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Carta Aberta dos Povos Indígenas do Grande Norte aos Povos Indígenas no Brasil sobre o COVID-19

Prefácio de Eliane Potiguara

Que alegria receber esta Carta Aberta, este Manifesto de Fraternidade dos Povos do Grande Norte!

Povos indígenas nunca foram primitivos ou “iletrados”, como anunciam alguns, nem sem educação, hábitos, costumes, espiritualidade e línguas. Os originários étnicos do planeta com sua tecnologia sobrevivem até hoje, apesar do genocídio implantado. A força ancestral é o manancial imensurável de vida. Pela milionésima vez nós, povos indígenas, continuamos a mostrar que desde os primórdios da civilização somos sim diferenciados, com outras maneiras de ser, existir e pensar. As civilizações originárias aqui colocadas pelo Criador há milhares de anos sabiam dividir, com papéis definidos e compartilhados entre homens, mulheres, crianças e anciãos, com grandes conhecimentos tradicionais e filosóficos.

As grandes matas como a Amazônia, os Grandes Lagos, as grandes montanhas na Europa, os amplos campos, as corredeiras de rios, enfim, cada topografia deste planeta maravilhoso, tudo aqui colocado pela providência existencial do Grande Criador está hoje ameaçado pelas mãos dos donos do dinheiro, pelo capitalismo desenfreado e competidor. Conta assim a minha avó indígena potiguara, mulher sábia dos peitos grandes e de grande inteligência empreendedora, que de uma banana fazia mil. Parece milagre, não é verdade? Mas não! Foram as forças ancestrais e sua cultura tradicional advinda de seus pais, avós, bisavós e tataravós que a inspiraram a salvar toda uma família potiguara, escorraçada de suas terras para não serem escravizadas ou assassinadas como o seu pai, Chico Solón, na Paraíba.

Meus irmãos e irmãs, como é bom dividir esse conhecimento ancestral!

Neste documento compartilhamos ideias que podem criar um novo mundo, pelo simples fato de que as sociedades originárias cozinham ao pé do fogo e usam o mesmo lugar para aquecer nossos parentes durante a noite e realizar nossas cerimônias; alguns povos se reúnem para seus Pow Wows, enquanto outros se juntam para dançar o Toré, por exemplo, convocando seu Criador, honrando seu habitat ou agradecendo pelo direito a uma vida simples, como homens e mulheres simples, de corações e almas puros, desprovidos do desejo explorador de sangue alheio, do consumismo e materialismo.

Temos testemunhado que a chamada Ordem Mundial das grandes potências está literalmente falida econômica, filosófica e socialmente. A pandemia COVID-19 é uma prova disso. Recebemos esta mensagem de nossos e nossas parentes do Norte com gratidão. É uma carta de solidariedade e respeito. Ela é também uma demonstração factual de que os povos originários de todo o mundo estão conectados, e que continuaremos a existir desse modo.

Queridos e queridas parentes, recebam esta carta com amor e gratidão. Obrigada a todos!

Janeiro de 2021

Queridos irmãos e irmãs indígenas do Brasil,

Que as palavras desta Carta Aberta sejam uma prova do amor e da preocupação que temos uns pelos outros durante os tempos incertos desta pandemia que tem se espalhado pelos nossos territórios, adoecendo e matando nossos povos há meses. O COVID-19 (coronavírus) está conosco há cerca de um ano e tem afetado as comunidades indígenas em todas as partes do mundo. Alguns se saíram melhor que outros, mas algumas comunidades estão enfrentando uma segunda ou uma terceira onda muito perigosa.

À medida que pensamos sobre seus impactos sobre nós e nossas comunidades é importante pensar numa visão mais ampla, de que todos os humanos fazem parte disso. Este vírus não tem sido seletivo em seus efeitos nocivos, embora esteja claro que prejudicou alguns grupos mais do que outros. Espalhou-se entre quase todas as nações do mundo criando uma tempestade de fogo, de morte, doença e complicações duradouras até mesmo para os que se recuperaram; levou a um colapso econômico global que forçou milhões a perder o emprego, suas casas e suas vidas; está forçando todos a viver em isolamento dos próprios amigos, familiares e entes queridos. Isso trouxe um aumento dramático dos problemas de saúde mental que levaram a uma explosão de suicídio, pessoas estão sem esperança e com medo. Mesmo as chamadas nações ricas ou de primeiro mundo estão sofrendo ainda mais nessa segunda onda.

Com tudo isso, também ouvimos falar sobre suas lutas no Brasil através da organização Cultural Survival (que há anos é parceira de muitas comunidades no Brasil, como a dos Xavante, Tremembé, Krenak, Rádio Yandê, entre outras), que nos informou do que vem acontecendo em suas comunidades. Somos um pequeno grupo de profissionais de saúde mental indígenas e não indígenas, psicólogos clínicos, especialistas em cultura, defensores dos direitos humanos e professores universitários. Vários entre nós são membros de diferentes povos indígenas da América do Norte. E cada um tem treinamento especializado, conhecimento e experiência que esperamos serem úteis para você e para as suas comunidades. Somos parentes indígenas aliados do Norte, que se reuniram para respeitosamente enviar nossas saudações e palavras de esperança, enquanto lutamos juntos contra os danos causados pela pandemia de COVID-19.

