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justiça climática Desenvolvimento de um fórum de conscientização climática que potencialize a replicação da experiência para diferentes atores.

Esse relatório tem como objetivo sistematizar os conhecimentos gerados pelos Projetos Referência dos grupos que passam pela Formação Integrada para Sustentabilidade no contexto do Mestrado Profissional em Gestão para Competitividade da FGV EAESP.

Formação Integrada para Sustentabilidade

MISSÃO . criar condições para fazer emergir um sujeito consciente e engajado consigo mesmo, na relação com os outros e com o todo, com sensibilidade, inteligência prática e fundamentação teórica em sustentabilidade.

Como a Formação Integrada funciona na prática?

Compreendemos que aprender é uma capacidade intrínseca e constantemente presente em nossa vida. Estamos sempre, como aprendentes, nos desenvolvendo, em constante processo de produção de nós mesmos num processo que se dá de maneira integrada: pelo o que nos acontece de fora para dentro, e pelo que percebemos, sentimos e compreendemos de dentro para fora. Visando a emergência deste sujeito mais integrado, nos baseamos em em princípios da Transdisciplinaridade, buscando combinar conteúdos e atividades que promovam:

Espaços para o processo pessoal de produção de sentidos de cada sujeito (autoformação), para troca e aprendizagem pelas relações do grupo (heteroformação) e para aprendizagem pelo contato com o ambiente e o conjunto de relações complexas que nele acontecem (ecoformação).

Condições para a vivência e a expressão do conhecimento por meio não apenas de conceitos e teorias (razão formal), mas também por meio de projetos aplicados, viagens de campo e outras experiências práticas (razão experiencial) e atividades de cunho corporal, artístico, reflexivo e contemplativo (razão sensível).

Nosso processo estrutura-se ao redor de dois eixos:

Projeto de Si Mesmo: atividades, vivências e conceitos que buscam provocar nos alunos uma percepção ampliada de si mesmos, dos outros e da realidade, ativando, expandindo e contribuindo com a apropriação do seu potencial sensível/perceptivo, reflexivo e criativo. Ao longo dos três semestres da Formação Integrada esperamos que os alunos possam:

  • Desenvolver linguagem para perceber, abordar e atuar numa realidade complexa (multirreferencial e muldimensional);
  • Integrar a dimensão subjetiva e sensível como fonte de conhecimento;
  • Incorporar o diálogo como atitude de abordagem ética;
  • Reconhecer a complexidade da realidade e identificar seus diferentes níveis e perspectivas/paradigmas.

Projeto Referência: projetos voltados a desafios reais, onde conhecimentos de gestão possam ser ampliados e aplicados sob a ótica da sustentabilidade. Os semestres I e II terão um Projeto Referência diferente, o qual será proposto e selecionado pelo próprio grupo. De maneira geral, o tema do PR deve estar relacionado à dimensão trabalhada no semestre e oferecer uma entrega prática e aplicável. Por seu caráter altamente prático e experiencial, o PR oferece uma oportunidade singular para o grupo entrar em contato direto com situações complexas, que envolvem diversas realidades, atores e variáveis, e onde não há respostas óbvias e prontas. Ao final do semestre, a entrega do projeto é apreciada por convidados externos e avaliada pelo próprio grupo e pelos professores da disciplina, conforme critérios de avaliação detalhados abaixo. Por meio do PR, esperamos que os alunos possam:

  • Ampliar sua percepção sobre a realidade e suas relações, por meio do entendimento e da busca por soluções práticas a desafios reais da sustentabilidade;
  • Conectar os conceitos e ferramentas que estão na fronteira do conhecimento em Sustentabilidade com suas práticas de gestão;
  • Integrar conhecimentos dos diferentes temas da sustentabilidade e da gestão, com visão crítica e sistêmica.
  • Atuar como agentes de mudança e transformação rumo ao desenvolvimento sustentável.

