Loading

Comunidade de Nossa Senhora da Boa Água

A evolução da comunidade cristã cruza-se com o desenvolvimento da zona habitacional que lhe dá nome. Vítor Antunes, na sua obra “Quinta do Conde – Origens e Progressos” relata que «em 1977, por iniciativa de Lurdes Pires Rato, em conjunto com outros católicos, começou a ser celebrada missa aos domingos, no salão existente na Rua de Santo António, lote 840, onde se faziam, também, projeções de cinema.» Este espaço foi cedido pelo senhor José Carvalho, proprietário da mercearia anexa ao salão. As eucaristias começaram a ser celebradas ainda antes da chegada do Padre José Marques Pinto, com o Padre José Fatela nos finais de 1976.

Houve desde muito cedo a vontade de erguer uma igreja pelos cristãos daquela zona: destaca-se o casal José e Bárbara Bernardino, o casal Florentino e Lurdes Rato, os irmãos Norbinda, Vítor e António Pinto, o senhor Pimenta e família, o senhor José Marques e família, o casal Alberto e Fernanda e o senhor Prates. “Foi tudo feito com muito boa vontade. Não havia dinheiro nenhum. Foi tudo feito com os braços daquela boa gente” refere o Padre José Marques Pinto.

Lurdes Pires Rato

Como uma das principais impulsionadoras, é importante dar reconhecimento à figura da senhora Lurdes Pires Rato, falecida recentemente, e que segundo o Padre Horário Noronha, era a “grande dinamizadora” da comunidade. Foi coordenadora da catequese durante largos anos e dirigente escutista. O padre José Marques Pinto descreve-a como uma mulher “de fibra, uma mulher de garra”.

A construção das igrejas da Boa Água e Esperança começaram com o intervalo de duas semanas, nos principios de 1979. As obras iam sendo feitas de acordo com o dinheiro que havia e os materiais que iam sendo doados. Os trabalhos eram sobretudo realizados ao fim de semana, com a mão-de-obra dos paroquianos. O primeiro espaço da igreja a ficar concluído foi a Capela Mortuária, para onde foram transferidas as eucaristias, sucedendo a construção da capela, do salão e da residência paroquial, onde morou o Padre José Marques Pinto quando se instalou definitivamente na Quinta do Conde.

Para além dos constrangimentos financeiros, outros obstáculos se colocaram à construção da Igreja, como é exemplo a troca de terrenos: o senhor António Xavier de Lima cedeu gratuitamente dois terrenos na Boa Água: um para a construção da Igreja e outro para a construção da escola primária. Acontece que os comunistas ocuparam o terreno e aí iniciaram a construção do estabelecimento de ensino. Face a esta situação, o senhor Padre José Marques Pinto e os seus fieís decidiram também eles ocupar o terreno destinado à escola e ai começaram a construção da igreja. Na altura as construções eram todas clandestinas e o senhor António Xavier de Lima não se importou com a “troca”. A legalização e escritura do terreno só foram formalizadas em 1984. “A Igreja está feita no terreno da escola, e a escola está no terreno que devia ser da Igreja”, refere o Padre José Marques Pinto. Este espaço possui uma área de dois quilómetros quadrados.

O padre José Afonso Marques Pinto numa das primeiras eucaristias celebradas na Comunidade da Boa Água.

A angariação de fundos para as obras consistiu na realização de peditórios porta-a-parta e na criação de um sistema de quotas em que todos os meses as famílias envolvidas na comunidade davam um determinado valor para pagamento de despesas. Também para angariação de fundo, começaram a realizar-se festas, como refere Maria Teresa Ramos: “A primeira festa de angariação de fundos foi em Junho de 1979, por altura dos Santos Populares. Foi na Rua de São Tiago por causa do senhor Anselmo, que era eletricista, e que nos arranjou a luz para o palco. As festas entretanto passaram a ser realizadas no recinto da Igreja e em Agosto.” Em 1980 tem lugar a primeira edição das Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Água, as primeiras festas populares realizadas na Quinta do Conde.

O primeiro batizado realizado na comunidade ocorreu a 3 de setembro de 1978 e o primeiro casamento a 28 de outubro do mesmo ano. A benção da Igreja de Nossa Senhora da Boa Água, cerimónia presidida por D. Manuel Martins, teve lugar a 10 de Outubro de 1982.

