Samora Barros nasceu em Albufeira, a 3 de abril de 1887. A sua vasta obra abrange um longo período, que vai de 1915 a 1972, ano da sua morte. Toda a sua obra é caracterizada por uma temática multifacetada, que engloba o retrato, a paisagem, a grande composição histórica e natureza morta. É possível perceber que o elemento comum, tem como “personagem principal” e sempre presente o Algarve. São as suas paisagens e costumes, a sua história e as suas gentes, os seus frutos, a sua luz, que o autor retrata com paixão e exclusividade.
Biografia
1887 - Nasceu em Albufeira a 3 de abril.
1910 – Envolve-se na agitação republicana, participa activamente nos círculos estudantis e vive a Revolução do 5 de outubro
1911 - Matricula-se no curso de pintura da Escola Superior de Belas Artes (ESBAL)
1914 -1918 – Vive os tempos da Grande Guerra
1917 - Participa pela primeira vez numa exposição colectiva na Sociedade de Belas Artes
1915-1918 - Tem colaboração em publicações periódicas na II série da revista “Alma nova”
1919 -Termina o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes e regressa ao Algarve
1919 -1955 - É professor de pintura e desenho na Escola Industrial e Comercial de Silves
1920 – Assiste à crise dos anos 20, tendo como ideologia a liberdade e o progresso social
1923 – Ganha o prémio de menção honrosa na Sociedade Nacional de Belas Artes
1925 - Participa numa exposição colectiva no Brasil, ganha uma menção honrosa
1932 – Participa numa exposição colectiva no salão do Estoril
1944 – Ganha uma medalha na Sociedade Nacional de Belas Artes
1950 - Participa numa exposição colectiva em Lisboa
1951 - Participa numa exposição colectiva na Praia da Rocha
1966 – Escreve um livro de sonetos
1968 - Participa numa exposição colectiva em Faro
1972 - Faleceu em Albufeira aos 85 anos
José Ricardo Júdice de Samora Barros, nasce no seio de uma família antiga e abastada do Algarve, filho de José Ricardo Sousa Barros e de Maria Quitéria Júdice Samora. Faz a instrução primária na Escola Académica de Lisboa e veio terminar o ensino secundário no Liceu Nacional de Faro. Escolheu o curso de direito, por influência da família, e frequentou o curso na Universidade de Coimbra.
O inconformismo e irrequietude que o caracterizavam, levaram-no a dedicar-se à filosofia quando aluno de Direito e por fim a abandonar Direito pelo curso de pintura, mais relacionado às suas tendências culturais e artísticas.
Assim, em 1911 e já com 24 anos, matricula-se no curso de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL). Frequentou o curso de Pintura que terminou em 1918-1919.
Em Coimbra, durante os seus anos de estudante, é tocado pela agitação republicana, participa ativamente nos círculos estudantis e vive aos 23 anos a Revolução do 5 de Outubro.
Já em Lisboa, segue as lutas do novo regime, é abalado pela guerra de 14-18, assiste aos inícios da crise dos anos 20, tendo este envolvimento histórico e época politicamente agitada, determinado o sentido progressista do seu pensamento, como homem amante da liberdade e do progresso social.
Espírito profundamente democrata, embora sem alardes nem militâncias políticas, mantém-se dignamente e sem transigências para com o regime fascista, pelo que não arrecadou benesses, nem apoios ou mecenatos à sua obra, que nunca procurou.
As poucas encomendas que teve de organismos oficiais ou semioficiais a nível regional, deveu-as unicamente ao reconhecimento do seu valor, como artista plástico.
Depois de um curso brilhante, durante o qual foi distinguido com numerosos prémios honoríficos, tinha todas as condições para fazer uma carreira de destaque em Lisboa. Mas recusa todos os convites para ficar em Lisboa.
Regressa ao Algarve e começa a pintar, com avidez, esta terra a que estava profundamente enraizado e de onde nunca mais saiu.
O pintor Samora Barros não pode ser visto isoladamente das outras facetas da sua rica personalidade, nem das variadas formas de expressão que tomou o seu talento. «Brincando aos poetas», como ele dizia, deixava entrever a sua profunda sensibilidade e emotividade. Estimulado por alguns amigos poetas, chegou a participar em Jogos Florais ganhando vários prémios e menções honrosas em Albufeira, Praia da Rocha e Armação de Pêra. Em 1966 publica um livro de sonetos.
Numa época em que ainda pouco se falava de património cultural, Samora Barros tinha uma aguda noção da defesa dos valores patrimoniais da região algarvia e da íntima correlação de património cultural e património natural. Como ele dizia e demonstrava pintando, o património cultural insere-se no património natural e está a ele intimamente ligado, veja-se a pedra com que o castelo de Silves foi construído e a sua integração perfeita na paisagem circundante.
Samora Barros, pouco depois do seu regresso ao Algarve, foi nomeado Professor na Escola Industrial e Comercial de Silves, em 1919 ano da sua fundação, onde exerceu por várias vezes o cargo de Director Interino
Aí, durante 36 anos, Samora Barros educa várias gerações de jovens no amor à beleza, no respeito pelos valores da cultura e pelos altos ideais do Humanismo.
Poucos professores tinham a capacidade de fugir aos rígidos formalismos didáticos e de apresentar as artes visuais, não como matérias obrigatórias de uma aula, mas como um outro olhar de ver e transmitir a beleza e a originalidade, as características e o ritmo das cores e das formas.
Mestre Samora Barros não foi um simples professor, mas um artista com particulares qualidades pedagógicas, que várias gerações de jovens, não só de Silves, mas de muitas outras localidades do Barlavento algarvio tiveram o privilégio e a sorte de contactar, sem nunca mais esquecer. Com a certeza de ter dado aos seus alunos a forte personalidade de Samora Barros como artista, humanista e democrata.
