QUATRO DÉCADAS
Há 40 anos, o EMB 312 Tucano realizava seu primeiro voo e rollout no Brasil. Para celebrar este marco, o Centro Histórico Embraer compartilha a jornada de sucesso dessa aeronave, que já fez parte de 15 frotas de forças aéreas no mundo.
O MOMENTO
Em 19 de agosto de 1980, a Embraer parou. Voava, pela primeira vez, o treinador turboélice EMB 312 Tucano, considerado treinador por ser uma das primeiras aeronaves utilizadas no treinamento de pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB). Na mesma época, a Embraer marcava presença em 17 países do mundo e já era responsável por fabricar onze tipos de aeronaves, que totalizavam 2.200 entregas.
Projetado para modernizar a frota de aeronaves de treinamento da Força Aérea Brasileira (FAB), o Tucano ofereceu uma série de características inovadoras para a época e que se tornaram padrão mundial para as aeronaves de treinamento.
Até sua apresentação e primeiro voo, que aconteceram no aniversário de onze anos da Embraer, milhares de horas de dedicação e persistência marcaram o desenvolvimento do projeto que durou pouco mais de 18 meses.
CRISE E OPORTUNIDADE
Graças à crise do petróleo ao final da década de 1970, a operação de aeronaves com motor a pistão e a jato se tornou inviável no treinamento de pilotos da FAB. Naquele momento, a solução mais recomendada seria adotar aparelhos com motores turboélices, considerados mais econômicos.
Na época, as aeronaves utilizadas para treinamento de pilotos da FAB eram Aerotec T-23 Uirapuru, Neiva T-25 Universal e o jato Cessna T-37 – este com operação dificultada devido à falta de peças.
Ozires Silva, diretor superintende da Embraer na época, soube que a Cessna não conseguiria entregar peças de reposição para o T-37, e logo vislumbrou a oportunidade de desenvolver uma aeronave totalmente nova na Embraer. Ozires relembra dessa história:
MÃOS À OBRA
Após a Embraer definir as linhas gerais do novo avião, o Ministério da Aeronáutica assinou contrato, em 6 de dezembro de 1978, que deu início ao seu desenvolvimento. O documento estabeleceu prazos, definiu características técnicas preliminares e previu a construção de três protótipos.
A construção do primeiro protótipo foi um recorde: ficou pronto em apenas cinco meses e dez dias, exatamente na data marcada no cronograma.
Depois, um longo e meticuloso programa de testes se iniciava, sob a supervisão do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). O protótipo foi submetido a uma série de voos e suas características foram examinadas. Paralelamente, outras partes da aeronave foram sujeitadas aos testes estáticos e de fadiga para avaliação da solidez de sua estrutura.
COMO UM JATO
O EMB 312 Tucano foi o primeiro avião de treinamento desenvolvido e produzido desde o início como turboélice e que mantinha características de aviões a jato.
Além de comandos do grupo motopropulsor centralizados em única manete, o que facilita o trabalho do piloto, o avião adotou assentos na configuração em tandem escalonados (com o posto traseiro mais elevado para a visão do instrutor). Outra inovação foi a inserção de assentos ejetáveis, um importante recurso de segurança.
BATISMO
Para definir o nome do avião, um concurso foi realizado entre cadetes do Ninho das Águias – escola da Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga, no estado de São Paulo.
O então cadete Carlos Fernando de Souza Panissa, do quarto ano, foi quem venceu o concurso ao sugerir o nome “Tucano”.
Em 23 de outubro de 1981, a aeronave, que já era chamada de Tucano, foi batizada oficialmente pelo próprio Carlos Panissa.
Ozires Silva relembra o concurso:
APRESENTAÇÃO OFICIAL
O voo inaugural do primeiro protótipo do Tucano, matriculado como YT-27 1300, pilotado pelo então piloto-chefe da Embraer, Luiz Fernando Cabral, e pelo engenheiro de voo Luiz Carlos Hideo Otaka, aconteceu no mesmo dia em que a Embraer comemorava seus 11 anos de existência.
CONQUISTANDO O MUNDO
As primeiras exportações do EMB 312 foram para Honduras e Egito. Em terras egípcias, a Embraer teve sua primeira experiência com montagem de aeronaves no exterior.
Tempos depois, a Real Força Aérea (RAF), do Reino Unido, deu início a uma acirrada concorrência militar para desenvolvimento de sua aeronave de treinamento. A Embraer conseguiu parceria com a Short Brothers PLC e o modelo do Tucano foi modificado para vencer a disputa, se transformando no Shorts Tucano.
Vencida a disputa no Reino Unido, a ampla repercussão internacional possibilitou novas vendas. Em 1991, a Embraer firmou um acordo de venda de 80 unidades do avião à Força Aérea Francesa.
Na América do Sul, além de se destacar nas missões de treinamento, o Tucano também ajudou a combater o narcotráfico.
Ao todo, 15 forças aéreas no mundo operaram ou operam com o Tucano. A produção do avião foi encerrada em 1996, com 624 aviões produzidos.
SUPER TUCANO
O EMB 314 Super Tucano é uma aeronave completamente nova. Diferente do Tucano, que é responsável por treinamento básico, o Super Tucano foi projetado para ataque leve e treinamento tático e avançado.
É o único avião de ataque leve projetado desde o início para atender demandas de combate aéreo e severas condições de pouso e decolagem. Seu primeiro voo ocorreu em 1999.
Atualmente, o Super Tucano está presente em mais de 15 Forças Aéreas no mundo, incluindo Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), e soma mais de 365 mil horas de voo e 45 mil horas de combate.
HISTÓRIAS PARA CONTAR
A aposta de Joseph Kovacs
Joseph Kovacs (1926-2019), considerado um dos principais nomes da Indústria Aeronáutica Brasileira, era húngaro naturalizado brasileiro e participou da equipe que desenvolveu o primeiro EMB 312 Tucano. Em depoimento ao Centro Histórico Embraer, em março de 2011, Kovacs relembrou uma tática usada por ele para acelerar a construção do primeiro protótipo da aeronave.
O motor parou em voo
Guilherme Cará, piloto de provas, ingressou na Embraer há mais de quatro décadas e liderou a Equipe de Voos de Produção. Ele foi um dos primeiros a pilotar o EMB 312 Tucano, ainda na etapa de testes. Em depoimento ao Centro Histórico Embraer, em maio de 2011, Cará relembrou quando o motor do único protótipo da aeronave parou em um ensaio em voo. Será que ele ejetou?