Sentimos que é importante dividir o que sabemos sobre o COVID-19. Trata-se de um vírus membro da família Coronavírus. Este vírus se chama corona porque corona significa "coroa". Quando o vírus é examinado através de um microscópio, parece que há uma coroa ao seu redor. Os cientistas ocidentais nos dizem que os Coronavírus existem há séculos. As formas mais antigas da doença têm sido muito mais brandas, geralmente causando apenas pequenos sintomas respiratórios, como os resfriados comuns. Alguns Coronavírus afetam apenas pessoas, enquanto outros infectam animais. Alguns Coronavírus podem "saltar" de animais para pessoas e causar sérias complicações. O coronavírus atual é uma nova doença, que saltou de um animal para um humano. É um vírus agressivo, que causa doença grave e morte para muitas pessoas suscetíveis. Enquanto algumas não têm sintomas, outras ficam gravemente doentes. O contágio se dá através das gotículas de uma pessoa infectada quando fala, tosse ou espirra. As gotículas podem viajar de dois até quatro metros pelo ar; por isso, é importante usar uma máscara facial, cobrindo nariz e boca, mantendo uma distância de pelo menos dois metros dos outros. Lavar as mãos e desinfetar as maçanetas e superfícies com as quais entramos em contato é necessário, porque as gotículas contaminadas por Coronavírus nas superfícies podem nos infectar pelo toque. Recentemente, vacinas foram desenvolvidas para impedir a propagação do vírus COVID-19, o que é uma boa notícia. No entanto, quando e quais comunidades indígenas realmente receberão a vacina ainda não se sabe.

Quando a atual pandemia passar, será o momento para as pessoas comemorarem e voltarem a uma vida normal. Mas devemos estar alertas à próxima epidemia ou pandemia. Os cientistas já nos avisam que haverá mais doenças como esta no futuro e que devemos estar preparados. O avanço das epidemias e pandemias é causado pela invasão humana e destruição dos habitats de muitas espécies; pelo aumento do contato irresponsável entre humanos e animais selvagens; pela população crescente, que facilita a transmissão de doenças entre os seres humanos; pelo crescimento da pecuária doméstica global e de animais criados em fábricas insalubres que disseminam doenças, e ainda assim utilizados para consumo humano; e uma acelerada mudança climática. Cada aspecto somado que, a sua maneira, fortalece a herança colonial que serve de combustível para os próximos surtos infecciosos perigosos.

Por esse motivo, estamos pensando em vocês e queremos dividir não apenas nossas preocupações, mas a nossa crença de que através de ações coletivas e alianças comuns para proteger nossos povos, terras e conhecimento tradicional, vamos superar essa pandemia e nos capacitar para a próxima. Cada um de nós tem se comprometido em ajudar a retardar a disseminação do COVID-19 em nossas próprias vidas e comunidades. Acreditamos que compartilhado aqui poderá ajudar a responder à pandemia de modo a diminuir os seus efeitos nocivos. Nossa intenção é fazer com que vocês saibam o que temos feito para mudar o curso da doença e os danos que ela tem causado aos nossos povos. Esperamos que aceitem nossa oferta sincera, uma mensagem de solidariedade. Compartilhamos nossas experiências no espírito de parentesco, com compaixão e amor.

Ouvimos dizer que a pandemia tem causado uma grande destruição nas suas comunidades. Soubemos que tirou a vida de muitos de seus líderes, filhos, mães, pais e anciãos. Estamos profundamente tristes por saber como tem sido difícil para vocês, e nem imaginamos a dor pela qual estão passando. No final desta mensagem incluímos várias sugestões que podem ser proveitosas para vocês em seus esforços para conter a propagação do COVID-19 nas suas comunidades e ajudá-los a começar a curar mentes e corações.

Uma história pandÊmica indígena

Doenças infecciosas assim não existiam nas nossas aldeias e territórios antes das invasões europeias. Devido à falta de doenças infecciosas entre nossos povos, não desenvolvemos a imunidade necessária às doenças europeias. Estima-se que existiam cerca de 93 epidemias graves e pandemias de patógenos europeus (doenças infecciosas europeias) espalhadas entre indígenas norte-americanos, do início do século XVI até o início do século XX. Entre essas doenças estão a varíola, o sarampo, a varicela, a peste bubônica, a cólera, a febre tifóide, a rubéola, a escarlatina, a difteria, a caxumba, a coqueluche, os resfriados, a pneumonia, a influenza (gripe) e as doenças respiratórias, que muitos entre vocês também conhecem. Antes de 1492, havia pelo menos 60,5 milhões de povos indígenas nas Américas. Estima-se que 55 milhões do nosso povo (ou 90%) foram dizimados por doenças e pela violência europeias. Um estudo recente publicado em 2019 diz que o enorme declínio populacional dos nativos americanos causou inclusive uma redução no uso da terra pelos povos indígenas e contribuiu para sérias alterações climáticas do planeta.

As doenças europeias foram disseminadas entre nosso povo de diferentes maneiras. Algumas foram espalhadas por acidente e outras, de modo deliberado. Na década de 1760, por exemplo, colonos britânicos premeditadamente distribuíram cobertores infectados com varíola aos indígenas a fim de "reduzi-los" em número. Durante o início de 1800, a vacinação contra a varíola foi negada a certas comunidades indígenas pelo governo federal dos EUA. Foi somente em 1832 que os EUA começaram a oferecer vacinas para certos grupos originários. Nessa época, milhões já tinham morrido. Após anos de abuso, pela desconfiança no governo dos EUA, mesmo os povos que receberam vacinas contra varíola não as aceitaram de imediato, receosos de que algo oferecido pelos opressores poderia lhes causar mais mal do que bem. No passado, crianças indígenas foram retiradas à força das suas comunidades pelo governo federal ou pelos missionários religiosos, forçadas a frequentar salas de aula confinadas, pequenas e mal ventiladas, e dormir em locais onde se expunham a doenças infecciosas, acabando por adoecer ou morrer.

