Golpe de proporções exponenciais cortes do governo ameaçam a pesquisa matemática brasileira
Imagens de André Teixeira e texto de Liana Melo
O silêncio costuma ser interrompido pelo som de idiomas que, além do português, vai do inglês ao francês passando pelo espanhol, russo e até pelo persa. Espalhados pelas três alas do prédio do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), 226 matemáticos desenvolvem projetos complexos, praticamente todos eles com repercussão internacional.

O Impa é uma unanimidade entre os especialistas dos principais centros de pesquisa do mundo. Sua produção científica é vista como mais robusta do que a de outras instituições como Harvard, Princeton e Berkeley. Entre os muitos prémios acumulados em seis décadas, o jovem matemático, e aluno do Impa, Artur Avila, ganhou, há dois anos, a Medalha Fields, equivalente ao Prêmio Nobel da área. Seu orientador foi o matemático Jacob Palis, apontado como gênio mundial dos sistemas dinâmicos.

Tamanho acúmulo de conhecimento e respeito internacional não é suficiente para blindar o Impa do corte de gastos previsto no governo interino Michel Temer. Caso o convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) não seja renovado nos próximos dias, o futuro do Impa corre sérios riscos. O prazo final é 30 de maio.


Rodeado de árvores da Floresta da Tijuca, os projetos desenvolvidos pelos alunos envolvem equações complexas e algoritmos. É do Impa um dos recordes mundiais recentes: uma imagem com a maior resolução gráfica do planeta.


Responsável por uma linhagem de super pesquisadores, o Impa sobrevive de recursos públicos e doações privadas. Se o corte de gastos previsto por Temer atingir o Impa, como teme a direção da instituição, a pesquisa matemática no país sofrerá um golpe de proporções exponenciais.



