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Preconceito atravessa o samba nova geração de passistas do carnaval carioca quer mudar estigma da hipersexualização da mulher negra

"Se a globeleza vai estar vestida ou não, para mim tanto faz. Se ela vai estar vestida na TV, não vai estar na avenida e o cara vai continuar achando que a gente é carne, vai continuar oferecendo dinheiro. Não só nos quatro dias, mas no ano todo." (Larissa Neves, estudante de Psicologia, passista do Salgueiro)

Depois da festa de Momo, a chuva de confetes deixa saudade e sobram situações que fogem ao glamour da vida de passista que mora no imaginário popular. Assédio sexual, racismo - mesmo em um ambiente predominantemente negro - e desvalorização profissional são alguns dos desafios que as mulheres que vivem de dançar samba têm de enfrentar.

"Eu sei que as pessoas sabiam da minha condição de passista e que achavam isso esquisito. 'Nossa. ela faz Ciências Sociais e é passista?'”. (Sabrina Ginga, formada em Ciências Sociais pela UERJ, passista do Salgueiro)

Em 2016, quatro jovens negras, universitárias e passistas lançaram um movimento para debater o estereótipo da mulata brasileira, glamourizada no carnaval e discriminada no restante do ano. Com o projeto Samba Pretinha, elas levaram para as quadras das escolas de samba as questões raciais e femininas dentro no universo carnavalesco.

A partir da esquerda, Rafaella Dias, Larissa Neves, Mirna Moreira e Sabrina Ginga, passistas do Salgueiro e fundadoras do Movimento Samba Pretinha

Para muitas meninas de favelas do Rio, as passistas de carnaval são referências de beleza, de personalidade e de talento com o samba nos pés. Elas são “musas” com fantasias luxuosas, “rainhas” carregando o pavilhão das escolas nos desfiles, brilhando em casas de espetáculo. Longe da avenida, a realidade não tem lantejoulas. No dia a dia, é o estereótipo da mulata brasileira que fala mais alto. A hipersexualização do corpo da mulher negra, comportamentos machistas e situações de racismo sempre foram tratados como "normais". Mas a nova geração de passistas não vê nada de normal nisso e quer mudanças.

Para a pesquisadora e historiadora Janaína Oliveira, a construção da personagem mulata tem a intenção de objetificar. "É importante desconstruir essa ideia machista de objetificar a mulher negra. Por outro lado, o feminismo avança dizendo que a mulher pode fazer o que quiser com seu corpo. E essas meninas, fazendo esse debate, podem ressignificar a ideia da passista", diz a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígena (NEABI) do Instituto Federal do Rio de Janeiro.

"Falta profissionalização. Se a gente fosse encarada como uma classe, se fosse vista como profissional, seria tratada de forma diferente. Isso abre precedente para uma série de maus tratamentos." (Mirna Moreira, estudante de Medicina, passista do Salgueiro)
  • Reportagem em formato curto/médio
  • Entrevistas com passistas experientes e da nova geração
  • Entrevistas com pesquisadores e dirigentes do carnaval carioca
  • Ensaio fotográfico com passistas do Movimento Samba Pretinha
  • Prazo de entrega: 15/fev/17

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