As doenças europeias tiveram também um enorme impacto na saúde mental dos povos indígenas. Uma de nossas autoras, Lianna Costantino, uma mulher Cherokee especialista em saúde mental indígena, afirma que "Para nós, Cherokee, houve uma época em que estávamos morrendo de doenças europeias. Nós perecemos a uma taxa tão desesperadora, que alguns dos nossos médicos e pajés tiraram suas próprias vidas. Eles ficavam arrasados ao perceber que seus remédios tradicionais não funcionavam mais. Uma vez que tirar a própria vida é contrário ao nosso modo de vida Cherokee, imagine o quão grave era a situação. No entanto, por sermos povos muito resistentes, alguns se isolaram e praticaram nossas orações e rituais, cuidando uns dos outros. Mais tarde, alguns de nós se tornaram também médicos ocidentais."

A morte dos indígenas por doenças europeias continua. Depressão, obesidade, diabetes, pressão alta, câncer e alcoolismo, que muitas vezes são referidas como doenças não transmissíveis, também se espalharam amplamente entre nossos povos e têm nos deixado doentes e vulneráveis a doenças contagiosas como a COVID-19, que causam uma quantidade substancial de mortes prematuras. Tais doenças não transmissíveis são modalidades de epidemias inéditas para os povos indígenas, já que inexistiam entre nós antes dos colonizadores invadirem nossos territórios.

Trabalhar o trauma pós-colonial e a memória

A relação entre colonialismo e trauma está profundamente enraizada. Nesta época da pandemia COVID-19, cabe a cada um transmitir suas experiências e contar como a pandemia tem nos afetado. É isso que nos ajuda. Devemos narrar abertamente o que os colonizadores nos fizeram e quando se furtaram a atender a nossos pedidos; Como povos indígenas sempre tivemos que lutar para que o mundo reconhecesse a violência e a destruição que o colonialismo submeteu ao nosso povo, terras e vidas.

É importante que trabalhemos a memória para marcar essas histórias. Devemos explorar o passado através de nossas lembranças comunitárias, pessoais e étnicas, contando aos outros o que nos aconteceu, pois tivemos que suportar o peso do crucifixo colonial. O trauma da colonização levou nosso povo a se desconectar, esquecer e naturalizar doenças que fragilizaram a saúde de nossas comunidades. Lembrar disso nos oferece um tempo e um espaço para partilhar os emaranhados de nosso passado traumático enquanto, ao mesmo tempo, nossa insistência em contar essas histórias mostram que nossos opressores e espectadores não têm outra escolha, salvo ouvir, reconhecer nosso sofrimento e demonstrar cumplicidade. Restaurar o equilíbrio significa compreender os processos pelos quais o drama histórico, a opressão e a colonização reverberam ainda hoje. A recuperação da memória histórica comum está ligada à força ancestral e é fundamental para restaurar o bem-estar e o nosso equilíbrio físico e emocional.

O mal causado por mais de 500 anos de abuso, transmitido através de gerações, ainda nos impacta! Uma vez que a cura está historicamente ligada a cerimônias tradicionais e aos espaços sagrados da terra e da comunidade, muitos de nós perdem muito das cerimônias; houve ainda pouca oportunidade de reparar os danos históricos devido às proibições e demonizações de nossas cerimônias de cura. Para se protegerem, nossos ancestrais ocultaram seus costumes e conhecimentos. Apesar disso, enquanto povos indígenas, nós nos apegamos ao que somos e a qualquer coisa que nos representa, mesmo que isso signifique apenas ter a guarda de um pequeno cocar ou de um pedaço de cestaria. Nunca escolhemos a assimilação como um caminho de vida. Ao contrário, lutamos para sobreviver como povos originários, carregando nossos rituais ou partes deles conosco no presente e em direção ao futuro. A ancestralidade está viva e forte em muitas de nossas comunidades indígenas.

A COVID-19 afetou cada um de nós que assina esta carta. Muitos aqui perderam parentes próximos, familiares e amigos. E não foram capazes de ver os seus velhos, filhos, pais, irmãs, irmãos, outros parentes e entes queridos durante a pandemia. A maioria não pôde visitar e apoiar sua gente que adoeceu com COVID-19 ou com outras doenças. A maior parte de nós não conseguiu retornar à terra natal após a morte dos amados, parentes ou amigos, o que significa que fomos impedidos de acompanhar os funerais ou tomar parte das práticas tradicionais de enterro de nossas etnias.

Um dos autores que assinam esta carta, Jim Wikel, compartilha a seguinte história para que saibamos o que houve com ele em sua comunidade:

"No final de abril de 2020, minha tia fez sua viagem. Não houve serviços funerários por causa do COVID-19 e não pudemos praticar nossas práticas funerárias tradicionais pelas quais aquele que fez sua jornada é trazido para o nosso centro comunitário para a cerimônia. Normalmente, o corpo fica no lugar sagrado por três dias e três noites, enquanto uma tocha é mantida acesa do lado externo. Durante esse período, canções são entoadas, mulheres preparam refeições e membros da família se revezam sentados junto ao ente querido que fez sua jornada. Na terceira noite, uma refeição é preparada para todos os que estão reunidos, e um prato reservado para aquele que fez sua viagem fica a noite toda do lado de fora.”

