"Há muito que as campainhas deixaram de assinalar o início e o fim de aula e é um relógio na parede que indica se é tempo de entrar. E a partir do momento em que entram todos sabem o que têm de fazer: sentar, abrir a mochila e tirar o livro. Não o que tem a matéria que vão dar a seguir, mas o que cada um escolheu para ler naquele tempo. Não interessa qual. Pode ser um livro de aventuras, um romance, uma banda desenhada. O que importa é que leiam. [...] É do mais simples e eficaz que se pode fazer, acredita a mediadora de leitura Andreia Brites." Isabel Leiria, Expresso (2465), 25/01/2020
"Para se criar um leitor é fundamental incutir hábitos de leitura. Conquistar o entusiasmo dos mais novos por um livro não é difícil. Fazê-los ganhar o hábito é que é mais complicado." Andreia Brites, Expresso (2465), 25/01/2020
Projeto Read On - Projeto europeu destinado a promover a leitura entre os jovens dos 12 aos 19 anos e que inclui a atividade 10 Minutos a Ler. Em Portugal, o projeto é desenvolvido pelo Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté.
«É preciso explicar às pessoas ..., é preciso explicar aos pais e educadores o que eles podem fazer para preparar a criança para a leitura, dar-lhe o gosto das letras, incentivar as suas iniciativas de escrita, fazer-lhe sentir o lado expressivo da língua. (...) O futuro da leitura está nas nossas mãos e na determinação da nossa ação.» José Morais (1995), A Arte de Ler
"O caminho do leitor é comparável ao percurso de um rio que, da nascente à foz, se vai alimentando de vários afluentes, conquistando gradualmente a sua "voz". José António Gomes (1996), Da Nascente à Voz- Contributos para uma pedagogia da leitura.
Várias são as referências ao poder da leitura - The power of reading - Stephen D. Krashen (2004), professor e defensor da leitura livre e voluntária (Free Voluntary Reading); o artigo “El poder del libro y la lectura” de Kepa Osoro Iturbe (2004); “Ler é poder” - título do dossiê n.º 68 da revista Noesis. Referindo-se à leitura como prazer, Christian Poslaniec (2005), investigador e autor de numerosos álbuns, romances, novelas e ensaios, afirma, em Incentivar o prazer de ler, que “os livros são uma fonte considerável de poder do imaginário” (p. 7).
Biblioteca escolar
(3) Locais de formação e desenvolvimento da competência leitora condição de todo o conhecimento.
As bibliotecas proporcionam o contacto estreito e regular com o livro e a prática da leitura, enquanto instrumentos privilegiados de aprendizagem e treino da compreensão leitora. Aprender a ler e ler para aprender são princípios básicos da formação de leitores competentes. Estas aptidões são estruturantes e nucleares para a aquisição de conhecimento e determinantes nos percursos escolar e educativo dos alunos. A biblioteca, através da sua ação e mediação, contribui significativamente para a melhoria qualitativa da aprendizagem e para o domínio das capacidades leitoras.
(4) Focos difusores do gosto e do prazer de ler, fundamentais à construção de hábitos de leitura.
Abertas à criatividade e ao conhecimento, as bibliotecas incentivam o trabalho em torno do livro, da leitura e das diferentes expressões associadas à leitura, assumindo‑se como lugar de construção pessoal e de formação de leitores críticos e autónomos.As bibliotecas escolares criam uma cultura da leitura, impressa e digital, explorando recursos, equipamentos tecnológicos e estratégias capazes de enriquecer as experiências de cada leitor e de promover o gosto e o prazer de ler. Programa Rede de Bibliotecas Escolares. Quadro estratégico: 2014-2020, pp. 13-14
REFORÇO DA LEITURA POR PRAZER
Favorecendo a existência de espaços, tempos e oportunidades ‑ formais, não‑formais e informais ‑ para exercitar a prática e o gosto de ler.
As boas competências de leitura, o sucesso educativo e a leitura por prazer estão indissociavelmente ligados. Temos de encorajar as crianças e jovens a tornarem‑se leitores autónomos, independentemente do suporte de leitura que escolham.