Ao matricular-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, no ano letivo de 1911-1912, Samora Barros beneficia de reformas que, além da separação da Escola da antiga Academia, introduziram algumas melhorias no ensino artístico depois de largas batalhas e da nomeação de professores de mérito como Columbano, Veloso Salgado e Carlos Reis. É natural que se sinta atraído pela aula de Mestre Veloso Salgado, a mais procurada e concorrida, não só pela fama da brilhante passagem por Paris como bolseiro, mas principalmente pelas suas reconhecidas qualidades de professor capaz de transmitir a sua grande mestria técnica, embora dentro dos esquemas de um ensino convencional. Sob a sua influência, Samora Barros localiza-se na chamada «segunda geração do naturalismo» que é a de Veloso Salgado e de Carlos Reis, na linha de uma pintura naturalista mais exuberante e ligada à vida do que a primeira fase do naturalismo, que tivera o seu apogeu com Silva Porto do Grupo do Leão. Mestre Carlos Reis, que sucedera a Silva Porto, na cadeira de paisagem e fora seu discípulo, exerce sem dúvida uma poderosa atração em Samora Barros pelas suas paisagens pletóricas de cor e vida, que o aluno recordará no seu Algarve luminoso.
Quando Samora Barros termina o curso, no ano letivo de 1918-1919, já as primeiras notícias da modernidade tinham eco público em Portugal. Amadeo Souza- Cardoso, Almada Negreiros, o futurismo, começam a ser discutidos. As duas exposições de Amadeo em 1916, em Lisboa e no Porto, que desencadearam farta controvérsia abeirando o escândalo, certamente não foram por ele ignoradas. Mas o rápido regresso ao Algarve afasta-o do palco agitado dessas polémicas.
Mais próximo pela formação e pela tendência de colegas como António Saúde, Falcão Trigoso, Frederico Ayres (todos eles nascidos entre 1872 e 1887), não se liga, no entanto, como participante ativo aos grupos por estes formados (Sociedade Silva Porto, Grupo Ar Livre e Grupo Silva Porto), numa sequência de agrupamentos orientados pelos conceitos do naturalismo.
Pode dizer-se que o Algarve, que tanto deu à sua obra, também lhe determinou certas limitações. Também o seu confinamento, aliado a uma grande modéstia, impediram uma maior projeção do pintor e da sua obra e um mais justo reconhecimento do seu real valor nos grandes centros para além da região do Algarve.
Com o seu indiscutível talento, Samora Barros segue o caminho por ele traçado desde a juventude, cumprindo firmemente um projeto próprio e conforme a formação que teve. Comprovando um grande domínio técnico, aborda uma temática variada, utilizando uma diversidade de materiais que maneja com extraordinário à vontade, desde a pintura a óleo à delicadeza do desenho à pena ou a lápis, da frescura espontânea da aguarela à suavidade do pastel.
Os retratos de Samora Barros constituem talvez a parte mais rica da sua obra, revelando não só uma grande mestria, mas também uma particular acuidade na interpretação da personalidade dos retratados.
Cada um dos seus retratos tem um carácter e uma identidade próprios, sendo muito vasta a galeria das personalidades retratadas, como os Bispos do Algarve, D. Francisco Rendeiro e D. Marcelino, o prof. Azevedo Gomes e dos poetas António Pereira e Cândido Guerreiro.
Mas é nas paisagens, quer as marinhas quer os campestres, que o pintor atinge avanços mais nítidos no tratamento técnico e da cor. São pintadas com uma grande frescura, pincelada larga e vigorosa, mas simultaneamente finamente emotiva. Para além da sua alta qualidade pictórica, estas paisagens são poemas de amor ao Algarve, dum poeta pintor enraizado profundamente no Algarve.
A obra de Samora Barros demonstra um profundo conhecimento dos autênticos valores do património algarvio: o carácter específico das suas paisagem, cor e luz, das suas gente e história. Transmite a grandeza monumental do Castelo de Silves e dá um não menor sentido de grandeza monumental às altas falésias de Sagres.
Os seus quadros históricos, nítidas reminiscências do atelier do seu mestre Salgado, refletem uma interpretação muito pessoal da história do Algarve. Mas, mais do que nestes, o património aparece cheio de vida em trechos e costumes característicos, mas já só do passado.
As naturezas mortas são caraterizadamente algarvias pelos frutos, pelos objetos, pela inserção na paisagem.
Uma visão global das paisagens do pintor conclui-se que pintou muito mais a terra do que o mar. Poderá ser uma questão puramente acidental, uma preferência do pintor que no entanto tem pinturas marinhas magistrais.
Samora Barros soube mostrar, através da pintura, a beleza do Barrocal e da Serra, assim como do Litoral, numa justa proporção.
Algumas das suas pinturas encontram-se no Museu Marítimo de Faro, Museu da Figueira da Foz, Museu de Santo António de Lagos no Montepio Geral de Lisboa, Grémio Panificação de Faro e no Museu de Arte Sacra de Albufeira. Em Albufeira, pintou ainda o retábulo para o Altar da Igreja Matriz e os azulejos da antiga central elétrica, atualmente Galeria Samora Barros.
Reportagem, no Jornal Avezinha, sobre a comemoração e homenagem ao 1º centenário do nascimento do Pintor Samora Barros realizada, em abril de 1987, por um grupo de amigos e entidades oficiais. A reportagem contém uma entrevista à mulher do pintor, Alzira Samora Barros.
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Organização: Município de Albufeira - Arquivo Histórico de Albufeira Agradecimentos: Região de Turismo do Algarve, EB2/3 D.Martim Fernandes,Margarida Tengarrinha, Fotografias: Arquivo Histórico de Albufeira