Por causa do COVID-19, nossos caciques e pajés decidiram cancelar todas as atividades restantes em nosso calendário cerimonial. Eles enviaram instruções para que conduzíssemos os rituais individualmente e em casa. "Faça o melhor que puder fazer a partir do que sabe." – são estas as palavras da última linha do Ganohonyohk, nosso Guia Espiritual de Ação de Graças. Na terceira noite após a morte da minha tia, preparei minha refeição e um prato para ela. Antes de preparar a refeição, ofereci tabaco e proferi um dos discursos tradicionais quando alguém faz sua jornada. Após terminar a refeição, queimei o incenso. Então, fui para a cama ciente de que tinha honrado minha tia. Fiz o melhor possível a partir do que sei.”

Outro autor, Michael Yellow Bird, diz que durante a pandemia perdeu vários parentes próximos de duas aldeias, não foi capaz de visitá-los quando doentes e participar das cerimônias tradicionais de enterro:

"Perdi um tio muito próximo, duas parentes do sexo feminino, uma avó e vários outros ficaram doentes, que felizmente se recuperaram. Crescemos juntos na aldeia e tenho boas memórias deles. Minha avó faleceu em 20 de abril de 2020. Ela não morreu de COVID-19, mas morreu durante a pandemia. Ela tinha 101 anos e era muito saudável, contudo sofreu um acidente. Sua Arikara (nome indígena) é Ste Sta Ka Ta, que significa "Mulher do Milho Amarelo". Ela era filha do nosso tradicional chefe hereditário Arikara. Quando morreu, levou consigo uma vastidão de conhecimentos e sabedoria. Apenas alguns da nossa extensa família puderam comparecer ao seu funeral e nenhum rito tradicional pôde ser realizado em seu nome."

A visão

Acreditamos que os povos indígenas de todo o mundo podem se unir para ajudar uns aos outros a superar a atual doença e também para se preparar para as futuras epidemias e pandemias. A sabedoria, as profecias e os ensinamentos de nossos ancestrais sempre nos deram o que precisamos para sobreviver ao futuro incerto. É necessário ampliar a nossa compreensão sobre as profundas limitações das ideologias e estilos de vida ocidentais para desenvolvermos a capacidade de caminhar e navegar confiantes entre mundos indígenas e não indígenas, trabalhando juntos na criação de um éthos comum, onde valores, crenças, conhecimento e ética indígenas sejam compreendidos, abraçados e valorizados. Acreditamos que crises como a atual pandemia de COVID-19, ainda que tão destrutivas e desmoralizantes, nos oferecem uma oportunidade de fortalecer as relações entre povos indígenas e não indígenas, de contribuir com nosso conhecimento e sabedoria na esperança de tornar este mundo um lugar melhor.

Os povos indígenas reconhecem que todas as coisas estão interligadas. Se as abelhas desaparecerem amanhã, certamente seguiremos logo depois. E se amanhã as pessoas desaparecerem da Terra, outras criaturas que habitam nosso planeta prosperarão. O que isso nos diz? Eis o ponto: todos os seres prosperaram juntos. E houve algo que provocou a desconexão entre as pessoas que agora consideramos "indígenas" e as outras, ditas “não indígenas”, que passaram a viver em desarmonia com tudo ao redor.

Concordamos que, como povos indígenas, devemos trabalhar para expandir nossas perspectivas como indivíduos e coletividades e compartilhar os insights que adquirimos expandindo nossos campos de visão. O mundo precisa de valores coletivos como os nossos para compreender que tudo está relacionado. Dependemos todos, uns dos outros. Nós somos um. Para adiar o fim do mundo, como coloca um dos nossos sábios, precisamos nos enxergar como uma coletividade. Para adiar o fim do mundo, para segurar o céu, como dizem Ailton Krenak e Davi Kopenawa, devemos nos ver unificados como uma só mente, jamais divididos.

As Profecias

Uma das maiores forças como povos indígenas são as nossas profecias. Nossos ancestrais pressentiram as calamidades que enfrentamos e superamos. É importante lembrar as antevisões e o conhecimento que nossos povos experimentaram. Os Cherokees das florestas do sudeste dos Estados Unidos contam uma história do sapo que engoliu o sol. As pessoas se juntaram com seus tambores e assustaram o sapo para que o sol voltasse. O sapo não é o vilão; ele só fez o que um sapo faria. Esta história nos diz para prestarmos atenção as nossas águas, porque os anfíbios são barômetros que sinalizam o que ocorre com elas. Tradições nos ensinam maneiras de gerenciar dificuldades, de prestar atenção às mensagens que sapos e outros seres nos transmitem.

Os Arikara contam uma história antiga, na qual a morte de uma bela cobra por dois meninos tolos trouxe calamidade, morte e destruição à aldeia. Quando a nação das cobras soube que os meninos tinham matado sua amada e bela cobra, atacaram os Arikara. Uma batalha mortal eclodiu entre o povo Arikara e as cobras. Quando finalmente o conflito terminou, eram inúmeros os mortos e feridos, consequência direta do comportamento dos meninos. A história nos revela que a destruição insensata de qualquer forma de vida traz consequências terríveis para todos. Os Arikara prenunciaram que o comportamento ignorante e contínuo daqueles que destroem as terras, animais, águas, florestas e plantas resultará no colapso dos seres e humanos pelo mundo.