A aquisição de hábitos e do gosto pela leitura exigem a prática sistemática e regular da leitura, o envolvimento emocional e a motivação intrínseca dos leitores através de um exercício livre e voluntário que estimule os indivíduos a, progressivamente, lerem cada vez mais e melhor.
Não se nasce leitor. Tornamo‑nos leitores, mas o mais difícil é permanecermos leitores.
Através do acesso facilitado a leituras significativas e de iniciativas diversificadas de carácter informal procurar‑se‑á incentivar o prazer de ler e formar leitores para a vida. Quadro Estratégico Plano Nacional de Leitura 2027, p. 23.
"O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo «amar»... o verbo «sonhar»... [...] A leitura é um ato de criação permanente." Daniel Pennac ( 1992), Como um romance.
"A capacidade e o gosto de ler resultam de uma educação com início nos primeiros anos de vida." José António Gomes (1996), Da Nascente à Voz- Contributos para uma pedagogia da leitura.
[A escola] é a única estrutura social onde estão reunidas - por obrigação escolar - todas as crianças, leitoras e não leitoras. [...] Ora nenhuma outra instituição a não ser a escola poderá ter um impacto massivo em direção aos não leitores. [...] É preciso, portanto, regressar à escola, se quisermos realmente dirigir-nos aos não leitores: escolarizar a leitura." Christian Poslaniec, Incentivar o prazer de ler
"Na escola, Pinóquio aprendeu a ler, mas não se transformou num leitor. [A]pesar de ter aprendido a descodificar o alfabeto, não aprendeu a ler em profundidade. O que faltaria a Pinóquio para aprender a ler de uma forma que lhe permitisse pensar?" Alberto Manguel (2007)
"A saga do boneco representa a educação de um cidadão [...] Pinóquio quer ser “um menino de verdade”, mas não um menino qualquer, não uma versão obediente do cidadão ideal. Pinóquio quer ser o que é, por baixo da madeira pintada. Por azar não o consegue. Pinóquio converte-se num bom menino que aprendeu a ler, mas não num leitor. (...) O primeiro passo para Pinóquio se converter em cidadão é aprender a ler. Mas o que significa aprender a ler?" Alberto Manguel, "Como Pinóquio aprendeu a ler" (2007)
Noesis, n.º 68, 2007 - Comunicação proferida por Alberto Manguel no Seminário Internacional sobre Bibliotecas Escolares, organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em Setembro de 2006 e publicada nesta revista.
APRENDER A LER IMPLICA:
• Primeiro, a aprendizagem do processo mecânico do código de escrita no qual está codificada a memória de uma sociedade;
• Segundo, a aprendizagem da sintaxe pela qual esse código se rege;
• Terceiro, a aprendizagem da forma como as inscrições nesse código servem para conhecer, de uma maneira profunda, imaginativa e prática, a nossa identidade e o mundo que nos rodeia.
Esta terceira aprendizagem é a mais difícil, a mais perigosa e a mais poderosa – é aquela que Pinóquio nunca alcançará. Todo o género de pressões – as tentações com que a sociedade o afasta da sua meta, as troças e os ciúmes dos companheiros, os conselhos frios dos seus guias morais – criam a Pinóquio uma série de obstáculos quase insuperáveis para se converter em leitor.
A linguagem pode permitir ao falante permanecer na superfície do pensamento, repetindo slogans dogmáticos e lugares comuns a preto e branco, transmitindo mensagens em vez de significado [...] ou pode ajudá-lo a recriar uma experiência, a dar forma a uma ideia, explorando-a em profundidade. [...] Apesar de todas estas limitações – as diversões, o desdém e o abandono – , Pinóquio consegue subir os dois primeiros degraus da escada da aprendizagem da sociedade: aprende o alfabeto e aprende a ler um texto superficialmente, parando nesse ponto. [...] Não vendo os livros como fontes de revelação, estes nunca lhe irão devolver a sua própria experiência reflectida. A única coisa que pode fazer é recitar,como um papagaio, o texto do manual." Alberto Manguel, "Como Pinóquio aprendeu a ler" (2007)
Pinóquio limita-se apenas a descodificar os textos e a recitar o manual como um papagaio, sem, no entanto conseguir “entrar num livro e explorá-lo até aos seus limites”, tal como acontece com outra heroína do imaginário infantil, criada por Lewis Carroll, Alice.
