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Todos Irmãos? POR Elisabete Carvalho

A intenção que o Papa propõe a toda a Igreja e a todos os homens e mulheres de boa vontade para este mês de julho centra-se na amizade social, uma questão central do seu pontificado. Francisco desafia-nos a ser “artífices corajosos e apaixonados do diálogo e da amizade”. Mas como é que isto se concretiza no dia a dia? A amizade social tem como pressuposto ver no outro um irmão ou uma irmã e implica um caminho a percorrer nos dois sentidos, é um encontro gerador de paz e unidade.

Abrirmo-nos ao outro significa estar disposto a dar e a receber, numa relação de respeito, de salutar amizade, mesmo num contexto de diferenças culturais, políticas ou religiosas.

Na sua última encíclica “Fratelli Tutti”, o Santo Padre diz que para se caminhar rumo à amizade social é necessário um reconhecimento basilar e essencial: dar-se conta de quanto vale um ser humano; de quanto vale uma pessoa sempre e em quaisquer circunstâncias.

Francisco refere ainda que para nos encontrarmos e ajudarmos mutuamente, concretizando assim o sonho de fraternidade e amizade social, precisamos de dialogar. É o diálogo que promove uma dimensão universal de abertura aos outros. Será que estamos dispostos a isto? A exercitar um diálogo autêntico, em que o ponto de vista do outro é respeitado, mesmo tendo convicções e interesses diferentes dos nossos?

Os amigos na rede virtual

Vivemos um tempo em que os desafios na relação com o outro são cada vez maiores. Cultivamos, através das redes sociais, centenas quando não milhares de amigos virtuais mas, muitas vezes, somos incapazes de uma palavra simpática ou de um sorriso àqueles que se cruzam connosco no trabalho, na rua ou até em família. A tecnologia que chegou para nos tornar mais próximos tem tido também o efeito contrário: conseguimos ser mais fechados, menos sociais e menos capazes de dialogar.

Por outro lado, os ritmos frenéticos que alimentamos deixam-nos pouco tempo, espaço e paciência para olharmos para os outros. E não são apenas os sem abrigo, os refugiados ou os mais pobres que precisam da nossa amizade; muitas vezes são também aqueles que caminham ao nosso lado.

Recordo-me, em jeito de lição de vida e de amizade, o dia em que estava a trabalhar num gabinete com uma colega, a Filomena, mais velha, mais experiente e sempre atenta a tudo, quando, de repente, bate à porta uma outra colega, que trabalhava num outro edifício. A Raquel vinha saudar-nos, como sempre, com o seu enorme sorriso. Como sempre, achava eu. A Filomena é aquela pessoa que não se limita a olhar para as pessoas, ela vê-as. No rosto aparentemente alegre e bem disposto da Raquel, a Filomena decifrou uma enorme tristeza. De forma sábia e serena, e num espírito de verdadeira amizade, interpelou-a. A resposta surgiu em lágrimas. A Raquel precisava efetivamente de nós, de alguém que a escutasse, de alguém que acompanhasse a sua dor disfarçada de sorrisos. Não a largamos mais, desde esse dia.

O meu desejo é que possamos abrir o coração, a oração e a nossa ação à experiência de ver no outro um amigo e, com ele, começar um caminho que o faça ter lugar na vida de todos os dias. Neste sentido, partilho alguns desafios propostos pela Rede Mundial de Oração do Papa-Portugal a propósito da amizade social:

- Valorizar e acolher a diferença, evitando a tentação de olhar o outro a partir do meu paradigma, da minha cultura, com preconceito, mas vendo nele um filho amado de Deus.

- Dialogar com sinceridade e caridade, encontrando aqui o caminho para uma convivência pacífica, que não me rouba a identidade, mas que também respeita a identidade do outro.

- Sentir com o outro, desenvolvendo uma atitude de compaixão para com o que o outro vive, as suas alegrias, desejos, anseios, dificuldades, e fazer-me próximo, como o Bom Samaritano.

- Cultivar a amizade, dedicando tempo e espaço no coração às pessoas com que nutro relações de amizade, valorizando o dom da estima, da partilha e da comunhão fraternas.

Com amizade,

Elisabete Carvalho
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Paróquia de Fafe Santa Eulália
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