Muitos povos indígenas acreditam que as antevisões estão conectadas as nossas memórias antigas através do DNA, dos genes que herdamos de nossos ancestrais. Parteiras indígenas têm muitas histórias de memória sanguínea, renascimento, regeneração, transformação. E também sobre a água, nosso primeiro ambiente e medicamento primordial. Os mediadores da medicina e da cura também têm uma memória sanguínea dos lugares e a partir do seu conhecimento dizem: "Nunca vivemos aqui", ou então "Sim, sempre vivemos aqui. Nós pertencemos a esse lugar. As plantas, os animais, as estrelas são nossos familiares e operam conosco. Eles já ouviram nossa língua antes.”

As parteiras do nascimento, que muitas vezes são também parteiras na hora da morte, estão a par das semelhanças entre as experiências íntimas de nascimento e morte. Ambas envolvem a passagem de um modo de existência para outro por meio de um "túnel", em direção à luz e aos braços amorosos da família. Nascimento e morte podem ser viagens desconfortáveis, até mesmo dolorosas, até que os viajantes cheguem aos seus destinos, muitas vezes de maneiras diferentes e bastante estranhas. Os povos indígenas reconhecem uma e outra como meios de renascimento. Não devem ser temidas. Muitas histórias nos contam sobre essas jornadas. Elas nos ensinam que, mesmo quando sucumbimos a algo como a COVID-19, não terá sido o fim. Lembrar disso pode também ser curativo.

O sangue de nossas mães cria ligações que levam cada um de nós de volta à Primeira Mãe. Pense sobre isso. Você tem uma mãe. Ela tinha uma mãe. A mãe dela deve ter tido uma mãe, ou então, nehuma teria existido. Essas conexões se estendem até a primeira mãe, por todo o caminho de volta. Portanto, de certa forma, todos compartilhamos o mesmo sangue. É por isso que dizemos: "Somos todos parentes."

Muitas pessoas refletem sobre as profecias e percebem como a maioria falha nas responsabilidades com a Terra. Nós, povos indígenas, fizemos o possível para cumprir nossas responsabilidades, mas outros tornaram isso difícil ou mesmo impossível. E quando os brancos encontraram o caminho de volta, o povo Hopi notou que eles carregavam uma cruz, mas não eram mais direcionados pelo Grande Espírito. Eles sabiam que seus irmãos e irmãs brancos tinham perdido o rumo. As profecias tem sido debatidas mundo afora como exemplos de nossa conexão ancestral com todos os povos, nossa responsabilidade em comum e a necessidade de nos reconectarmos.

Vocês, nativos da Amazônia, do cerrado, do nordeste e do sul do Brasil, do povo Watu e dos parentes de Abya Yala, sabem que a Terra sem Males está nos esperando. A tartaruga primitiva que caiu da árvore sempre nos dará instruções para encontrarmos o caminho. O Beija-flor, que nos traz esperança e nos ensina a cuidar de nossa gente, prometeu nunca nos abandonar. Por causa de nossos ancestrais, os Seres do Trovão, conforme diz a sabedoria guarani, disseram:

"Nós e nossos filhos renasceremos pela Terra e, nesse renascer, forneceremos Palavras-Alma para o solo, os sons que caminham cantarão vidas, cada um no seu próprio tom. ‘Depois da fusão do espaço e do alvorecer de um novo tempo, farei com que as Palavras-Alma voltem a circular pelos ossos que estiverem de pé, e as almas se encarnarão novamente’ – disse o nosso Primeiro Pai, Tupã. – ‘Quando isso acontecer, Matis, nossa primeira mãe, nascerá no coração do desconhecido, e a primeira adornado de novo se levantará na morada terrestre em toda a sua extensão.' "

Já ouvimos falar de Parinai'a, os A'uwẽ-Xavante wapté pré-iniciados meninos que se transformaram para criar todas as coisas que os A'uwẽ-Xavante sabem. Eles se transformaram para criar cães, onças, formigas, abelhas e todos os alimentos: peixes, batatas, nozes, babaçu, cocos macaúba. Eles trouxeram tudo à existência. Como Parinai'a, através da transformação, nós indígenas nos adaptamos e persistimos. Assim como esses ancestrais, nós vamos permanecer.

Nossos velhos nos contam histórias de renascimento, regeneração e transformação. Essas histórias nos ensinam muitas coisas. Elas nos instruem a educar todos os membros de nossas comunidades para que a gente compreenda os muitos sinais que sinalizam o colapso da sociedade ocidental. Eles nos lembram que devemos ser mais cautelosos do que nunca no desejo de fazer parte deste sistema. O povo Anishinaabe da América do Norte conhecia um Windigo, um espírito canibalizado impulsionado pela cobiça, excesso e consumo egoísta. As pessoas aldeadas sabiam desse espírito e tinham cerimônias para que o Windigo não crescesse e se propagasse. Quando os europeus entraram neste continente, o ganancioso Windigo floresceu.

"Ojibwe cosmos" Povo Anishinaabe

Uma profecia dos Lakota fala da Águia e do Condor. Estes grandes pássaros representam um despertar do povo e a união entre norte e sul. Acompanhamos isso em Standing Rock, Dakota do Sul, quando os povos do norte e do sul se uniram para protestar contra um oleoduto nas terras do povo Lakota. O Condor também representa os povos indígenas e o coração. A Águia, os europeus e a mente. Esta é uma história de conexão e apoio. Faz-nos lembrar da importância de estarmos juntos, mesmo quando parecemos contrários. Também nos lembra que é essencial desenvolvermos a capacidade de navegar de forma inteligente e crítica entre os universos indígenas e não-indígena. Ao fazermos isso, somos capazes de manter nossa identidade indígena e a soberania enquanto povos.