O percurso para este processo de trabalho é baseado na Teoria U: desenvolvida por Otto Scharmer e outros pesquisadores da área de Aprendizagem e Mudança Organizacional do MIT, “a Teoria U propõe que a qualidade dos resultados que obtemos em qualquer sistema social é consequência da qualidade de percepção e consciência a partir da qual operamos nestes sistemas.” (Presencing Institute) Trata-se de um framework; um método para liderar mudanças profundas; e uma maneira de ser – conectando aos aspectos mais autênticos e elevados do indivíduo.” Como processo, a Teoria U propõe três macro etapas: (i) Observar, observar, observar ("descida do U"): investigar e compreender um sistema de dentro dele, interagir com os stakeholders chave, abrir-se à escuta, sentir; (ii) Retrair e refletir ("meio do U"): silenciar para conectar-se consigo mesmo e com sua fonte sensível de percepção e criatividade (Presencing); e (iii) Agir em um instante ("subida do U"): deixar emergir resultados inovadores colocando em prática as soluções possíveis - ainda que em forma de protótipos - e aprendendo com elas.

SAIBA MAIS ACESSANDO NOSSOS VÍDEOS

Justiça Climática

Desenvolvimento de um fórum de conscientização climática que potencialize a replicação da experiência para diferentes atores.

Integrantes: Antônio Alves, Carol Jungmann, Cassia Nakano, Débora Horn , Luciane Barbosa , Renato Raposo

Enunciado

Questões e inquietações iniciaisFontes de investigação (stakeholders envolvidos, bibliografias, dados secundários etc) e Formas de coleta de dados (kick off, entrevistas, observações)

Kick off

Na seleção de convidados para o kick off, buscamos equilibrar representantes da imprensa (especializada em sustentabilidade e de negócios), de movimentos sociais de periferia, da academia e do poder público. Ainda nesta etapa nos questionávamos sobre o formato de nossa entrega final, o que dificultou a seleção de convidados com antecedência para o kick off.

No dia do evento, contamos com a participação de Amália Safatle (editora da Página 22), Célia Rosemblum (editora de projetos especiais do Valor Econômico) e Thiago de Souza Borges (fundador do Periferia em Movimento). Um de nossos convidados, o capitão Marcelo Robis Francisco Nassaro da Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo não pôde comparecer. Durante a conversa na mesa com nossos convidados, optamos por um formato mais aberto com dois objetivos prioritários: (i) compreender em que medida cada um deles está familiarizado com o conceito de justiça climática e (ii) identificar em que medida esse conceito se aplica em seu dia a dia.

A partir das falas dos convidados presentes, sentimos que embora haja interesse pelo tema da justiça climática, não há conhecimento específico sobre esse assunto. Notamos que tampouco se tem a percepção de que grande parte da vulnerabilidade a que a população pobre está exposta decorre de questões climáticas, como inundações, desabastecimento de energia e água, desmoronamentos, entre outros. Os participantes também alertaram que a nossa comunicação sobre o tema seria mais eficiente com abordagens mais atraentes para a questão, evitando o discurso do medo e o foco nas mazelas, para que os debates não permanecessem restritos ao nicho dos ambientalistas.

Saímos do kick off com uma sensação bastante aflitiva, com dúvidas sobre a ambição de nosso projeto, o formato da entrega e os públicos que poderíamos engajar na entrega final. Percebemos a necessidade de aprofundarmos nossa fundamentação teórica sobre o conceito de justiça climática e nosso repertório de injustiças climáticas, para a partir daí buscar uma alternativa de entrega que permitisse alinhar os diferentes públicos sobre o que é justiça climática e como ela se manifesta.

Entrevistas e reuniões

Ricardo Barreto e Cyntia Feitosa (Comunicação GVCes)

Como nossa primeira ideia, antes do kick off, era trabalhar com foco em comunicação, buscamos dialogar com os profissionais de Mobilização e Conteúdo do GVCes, a fim de verificar, especialmente, se o tema despertaria interesse dos veículos de comunicação e se o formato de entrega previsto até então - um workshop para jornalistas - seria adequado. Ao conhecerem o tema e os objetivos do Projeto Referência, Ricardo e Cyntia demonstraram entusiasmo, destacando o caráter "provocador" da proposta, visto que o debate sobre justiça climática ainda é bastante incipiente.

Porém, deram um “choque de realidade” em relação ao jornalismo atual e ao público que prevíamos como prioritários de nosso workshop. Enfatizaram a enorme mudança vivenciada na prática do jornalismo e na difusão de informação, que vem deixando para trás, de certa forma, o protagonismo dos grandes veículos. A comunicação se dá em rede e os propulsores das pautas são os chamados “empreendedores cognitivos”, interlocutores definem e disseminam pautas as suas comunidades temáticas.