"A experiência de leitura do Pinóquio é exactamente oposta à de uma outra heroína – Alice. No mundo de Alice, a linguagem recupera a sua ambiguidade essencial e qualquer palavra pode usar-separa dizer o que o falante deseja. [...] Enquanto no mundo de Pinóquio o significado de uma história impressa é inequívoco, no mundo de Alice o significado de qualquer palavra depende da vontade do seu leitor." Alberto Manguel "Como Pinóquio aprendeu a ler" (2007).
“Alice começava a sentir-se muito cansada por estar sentada no banco, ao lado da irmã, e por não ter nada que fazer. Mais do que uma vez espreitara para o livro que a irmã estava a ler, mas este não tinha gravuras nem conversas... «E para que serve um livro que não tem gravuras nem conversas?» (Lewis Carroll (1990), Alice no País das Maravilhas. Lisboa: Publicações D. Quixote, p. 5).
O ato de ler
Ler - Vocábulo de dimensão polissémica, assim o demonstra Alberto Manguel ao referir-se, em Uma história da leitura (1998), ao astrónomo a ler um mapa de estrelas que já não existem; ao arquiteto a ler a terra onde uma casa vai ser construída; ao jogador de cartas a ler o gesto do seu parceiro antes de arriscar a carta decisiva; ao tecelão a ler o desenho complicado de um tapete a ser tecido; aos pais a lerem no rosto do bebé sinais de alegria, medo ou surpresa; ao lavrador a ler no céu o tempo que vai fazer, considerando que todas estas pessoas “partilham com o leitor de livros a capacidade de decifrar e traduzir signos”.
Subjacente à leitura encontra-se, então, a “possibilidade e a intencionalidade de comunicar uma qualquer mensagem a alguém” (Sim-Sim, 2006: 35)
Delimitar o conceito ao domínio linguístico - leitura indissociável da escrita - reconhecimento e decifração das palavras e do seu respetivo significado, bem como a sua interpretação/compreensão.
LER = Cognição e motivação
LER é uma operação na qual o leitor concreto tem um papel a desempenhar tão importante como o do próprio texto; é um diálogo entre o imaginário [...] e aquilo que o texto traz." Poslaniec (2006), p. 9
+++ LIVROS e VIVÊNCIAS +++
"El "placer de leer" se hace, pues, poco a poco; y somos los adultos los que tenemos que poner los medios para que los niños puedan llegar a tenerlo um día." Cerrilo et al. (2002) Libros, lectores y mediadores
A aquisição da linguagem, “privilégio da espécie” (Pennac, 2001: 43), processa-se, de forma natural e gradual, a partir dos primeiros meses de vida.
Processo de aprendizagem da leitura e escrita - dois paradigmas:
- Maturacionista - “prontidão para a leitura” (reading readiness) - acreditava-se que a criança só devia beneficiar da instrução quando estivesse mentalmente “madura”.
- Literacia emergente (conceito remonta a 1966) - o interesse pelas experiências linguísticas que ocorrem na primeira infância, fase crucial para aprendizagem formal da leitura.
A capacidade de ler - aquisição cultural fortemente influenciada pelo contexto social em que a criança se desenvolve. Um processo contínuo, cujo sucesso é determinado, em grande parte, pela ação diária e deliberada de pais e educadores.
Comportamentos emergentes de leitura: interação verbal; leitura e posterior discussão de histórias, o manuseamento de materiais impressos e artigos de escrita.