"Quando um gato começa a latir" – diz Tom Belt, um ancião cherokee e falante das primeiras línguas –, "ele fundamentalmente não é mais um gato". Os Cherokee alertam àqueles que encontram animais que mudam de forma na floresta, como ursos ou panteras, que se viverem muito tempo com o animal que encontraram, começarão a assumir a natureza desses animais. E depois de um certo ponto, quando tentarem voltar para suas aldeias humanas, morrerão.

Atos Memoráveis de Resistência

Há 27 anos a Assembleia Nacional Constituinte foi marcada pela defesa da Emenda Popular da União das Nações Indígenas. No dia 04 de setembro de 1987, o porta-voz do emergente Movimento Indígena fez um discurso histórico que logrou reverter a conjuntura política anti-indígena naquela legislatura do Congresso Nacional brasileiro. O pronunciamento contundente do defensor Ailton Krenak, com a presença de espírito do gesto de luto, foi ato decisivo para a aprovação dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988 pelos parlamentares constituintes.

Assim como vocês, também nós, povos indígenas que vivem no norte, fomos vítimas de invasão, genocídio e abuso. Sofremos uma infinidade de atos flagrantes e desumanos pelos opressores. Compartilhamos uma história comum. Desde as invasões de Cristóvão Colombo, Pedro Álvares Cabral e outros europeus há mais de 500 anos, nossa população diminuiu, assim como o tamanho de nossos territórios, águas e florestas. Infelizmente, pandemias e epidemias não são novidade para nós.

É importante que possamos nos engajar para resistirmos à disseminação do COVID-19 nas nossas comunidades, seja pela nossa própria gente ou por forasteiros. Devemos nos envolver em ações para prevenir, sobreviver e superar. Foram muitos os grandes guerreiros, professores, intelectuais, líderes políticos e espirituais de diversas aldeias. Ouvimos falar também de alguns dos seus grandes heróis e episódios também, tais como Caramuru, Tapuios, Emboabas, Manaus, o guerreiro Ajuricaba, a Cabanagem. Também nos lembramos dos tratados de paz que firmamos e que muitas vezes foram desconsiderados pelos colonizadores. E nos recordamos que, como política de sobrevivência e resistência, transformamos as reduções em retomadas para recuperar as nossas terras roubadas.

Carece lembrar que o milenar povo Guarani, e outros parentes, empenharam uma forte resistência aos bandeirantes que cruzaram as fronteiras entre os estados-nação hoje distintos. As pequenas e belas aldeias guaranis da monstruosa cidade de São Paulo são um exemplo da força e persistência indígena em sua vontade de sobreviver.

Testemunhos mais recentes da firmeza dos indígenas brasileiros para resistir às forças da colonização são a tenacidade do amado Mário Juruna, com seu gravador de fitas a exigir a prestação de contas das lideranças não indígenas; o corajoso discurso de Ailton Krenak na Assembleia Constitucional de 1988; a destemida irmã Tuira Mebêngokrê, que empunhou o seu facão na face do representante da Eletronorte enquanto gritava: "O governo não vai nos dividir!"; a grandeza do amado Cacique Raoni; os escritos pacifistas de Daniel Munduruku; e a juventude inteligente e ativista que agora usa arte, mídia e música; Eles são todos exemplos inspiradores. Este documento homenageia os nossos gigantes históricos e constrói a ancestralidade do amanhã.

Atos de Cura

Lembre-se que nós, indígenas e primeiras nações, somos pessoas resilientes. Sobrevivemos à colonização, à assimilação forçada, ao genocídio e às epidemias passadas. Nossas culturas, nossos ritos, nossos medicamentos, nossas línguas e nosso senso de coletividade contribuíram para a sobrevivência. Ainda temos esses recursos para usar. Eles estão vivos em nós, em nossas memórias genéticas, em nossos anciãos. Somos descendentes de um DNA ancestral. Viveremos neste tempo porque vivemos momentos como este no passado.

A felicidade advém da conexão e da compreensão, com o objetivo de alcançar a união. Ainda podemos fazer isso, mas devemos fazê-lo nos distanciando fisicamente, usando máscaras e ficando em casa com mais frequência do que gostaríamos. Práticas contemplativas como a meditação, a oração e as cerimônias de cura ajudam a prevenir a depressão e a ansiedade. O despertar do conhecimento e dos insights perceptivos nos auxilia a encontrar o caminho, nos ajuda com a auto-conexão, no trato com os outros e com todas as coisas do universo. Isso é cura e também prevenção para depressão e ansiedade.

Alguns de nós realizaram uma série de oficinas, Arte como Cura, na primavera passada. Certos membros da comunidade, após uma jornada de oito semanas para encontrar a sabedoria de uma história tradicional, foram motivados a escrever as próprias histórias. Doze adolescentes, adultos e idosos investigaram como a sabedoria antiga se aplicaria diretamente ao que eles enfrentam hoje em suas vidas. Entre as personagens das narrativas, incluíram um ganso mensageiro que perdeu seu rebanho, uma filha de palmeira que tinha terras e aliados animais e uma avó que iluminava histórias de coiotes, um ser precioso em muitas de nossas tradições. Adquirir sabedoria implica em lembrar quem você é, que ninguém nunca parte verdadeiramente, que a vida é transformação, trazendo compaixão à luta, por uma vida boa e feliz.