Segundo eles, seria fundamental entendermos e mapearmos esse cenário para (i) identificar com quem de fato queremos dialogar (ii) quais são os espaços/meios/pessoas com mais potencial de aderir a essa pauta e (iii) de que forma o tema da justiça climática já é trabalhado por esses atores (ainda que não com esse título) e que podemos também adotar.

Contribuíram, ainda, com diversas sugestões de meios de comunicação e redes que trabalham com lógica diferenciada, tratando de temas correlatos e com inserção em comunidades da periferia - sobre os quais nos dedicamos a pesquisar e conhecer melhor nos dias seguintes à conversa.

Por fim, sobre o formato da entrega, apontaram que o workshop era uma ideia interessante, mas não com o nosso intuito inicial de reunir porta-vozes de peso para disseminarem a perspectiva da justiça climática. Sugeriram que utilizássemos esse encontro como um espaço de escuta + aporte + debate, em uma dinâmica de design thinking ou world café, em que nosso grupo atuaria como facilitador. Na opinião deles, a troca de experiências e de impressões sobre impactos em cada contexto pode gerar mais valor e qualificar o debate para o futuro. Comentaram, como referência, sobre uma série de eventos do GVCes chamado “Bode na Sala”, em que são debatidos temas de grande relevância com diferentes interlocutores e o registro permanece como fonte de pesquisa.

Consideramos que essa conversa foi crucial para a mudança de perspectiva do projeto e, especialmente, para a definição da entrega, de modo que as sugestões foram o embrião do Painel a ser realizado no U-Planet.

Guarany Osório, professor do GVCes

Acessamos o professor por duas vezes. Na primeira, também antes do kick off, para ouvir sua opinião acerca do tema e do recorte a ser enfatizado. Ele confirmou a incipiência do debate sobre justiça climática, mesmo em fóruns dedicados a mudanças do clima, e sugeriu fontes de pesquisa para a definição do viés - porém, ressaltou que não tinha experiência com o tema e, por isso, sua contribuição poderia ser limitada. Na segunda consulta, realizada já em meio à organização do Painel no U-Planet, nosso objetivo era obter feedback sobre a proposta do evento, bem como sugestões sobre definição do escopo do debate em Recife. Como principal contribuição, Guarany sugeriu que aproveitemos o encontro entre diferentes grupos interessados na Política de Mudanças Climáticas local para extrairmos as perspectivas e os desafios identificados por cada grupo envolvido.

Nicole Oliveira, líder da 350.org no Brasil

A ONG 350 trabalha na orientação, educação e empoderamento de comunidades para discussão de projetos em suas cidades/regiões e tem militado pela eliminação do uso de combustíveis fósseis no mundo e contra a extração de petróleo via fracking, face os danos ambientais causados por esse processo.

A conversa com Nicole foi realizada em Curitiba (PR), com a finalidade de compreender melhor a atuação da entidade e sua intersecção com justiça climática. Descobrimos que eles desenvolvem diversos projetos na área.

No Brasil um dos mais relevantes é realizado no Ceará, junto a comunidades próximas às usinas eólicas, por meio da oferta de treinamento às comunidades de forma que se capacitem e possam discutir em igualdade de condições com os empresários que implantam as usinas. Outro projeto interessante no Nordeste é o de instalação de pequenas usinas solares nas casas. São usinas com capacidade de fornecer energia para uma casa de seis habitantes. Assim os moradores adquirem independência do sistema elétrico tradicional.

Entretanto, as atividades voltadas para a justiça climática ainda são ações de mitigação e não de adaptação à mudança climática. Ainda assim, em nossa conversa vimos que suas atividades são muito aderentes ao que pretendemos desenvolver em nosso PR. Por isso mesmo a Natália mostrou-se interessada em nosso projeto com foco na cidade de Recife e as políticas públicas locais. A cidade de Recife é considerada uma das cidades mais ameaçadas pela mudança climática na costa do Brasil e já vem sendo foco de ações da 350.

