ponto, depois de ter saído da quadra de basquete e agora estar na última rua da comunidade do garotos, que até então, eram estranhos para mim, me deu liberdade para fazer alguns retratos.

Enquanto andávamos cada um me contava um pouco da histórias da comunidade, desde apontar as casa dos amigos que já foram mortos por conta do envolvimento com o tráfico de drogas, até a igreja que ficava no alto da ladeira.

Este ginásio no bairro Eduardo Gomes está abandonado.

Tive o prazer de construir esse imaginário fotográfico lado à lado com os meninos.

Created By
Eric Almeida
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