Também precisamos lembrar de nossa medicina. Na América do Norte, usamos tabaco, cedro, capim doce, sálvia, peiote e muitos outros fármacos que nossa Mãe Terra nos dá. Além dos benefícios medicinais, muitas plantas indígenas já foram um dos pilares da nossa dieta. As plantas indígenas são centrais nos esforços para melhorar a saúde alimentar das gerações atuais. Neste sentido, alimentos selvagens e culturas agrícolas tradicionais são medicinais. Para muitos de nós, a água é o primeiro remédio. Foi nosso primeiro ambiente e pode trazer outras substâncias na forma de chá, para purificar o sangue. Há toda uma ciência indígena envolvida nisso.

Não se esqueça de participar dos rituais, o máximo que puder. Mesmo que as cerimônias não possam ser realizadas pessoalmente, faça o melhor que puder por conta própria. Reserve um espaço sagrado em sua casa ou no quintal. Reze e medite à sua maneira.

Entoe suas canções e recite suas rezas, lembre das palavras dos seus ancestrais e guardiões da sabedoria. Algumas nações têm recursos online de aprendizagem de idiomas. Os espíritos da terra em que você vive não se baseiam nas línguas dos colonizadores. Eles usam as línguas dos ancestrais indígenas que ali habitaram.

Se puder, crie um jardim. Agora a oportunidade é perfeita para cultivar alimentos tradicionais. A jardinagem é comprovadamente um exercício terapêutico, bom para o corpo, mente e espírito.

Crie e alimente uma relação com a Terra sobre a qual você vive, o céu e as estrelas acima de você, as plantas, águas e animais no seu entorno. Todos têm o que ensinar àqueles que sabem ouvir. Os indígenas têm um profundo saber e conexão com o lugar de origem.

Faça muito exercício. Saia ao ar livre, coloque os pés na Terra, caminhe, corra, respire ar fresco e absorva os raios benfazejos do sol que restauram e amparam no combate à depressão. São medicamentos também. Pesquisas mostram que a vitamina D pode ajudar a prevenir ou diminuir os efeitos do COVID-19. O sol ajuda nosso corpo a fabricar vitamina D. Mas é importante não se expor ao sol em demasia.

Faça check-in nos mais velhos por telefone, por texto ou os visite num espaço seguro e fisicamente distanciado. Certifique-se de que você e eles estão usando máscaras faciais. Converse com eles, peça que ensinem o que sabem ou que contem uma história. Nossos anciãos são tesouros especiais e únicos.

Use o humor. Rir, sorrir, ter em mente pensamentos positivos e agradáveis, e conversar sempre em casa ou quando você fala ao telefone faz muito bem. Sempre que os povos indígenas se reúnem, há sempre muita risada. Rir é um santo remédio.

Toda língua indígena tem uma ou mais palavras que traduzem o sentimento de estar em paz, equilibrado, em harmonia. Aprenda essas palavras e as pronuncie. Perceba como elas se aplicam à natureza e as aplique à própria vida.

Pratique a gratidão. Muitos rituais são verdadeiras celebrações de ação de graças. Todos os dias, faça uma lista de cinco coisas pelas quais você é grato. Pratique a gentileza, seja compassivo. Se você sabe como dizer "obrigado" em sua língua, utilize a expressão muitas vezes ao dia.

Mantenha-se conectado com seus ancestrais. O vencedor olímpico de Oglala Lakota, Billy Mills, credita a conquista da medalha de ouro dos 10.000 metros de 1964 à conexão ancestral com seu pai, que morreu quando ele tinha doze anos. Sua presença se manifestou quando Billy participava da prova. A autoconsciência ancestral cura.

Fechamento

Há uma oportunidade para mudar o curso da história, sobreviver e prosperar durante a pandemia de COVID-19. Estamos agora em posição de vislumbrar um novo mundo indígena, ainda mais tenaz, corajoso e determinado a sobreviver. Imaginamos e prevemos um mundo onde os povos indígenas combinem as antigas práticas com as contemporâneas para enfrentar e superar os desafios do porvir. Assim já fizemos antes e podemos fazer de novo.

Os povos indígenas sobreviveram por muito mais tempo do que este mundo colonizado tem existido. Sabemos como enfrentar dificuldades e como nos adaptar ao que é necessário para sobreviver. Os indígenas sobrevivem contra todas as probabilidades. Nós sempre suportamos devido a nossa grande resiliência. Os recursos que usamos para sobreviver são práticas contemplativas, artes, canto, dança, pintura, desenho, cerimônia. Tudo o que está ligado à coletividade.

Descobrimos que as comunidades indígenas que melhor se saíram durante a pandemia de COVID-19 têm se aproximado das comunidades de fora e se engajaram nos protocolos de saúde pública, que podem comprovadamente impedir a propagação do vírus:

(1) Povos indígenas que usam máscaras faciais protetoras são muito menos propensos a contrair o vírus;

(2) Aqueles que minuciosamente lavam as mãos quando saem de suas casas e quando voltam para casa;

(3) Aqueles que praticam o distanciamento físico de pelo menos 2 metros tiveram menos chance de serem infectados. No entanto, agora sabemos que as gotículas de uma pessoa infectada pelo COVID-19 podem viajar até 4 metros se um indivíduo tossir forte ou espirrar, razão pela qual as máscaras faciais são essenciais para usar o tempo todo;

(4) Aqueles que estão evitando encontros com outros são menos propensos a contrair a COVID-19, porque o contato de pessoa para pessoa é a principal maneira que a doença se espalha;

(5) Aqueles que limpam e desinfectam seus espaços de convivência estão mais protegidos do vírus. É muito importante estar atento à limpeza. Isso deve ser feito sempre que alguém sai de casa para um novo espaço ou se alguém passa para visitar; e finalmente

(6) Embora seja muito difícil para nossas emoções e bem-estar, é muito importante que todos fiquem em casa, salvo quando for absolutamente necessário sair.