Moacyr Cunha Araújo Filho, professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador da Rede Clima

Contatado virtualmente, pois está trabalhando temporariamente fora do país, o professor Moacyr Araújo confirmou nossa percepção de que Recife seria um excelente palco para a discussão sobre justiça climática, em virtude de ser uma das cidades brasileiras (e do mundo) mais afetadas pelas mudanças do clima, devido à situação topográfica e geográfica. Além disso, explicou a organização da Rede Clima e indicou alguns nomes de pesquisadores e outros atores que poderiam contribuir para o Painel.

Outras interações

Além da interação com as fontes citadas anteriormente, seguimos em contato com outros stakeholders importantes para o projeto, especialmente os convidados para nosso Painel do U-Planet:

1) Inamara Mélo, secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife;

2) Alexandre Gusmão, vice-diretor da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de Pernambuco (UPE);

3) Fátima Brayner, presidente do Instituto de Gestão (INTG); e

4) Amália Safatle, editora-fundadora da Página 22.

Vale registrar que algumas interações, embora muito desejadas pelo grupo, não tiveram êxito. Exemplo disso foi a tentativa frustrada de diálogo com representantes do Instituto Socioambiental (ISA), ONG que aborda a questão da mudança climática, com foco na responsabilidade e proteção de comunidades vulneráveis. Apesar das diversas tentativas de contato, não tivemos retorno de seus interlocutores. Outro exemplo foi o jornalista André Trigueiro, reconhecido pelo engajamento em temas correlatos. Contatado pela equipe, ele nos respondeu por duas vezes, mas não tinha disponibilidade de agenda para nos atender.

Pesquisa em imprensa

Ainda no início do trabalho, quando buscávamos compreender de que forma se dava a interação da imprensa tradicional com o tema, nos empenhamos em identificar, em veículos de grande circulação por notícias que mencionassem "justiça climática" ou temas correlatos. Para isso, procuramos por matérias publicadas entre 01/01/2015 a 03/10/2016 nos seguintes veículos:

  • A Tarde/BA
  • Correio Braziliense
  • Estado de Minas/MG
  • Folha de S. Paulo
  • O Estado de S. Paulo
  • O Globo
  • Revista Carta Capital
  • Revista Época
  • Revista Exame
  • Revista IstoÉ
  • Revista IstoÉ Dinheiro
  • Revista Veja
  • Valor Econômico
  • Zero Hora/RS

Após a análise das matérias, constatamos que, embora o termo "justiça climática" não fosse mencionado de forma explícita nas matérias, aspectos relacionados ao tema eram abordados na cobertura jornalística, especialmente quando a pauta eram desastres ambientais ou consequências de intempéries climáticas. Essa análise reforçou nossa percepção de que, talvez, os jornalistas ainda não estivessem preparados para executar pautas mais aprofundadas sobre justiça climática, dado o desconhecimento do conceito.

Levantamento de estudos acadêmicos

À medida que avançamos na interação com os stakeholders e, mais recentemente, na organização do Painel, aumentava a necessidade de aprofundamento teórico sobre o tema central do Projeto Referência. A seguir, apresentamos um resumo dos principais conceitos e análises encontradas nos textos acadêmicos pesquisados.

Objetivos gerais de políticas de incorporação das demandas por justiça social:

Cada nação deve desenvolver políticas de planejamento urbano adequadas às vulnerabilidades locais, priorizando ações de redução de vulnerabilidades sociais críticas (ex. Reassentamento de populações em áreas de risco);

Políticas públicas devem promover a resiliência dos grupos mais vulneráveis, tais como obras de infraestrutura em áreas carentes, investimento em sistemas de drenagem urbana e tratamento de efluentes para reduzir o impacto de enxurradas;

Em âmbito local, governos devem desenvolver planos estratégicos de ação e monitoramento de eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, ciclones, furacões, entre outros;

Devem ser priorizados programas de pesquisa científica para identificação de problemas de saúde associados às mudanças climáticas e eventos climáticos extremos. Com o aumento de enchentes é esperado aumento de doenças infecciosas de veiculação híbrida (parasitoses intestinais, hepatites virais, leptospirose, entre outras);

Democratização dos processos político-decisórios, com mecanismos de inserção e de participação das camadas socialmente vulneráveis da população;

Outras questões relevantes no desenho de políticas públicas subnacionais:

Iniciativas do Governo Federal devem fomentar a capacidade adaptativa dos estados por meio de (i) capacitação de gestores públicos estaduais (ii) maior integração com instituições de pesquisa para criação de base científica relevante (SPERANZA e RESENDE, 2015).

