Consequência do conflito político separatista que há anos se arrasta no País Basco, na Espanha, pelo menos 352 pessoas são mantidas encarceradas em território espanhol, francês e português. São homens e mulheres, dispersos em prisões tão distantes que obrigam familiares a percorrerem até 1.200 km para visitá-los nos fins de semana.
"Em 1989, todos os presos políticos foram separados por conta da política de dispersão. Só podíamos receber visitas de parentes próximos, não podíamos escrever mais de duas cartas por semana, o contato direto foi suspenso e ficamos isolados. Nossas famílias já não podiam organizar excursões de visitas, que passaram a ser feitas em grupos menores. Isso os deixava expostos aos ataques de movimentos de extrema direita."
Gloria Rekarte, ex-presa política
Todos esses presos estão sob a política de dispersão do governo espanhol, em vigor há 26 anos, amparada na Lei Antiterrorismo adotada para combater a atuação do ETA. A sigla representa Euskadi Ta Askatasuna em basco (ou Pátria Basca e Liberdade, em tradução livre), grupo armado que aterrorizou a Espanha por décadas em defesa da independência do País Basco.
Desde janeiro de 2011, o ETA depôs as armas e anunciou um cessar-fogo permanente. Ao longo de quatro décadas, o conflito produziu 829 mortos entre civis, autoridades, policiais e membros do grupo separatista.
Passados cinco anos, a incômoda política de dispersão que espalhou os presos que defenderam a independência basca mobiliza familiares e ex-prisioneiros. Grupos que defendem uma ampla anistia tentam atrair atenção com manifestações nas ruas de cidades como Bilbao, San Sebastián e Pamplona, no norte da Espanha.
Quem são os presos políticos que a Espanha mantém encarcerados em tempos de paz e democracia? Como advogados e organizações de direitos humanos veem a política de dispersão e isolamento do governo espanhol? Quais os efeitos dessa política sobre as famílias de defensores da independência basca encarcerados em prisões longínquas? Quais os planos do governo para esses prisioneiros?
"Precisamos libertar os prisioneiros e trazer de volta os exilados. Até que isso aconteça, qualquer reconciliação vai ser difícil porque nem todos voltaram para casa."
Anton Lopez Ruiz, ex-militante do ETA que passou 26 anos na prisão por envolvimento na morte de 13 pessoas
- Uma reportagem eder content em formato curto
- Em Navarra, entrevistamos familiares, ex-presos políticos, autoridades e organizações de direitos humanos
- Entrega do conteúdo pronto para publicação em 20 de janeiro de 2017