Contávamos-lhe histórias desde que começou a falar. [...] A sua felicidade animou-nos. [...] Inventámos um mundo para ele. [...] [E]nsinávamos-lhe tudo o que se pode ensinar acerca do livro, numa altura em que ele ainda não sabia ler. Abrimos-lhe até ao infinito uma enorme diversidade de coisas imaginárias, iniciámo-lo nas alegrias da viagem vertical [...]. O seu apetite de leitor era espantosamente grande, a ponto, recordemos, de ele ter pressa em aprender a ler! [...] A história lida todas as noites constituía a mais função da oração, a mais desinteressada [...]. E era gratuito. [...] A gratuitidade é única moeda da arte. [...] Vergonhosamente, também fizemos batota [...] - Se continuas, logo à noite não há história. [...] O contador de histórias esgotara a paciência, e estava ansioso por passar o testemunho.” Daniel Pennac (2001: 15, 17, 31, 36, 37).
"A escola veio mesmo a propósito. O futuro ficava nas suas mãos. Ler, escrever, contar... [...] Será que nos deixámos cegar por este entusiasmo? Acreditámos que bastava gostar das palavras para que uma criança dominasse os livros. [...] Agora ele já era "crescido", podia ler sozinho, caminhar sozinho pelo território dos signos [...]. (pp. 38, 43)
"O que fizemos nós do leitor ideal que ele era no tempo em que nós desempenhávamos simultaneamente o papel de contador de histórias e de livro? [...] Éramos os contadores, passámos a ser os contabilistas." (pp. 48, 50)
"É preciso ler, é preciso ler... E se em vez de exigir leitura o professor decidissse de repente partilhar o seu prazer de ler? Prazer de ler? O que é isso?" (p.77)
"Ele [Perros] chegava às terças-feiras de manhã [...] esvaziava um saco de livros em cima da mesa. [...] Andava enquanto lia [...] As suas leituras eram autênticos presentes. Não nos pedia nada em troca. [...] Era a caixa de ressonância natural de todos os livros [...] Por intermédio da sua voz, nós descobríamos, de repente, que tudo aquilo tinha sido escrito para nós. [...] A sua voz, como a dos trovadores, dirigia-se a um público que não sabia ler. Abria olhos. Acendia lanternas. [...] O mais importante era ele ler para nós em voz alta. [...] Não há idade para este género de delícia." (pp. 83, 84, 88, 104)
"O verdadeiro prazer do romance consiste na descoberta desta intimidade paradoxal: o autor e eu. ... A solidão da escrita que exige a ressurreição o texto pela minha própria voz muda e solitária. Aqui , o professor não é mais do que um casamenteiro. Chegou o momento de se esgueirar em bicos de pés." (p. 115)
Os Direitos inalienáveis do leitor (Pennac)
1. O direito de não ler.2. O direito de saltar páginas.3. O direito de não acabar um livro.4. O direito de reler.5. O direitos de ler não importa o quê.6. O direito de amar os "heróis" dos romances.7. O direito de ler não importa onde.8. O direito de saltar de livro e livro.9. O direito de ler em voz alta. 10. O direito de não falar do que se leu.
1.
Isabel Nina
Credits:
Criado com imagens de Arif Riyanto - "A girl in the library wanna picks some books." • LeifHjort - "the hand adult human" • cocoparisienne - "pinocchio holzfigur figure" • John-Mark Smith - "untitled image" • Jaredd Craig - "Spent a week in Los Angeles with my friends and decided to visit the Last Bookstore as one of our stops. I came up with the idea of floating the book with help of my friend. I took two shots one without the book and one with the book being held up from my friend. Photoshopped his arm out of the shot later in post and this was the outcome." • Ben White - "untitled image" • Shitota Yuri - "charming girl" • Jerry Wang - "untitled image" • Luiza Braun - "Young man who loves to read " • Ewan Robertson - "Research is always a key part of any successful journey. Whether you wear glasses as I do or not, I believe it’s essential to see clearly, to have an open mind and remain balanced in your thinking. Learn from others experiences, mistakes and above all have fun while doing it!" • Diego PH - "The focus" • Gaelle Marcel - "untitled image" • Heber Galindo - "untitled image"