Medidas de adaptação devem entender as vulnerabilidades em perspectiva sistêmica, na qual as dimensões ecológica, geofísica e socioeconômica têm igual importância, tendo em vista sua natureza multicausal (MAY e DA VINHA, 2012).

Por consequência, as políticas públicas devem contemplar ações coordenadas de planejamento, atuando conjuntamente entre diferentes setores (agrícola, energia, transporte, florestas, etc.).

Ex. O WWF (2009) cita como prioridade a articulação e a integração dos planos de ordenamento territorial, de uso e ocupação do solo, de bacias hidrográficas, urbanísticos, e de zoneamento ecológico-econômico.

Mapeamento de políticas relacionadas

Além do referencial teórico, analisamos acordos internacionais e políticas públicas relativas ao tema, a fim de identificar a abordagem quanto à mitigação e à adaptação e a inclusão do conceito de justiça climática. Com esse intuito, foram analisados os seguintes documentos:

  • Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
  • Política Nacional sobre as Mudanças Climáticas (Lei nº 12.187)
  • Decreto Regulamentador da PNMC (Decreto nº 7.390/2010)
  • Política Estadual de Enfrentamento às Mudanças Climáticas de Pernambuco (Lei nº 14.090/2010)
  • Política de Sustentabilidade e Enfrentamento às Mudanças Climáticas do Recife (Lei nº 19.011/2014)

Mapeamento do tema em movimentos sociais

A partir da conversa com a Cinthya e Ricardo (Comunicação GVCes), percebemos que havia um movimento inverso de comunicação ganhando força. Cada vez mais veículos e movimentos alternativos, vindos da periferia, ganhavam peso no mercado editorial. Esse público poderia ser muito importante para ampliarmos o debate sobre justiça climática, partindo de exemplos e situações da capital paulista. Por isso, estudamos cada um deles, identificando o nível de cobertura que davam a assuntos de mudanças climáticas e o nível de maturidade dessa cobertura, conectando aspectos sociais e impactos no cotidiano das pessoas às questões ambientais.

Identificamos que muitos deles já estavam falando de justiça climática, sem usar o termo, porém trazendo o tema para a realidade local e sempre com um olhar de empoderamento das comunidades. Entre os mais representativos estavam:

  • Periferia em Movimento: na cobertura da COP21, usaram o enfoque muito local, com depoimentos de representantes de diferentes grupos do Grajaú que haviam se reunido semanas antes para debater a questão climática. A reportagem inclusive abre falando sobre como os mais pobres serão os mais atingidos pelas mudanças climáticas e sobre a necessidade de ampliar o debate sobre essa questão para além das universidades e ambientalistas.
  • 350.org: ONG global de mobilização pelo combate às mudanças climáticas, incluem em seus princípios a justiça climática. Eles promovem diversas ações e campanhas para mobilizar populações em diferentes países. Em 2015, eles organizaram a Marcha Climática Global nos dias 28 e 29 de novembro e promoveram uma parceria com diversas entidades para a campanha Não Fracking Brasil, que chamou atenção para os riscos e impactos da extração de xisto e conquistou, no mesmo ano, a proibição dessa atividade em 51 municípios.
  • Instituto Socioambiental (ISA): ONG de defesa dos direitos socioambientais, focada na comunidade indígena. Eles incluem, entre outros assuntos, a questão da mudança climática, com foco na responsabilidade e proteção de comunidades vulneráveis. No Espaço do Clima da Sociedade Civil da COP 21, o ISA apresentou em um evento os impactos das mudanças climáticas sobre comunidades indígenas, inclusive com depoimentos de lideranças dessas comunidades na Amazônia.
  • Rede Nossa São Paulo (+ Movimento Cidades Sustentáveis): rede com mais de 700 organizações sociais da capital paulista, coordena o Programa Cidades Sustentáveis, desenvolvido em parceria com o Instituto Ethos e a Rede Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis. Tanto nos grupos de trabalho da Rede quanto na proposta do Programa, não há um eixo ou bloco específico sobre mudanças climáticas, mas o tema é abordado pelo GT de meio ambiente e em indicadores como concentração de CO2 e temperatura média mensal. Tentamos contato com os coordenadores da iniciativa, Mauricio Broinizi e Oded Grajew, mas não conseguimos entrevistá-los.