Neste momento, a todos desejamos a mais plena saúde, abundância, felicidade e força para sobreviver a essa pandemia e a outras futuras eventuais. Vamos manter todos em nossos pensamentos enquanto lutamos durante este período desafiador, lembrando que estamos juntos nessa, e que faremos o que pudermos de útil e solidário a vocês.

Sobre os Autores

ChiiRA ti Iditat ti Inani (Saudações, minhas irmãs e meus irmãos)! Meu nome é Michael Yellow Bird. Meu nome Arikara é NeshunNuunat' Taawaay Ti Naahuun' (Chefe Entre Muitos). Sou reitor e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade de Manitoba,Winnipeg, MB, Canadá. Sou um membro matriculado das Três Tribos Afiliadas (Mandan, Hidatsa, Arikara) do estado de Dakota do Norte, EUA. Meu trabalho tem como foco a decolonização, as abordagens contemplativas e conscientes indígenas e a saúde ancestral.

Nya;weh sgeno swagegoh (Saudações, agradeço todos vocês)! Meu nome em inglês é Jim Wikel. Hah No Nigoha Esh ni giyaso (Meu nome é Hah No Nigahoa Esh, que significa “Sua Mente Está Mudando”). Otahyoni niwag^esyao^de: ou seja, o Lobo é do meu clã) Onodowa^ga:ˆ Gayogoho:no^ ni Ganiwyo'geho:weh niwagohwej^ode (Seneca-Cayga Nation of Oklahoma is my Nation). Venho da Confederação Haudenosaunee (Povo de Longhouse), conhecida como Confederação Iroquois ou As Seis Nações.

Siyo, dagwado'nole Tsitsalagi. ᏏᏲ! ᏓᏆᏙᎠ ᏃᎴ ᏥᏣᎳᎩ (Olá!) Meu nome é Lianna Costantino e sou cidadã da Nação Cherokee de Oklahoma. Sou avó e defensora de longa data da soberania e saúde indígenas. Sou contadora de histórias cherokee e uma médica de emergência. Desejo a todos nós paz, equidade, harmonia e felicidade.

Meu nome é Renda Dionne Madrigal. Sou Turtle Mountain Chippewa e me casei com a Aldeia Cahuilla. Sou psicóloga, terapeuta dramática licenciada, facilitadora do Mindfulness, autora e contadora de histórias. Meu trabalho integra mindfulness, experiência somática (baseada no corpo) e artes criativas (narrativa, terapia teatral e contação de histórias) como modalidades de cura voltadas para lembrar nossa humanidade.

Meu nome é Eliane Potiguara, do povo Potiguara no Brasil. Sou escritora, poeta, professora e especialista em Educação. Sou a fundadora da primeira organização de mulheres indígenas: GRUMIN/Grupo De Mulheres Indígenas para Educação (1988). Sou Embaixador da Paz para o Círculo de Embaixadores da França e da Suíça. Em 2014, recebi o título de "Cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural" do governo brasileiro. Em 2019, ganhei o Prêmio Pen CLUB da Inglaterra e o Prêmio de Livre Expressão.

Editor

Meu nome é Laura Rea Graham. Sou antropóloga, cineasta e parceira não indígena no movimento indígena por direitos e respeito. Vivi e estudei com o povo A'uwẽ-Xavante do Brasil por muitos anos e, mais recentemente, com os Wayuu da Venezuela. Sou professora de antropologia na Universidade de Iowa, presidente eleita da Sociedade para a Antropologia da Lowland South America e sirvo no conselho de administração da Cultural Survival.

Coordenador

Meu nome é Edson Krenak, do Povo Krenak Naknanuk do Watu, o lugar dos meus antepassados no Brasil. A Aldeia Vanuíre é a casa dos meus parentes e amigos mais próximos. Meu papel foi coordenar os encontros entre os autores aqui listados, traduzir e ajudar a distribuir este documento. Também participei de todas as sessões junto de nossos parentes e amigos responsáveis por esta carta. Muitos outros não foram aqui citados porque assim preferiram, por não terem participado de todas as reuniões, mas sua sabedoria e simpatia selam este documento.

Ilustrador

Meu nome é Mauricio Negro. Sou artista visual, escritor, designer, pesquisador, coordenador de projetos e gestor cultural. Minha produção de mais de trinta anos é marcada pelo contorno socioambiental, pelas abordagens visuais não eurocêntricas de narrativas indígenas tradicionais e poéticas contemporâneas e sobretudo pela diversidade natural e cultural do Brasil. Além de frequente colaborador, sou um aliado defensor das perspectivas indígenas.

Casa Editorial

A Cultural Survival é uma ONG liderada por indígenas, sem fins lucrativos e registrada nos EUA, que defende os direitos dos povos indígenas e apoia a autodeterminação, as culturas e a resiliência política das comunidades indígenas, desde 1972. Há mais de 48 anos, a Cultural Survival tem parceria com comunidades indígenas para promover os direitos dos povos indígenas em todo o mundo. Vislumbramos um futuro que respeite e honre os direitos inerentes dos povos indígenas e culturas dinâmicas, profunda e ricamente entrelaçados em terras, línguas, tradições espirituais e expressão artística, enraizadas na autodeterminação e no autogoverno. O cerne de nossos esforços recai sobre os princípios de apoio, ampliação dos esforços e conscientização da autodeterminação das comunidades indígenas.

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Mauricio Negro
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