O projeto da Igreja foi concebido pelo padre José Marques Pinto de uma perspectiva pouco comum e considerada por muitos “revolucionária”. Membro da Companhia de Jesus, esteve sete anos em África e trouxe consigo a convicção que a Igreja, mais do que um lugar de culto, deve ser um espaço comunitário. «Achava que era um grande desperdício fazer igrejas que depois ficavam vazias durante toda a semana. As igrejas devem ser feitas de tal maneira que se possam aproveitar como salões de festas, reuniões, teatro, etc. Que deviam ser utilizadas para outras coisas.», afirma o padre jesuita.

Esta ideia concretizou-se na Boa Água nos primeiros anos. Havia uma pequena capela com acesso para um grande salão através de uma porta. Nesse salão havia um palco, onde chegaram a ser feitas grandes atividades: “Fazíamos festas incríveis. Fazíamos peças de teatro com grupos enormes e que ensaiavam durante meses” (Maria Teresa Ramos). Era um espaço de reunião, encontro e catequese.

O salão da Igreja e dia de Festa. Ao fundo, pode ver-se o antigo altar fechado por uma porta de correr. Consegue ter-se um vislumbre do antigo sacrário.

O crescimento da população, o aumento da afluência às Eucaristias e a consequente necessidade de espaço, obrigou o Padre Horácio a abandonar a ideia, em 1993, e a reconfigurar a Igreja como está atualmente: o espaço ocupado pela capela converteu-se na nova entrada da Igreja e coro alto, o palco do salão é atualmente o altar (a trave que se pode ver por cima do altar era a antiga boca do palco) e a antiga entrada da igreja é onde se encontra a capela mortuária. Foi igualmente construido o centro paroquial nas traseiras da Igreja para albergar salas de catequese. A residência paroquial, que entretanto se transferiu para a Igreja de Nossa Senhora da Esperança, foi convertida em sede do Agrupamento de Escuteiros.

Com o passar dos anos foram feitas sucessivas alterações: construção de muros e de um palco permanente, melhoramento dos jardins, criação de um baptistério. Projetos futuros prevêm a ampliação do complexo para aumentar a sede dos escuteiros e criar mais salas de catequese. Também há intensão de erguer uma torre sineira na Igreja.

Peregrinos da Boa Água

A Igreja de Nossa Senhora da Boa Água acolhe uma grande diversidade de serviços: Catequese de Infância, Adolescência e Adultos, o Curso de Preparação para o Baptismo, o Curso de Preparação para o Matrimónio, as reuniões do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, do Movimento da Mensagem de Fátima e dos Alcóolicos Anónimos. Recebe ainda a sede do Agrupamento de Escuteiros e o Cartório Paroquial. Acolheu em tempos vários movimentos de jovens, inclusivamente o “Agitato”, grupo de natureza cultural que, entre outras atividades, organizava campos de férias para crianças. Nos últimos anos tem também sido desenvolvida a “Marcha da Boa Água”. Outro elemento mobilizador da comunidade é o grupo “Peregrino da Boa Água”.

ORAGO

“Boa Água” é uma designação anterior à fundação da comunidade cristã em função da água de qualidade que existia naquela zona, com origem numa fonte. A escolha da padroeira foi uma ideia original do Padre José Marques Pinto: «Fui eu que me lembrei. Aquela zona da Boa Água tinha uma certa fama e eu perguntei ao senhor bispo: “Senhor Bispo, o senhor importava-se que ficasse aqui como padroeira, já que esta terra se chama Boa Água, Nossa Senhora da Boa Água?” E o Senhor Bispo achou bem.»

Durante mais de uma década a comunidade utilizou a imagem de Nossa Senhora de Fátima como se fosse a padroeira: era com essa imagem que as procissões de 15 de Agosto eram feitas. Em 1993, o Padre Horácio achou que era altura de ter uma imagem de Nossa Senhora da Boa Água. “Achava que não correspondia exactamente: a senhora é a mesma mas cada invocação tem o seu sentido. Andei à procura de quadros e modelos e aquele é um modelo de uma freira italiana. Foi através de uma casa de artigos religiosos que há na zona do Chiado que entraram em contacto com essa irmã e que criou a imagem”.

A imagem de Nossa Senhora foi benzida no dia 15 de Agosto de 1993 por D. Manuel Martins. Quando chegou à Quinta do Conde, o bispo de Setúbal fez uma interpretação muito bonita da designação: “Nossa Senhora tem Jesus nos braços e portanto a Boa Água é Jesus. Jesus é que é a Boa Água, a Fonte da Água Viva que Nossa Senhora oferece à comunidade.”

Vários momentos da história da comunicadade

Report Abuse

If you feel that this video content violates the Adobe Terms of Use, you may report this content by filling out this quick form.

To report a Copyright Violation, please follow Section 17 in the Terms of Use.