Principais aprendizados e insights

As descobertas de nossa descida revelaram que os desafios envolvidos em nosso Projeto Referência vão muito além da comunicação, como havíamos suposto no início do trabalho. Isso porque o conceito de justiça climática se mostrou desconhecido não apenas por jornalistas, mas pela sociedade como um todo. Nesse contexto, "Precisamos falar sobre isso" acabou se tornando nosso novo mote e, embora seguíssemos reconhecendo os meios de comunicação como atores fundamentais à disseminação do tema, decidimos por ampliar o público-alvo de nossa entrega.

Essa foi a principal motivação para mudarmos o formato da entrega, passando de um workshop para jornalistas a um evento que permitisse o diálogo entre diferentes atores envolvidos com o tema. A decisão também foi resultado de nosso desconforto com o risco da discussão, que se mostra tão necessária e urgente, ficar restrita a um pequeno grupo.

Isso nos levou a uma definição importante: em vez de trabalhar com foco em São Paulo, usando como exemplo a escassez hídrica, promover um evento em Recife (PE), cidade onde, segundo sondagens prévias de Renato, as discussões sobre mudanças climáticas se encontram avançadas, por meio da articulação entre as diferentes esferas de governo, instituições de ensino e pesquisa e movimentos sociais. Pareceu-nos, então, uma excelente oportunidade para incluir a agenda da justiça social nessa mobilização.

Quando tomamos essa decisão, assumimos o desafio de articular com os atores locais a organização de um evento específico para o debate do tema. Assim, mapeamos os atores que poderiam ter interesse na iniciativa, entre universidades, órgãos de governo e organizações de terceiro setor e passamos a contatá-los.

Após aventar realizar o painel em uma universidade local, tomamos conhecimento da realização do U-Planet, festival com foco em desenvolvimento sustentável, a ser realizado entre os dias 24 e 27 de novembro de 2016 em Recife. O evento é uma evolução do "Pernambuco no Clima", movimento que discute economia sustentável e mudanças climáticas há cinco anos.

Ao constatar o alinhamento entre a temática do festival e nosso Projeto Referência, batalhamos para "cavar" espaço na programação do evento para debater o tema. Nessa empreitada, a defesa insistente, junto aos organizadores do U-Planet, da relevância do tema foi fundamental. Por isso, comemoramos muito quando os organizadores aceitaram nossa proposta, cedendo espaço na programação oficial para um painel sobre justiça climática, sob nossa total responsabilidade -- o que envolve desde a seleção e o convite dos painelistas até a produção do conteúdo a ser debatido. Uma grande vitória, que tem nos motivado a trabalhar intensamente para o aproveitar ao máximo essa oportunidade.

No tópico a seguir, relatamos com mais profundidade como todas essas descobertas, interações e conquistas foram vivenciadas por nosso grupo.

O dilema da contribuição

Quando Cássia propôs o tema da justiça climática na dinâmica de Open Space, a ideia inicial era propormos uma alteração ou uma carta aberta ao poder público relacionada à política de mudanças climáticas de São Paulo. Esse formato de entrega tinha muito a ver com a formação e atuação da Cássia na Escola de Direito da FGV. Quando o grupo se formou, após a rodada de mesas, nos vimos com metade dos integrantes em ocupações relacionadas à comunicação. E, previsivelmente, a proposta de entrega já havia mudado para algo relacionado a jornalistas, pensando na formação deles para cobrir a temática e enxergá-la nas coberturas jornalísticas.

Saímos dessa dinâmica inicial de formação do grupo bastante animados. Alguns felizes por ver o apoio à ideia, a vontade de abordar o tema; outros animados em promover essa justiça climática e de alguma forma amenizar o sofrimento dos mais vulneráveis; todos muito animados, até brincando que éramos "justiceiros climáticos".

Continuamos as conversas nas semanas seguintes, fechando o foco na cidade de São Paulo, pela facilidade logística e pela recente crise hídrica que alertou a todos sobre a escassez de água (que pode ser agravada pelas mudanças climáticas). Focamos nesse nicho na escolha de convidados para o kick off, pensando inicialmente em formar jornalistas para a cobertura do tema. Após uma conversa inicial com a Cinthya e o Ricardo (Comunicação GVCes), percebemos que nossa abordagem em relação aos jornalistas estava equivocada, que uma comunicação unilateral de formação não seria tão efetiva. Partimos então para a proposta de um diálogo de stakeholders, porém ainda focados no universo paulistano.

No kick off, tivemos mais uma balançada no projeto, mas dessa vez pareceu uma reviravolta. Percebemos nos convidados um nível de conhecimento bastante baixo sobre o tema, apesar da afinidade e interesse, e uma dificuldade de entender a relevância disso no dia a dia, com a percepção de que havia assuntos mais urgentes. Essa constatação nos fez rever a ambição inicial de promover uma ação concreta que minimizasse a injustiça climática, dando um passo atrás nessa conversa: era necessário em primeiro lugar alinhar o conceito entre os diferentes públicos e identificar como a justiça climática estava presente no dia a dia.

Continuamos a pesquisa com outras fontes de fundamentação teórica e entidades não governamentais, mas nos sentíamos sem muita direção. A sensação era um pouco de vagar a esmo, tateando a subida do U, que estava ali em algum lugar, mas não a enxergávamos. Realmente mergulhamos com mente e coração abertos, na esperança de algo iria emergir.

Então numa nova – e feliz – reviravolta, vimos novamente o projeto dar uma guinada. Pelos contatos de relacionamento do Renato, surgiu a oportunidade de alinharmos nossa entrega (painel de diálogo entre diferentes públicos sobre justiça climática) ao evento UPlanet, que está sendo organizado em Recife. A cidade, apesar da distância geográfica, é um exemplo muito interessante para abordarmos o tema: políticas municipais mais avançadas sobre o tema; hub da Rede Clima; uma das regiões litorâneas mais vulneráveis do país às mudanças climáticas com forte ocupação urbana de encostas. De repente, tudo convergia para Recife e aquela luz que sabíamos que existia em algum lugar no nosso mergulho apareceu.

A partir daí continuamos a descida, investigando o que havia em Recife e em que medida poderíamos contribuir para esse debate. Conversamos com outros stakeholders, avançamos nas pesquisas e, acima de tudo, voltamos a sentir a empolgação e união do grupo em torno do objetivo comum. O curioso nesse processo é que essa empolgação se manifestou de forma diferente em cada um dos integrantes, mas pudemos perceber que estava lá, cada qual na sua evolução pessoal contribuindo para o projeto.

Com altos e baixos, a descida não foi uniforme e muito menos tranquila. Apesar de já estarmos focados na formatação do evento – que afinal integrará a agenda do UPlanet –, no alinhamento prévio dos painelistas, no desenvolvimento do roteiro para mediação do diálogo e em ideias de subentregas que permitam multiplicar a experiência de Recife, também estamos descobrindo nessas atividades novas nuances do cenário que investigamos, mais detalhes e variáveis a adicionar no debate e que podem contribuir para o entendimento do grupo e para a conscientização de todos os participantes do evento.

Processos de prototipagem

Participação em evento (promover o diálogo entre os diversos atores):

  • Evento realizado no Marco Zero do Recife, entre os dias 24 e 27 de novembro, aberto ao público
  • Articulação para incluir, na programação, Painel com atores relevantes para a inserção do conceito de justiça climática nas políticas públicas de adaptação

Objetivos:

  • Como a Ciência pode incluir aspectos relativos a Justiça Climática em seus estudos sobre impactos?
  • Como identificar oportunidades para contemplar a proteção de pessoas e grupos mais vulneráveis na implementação de políticas públicas de adaptação?
  • Como preparar os vulneráveis para compreender os impactos da mudança do clima em suas vidas?
  • Como comunicar esse tema?

Desenvolvimento e Produto Final

Ebook (potencializar a replicação da experiência)

  • Conceito e relevância do tema;
  • Alternativas para a inclusão da justiça climática na elaboração e implementação de políticas públicas;
  • Relevância do envolvimento dos diversos stakeholders nesse processo;
  • Experiência do grupo com o caso do Recife.

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